Jcd, do Blasfémias, a propósito da publicação deste livro, comenta dois livros: o «Horror Económico» de Viviane Forrester e «No Logo» de Naomi Klei. Ambos foram êxitos de vendas. No entanto, talvez devido aos largos anos que nos separam da sua publicação, jcd parece não lembrar-se bem do que leu na altura. Todos os livros podem, e devem, ser escrutinados criticamente, mas não vale estar a «ler» o que não está lá.
O «Horror Económico» não parte da premissa de «que as pessoas vivem cada vez pior e que estamos mais pobres do que estávamos há 100 ou 200 anos». O livro, centrado na realidade francesa, parte sim das elevadas taxas de desemprego a que, países como a França, pareciam condenados. A comparação faz-se, por isso, com o quase pleno emprego de há 30 anos.
O livro tem, contudo, muito por onde se criticar. Parte de uma premissa falsa ao associar desemprego estrutural ao actual paradigma tecnológico. E, por isso, cai também em vários equívocos em relação às alternativas que propõe. Ao contrário do que jcd afirma, Forrester não defende o fim do capitalismo, mas sim a redução do horário de trabalho (que se veio a verificar no governo Jospin) e a revalorização de um conjunto de serviços sociais criadores de emprego. Quanto ao uso de produtos derivados na «economia de casino», acho que a recente crise financeira é eloquente o suficiente...
«No Logo», de Naomi Klein, é um livro bem mais valioso. Embora peque pela ausência de qualquer teorização, Klein consegue, descrever o modus operandi das grandes multinacionais e, mais uma vez, ao contrário do que jcd afirma, não se esquece dos trabalhadores destas empresas no extremo-oriente. No que considero ser a melhor parte do livro, Klein descreve as terríveis condições de trabalho nas zonas especiais dedicadas ao investimento estrangeiro.
Finalmente, temos o ataque a Ramonet, director do Le Monde Diplomatique, e às suas supostas previsões catastrofistas sobre o fim do capitalismo. Há muito tempo que me habituei a ler Ramonet, em artigos e livros, e nunca lhe li tal formulação. Aliás neste caso não são apresentadas quaisquer referências. Aconselho então jcd a tirar de novo os livros que critica das sua estantes e a lê-los de novo antes de se decidir a escrever disparates preconceituosos.
Não estou perto dos livros (nem tenho grande vontade de relê-los, diga-se de passagem), mas a minha memória não está assim tão má. Sobre Ramonet, lembro-lhe esta prosa da altura da crise asiática, que, lida hoje, até dá vontade de rir...
ResponderEliminar"The shockwave of financial crisis which began in Thailand on 2 July 1997 appears to hang in suspense. But this is an illusion. Globalisation of the world economy has created an interdependence between national economies, and the knock-on effects of crisis are therefore that much greater. The truth is we do not know where the domino effect will strike next.
For the moment all eyes are set on China, particularly since Japan?s decision to devalue its currency in the face of threatening recession. The lowering of the value of the yen has had a destabilising effect throughout the region and has led automatically to an over-valuation of China?s currency, the yuan. Sooner or later this will force Beijing to devalue, despite repeated promises to the contrary from Prime Minister Zhu Rongji.
For 20 years China?s growth rates have been above 10%; in 1998 according to official figures they fell below 8%, and were actually lower than 5%. As for foreign direct investment, in 1998 this saw a fall of 25%.
Of course, the fact that its currency is only partly convertible protects China from speculation. But in a year that will see, in June, the 10th anniversary of the Tiananmen Square massacre and, in October, the 50th anniversary of the founding of the communist regime, it is quite likely that we shall also see a devaluation of the yuan. This would threaten the Hong Kong dollar (the value of which is now pegged to the US dollar), and could set off a new spiral of devaluation in the region as a whole, thereby threatening the overall equilibrium of several of the world?s key economic regions."
Que grande analista me saiu este Ramonet...
O que é que lhe dá vontade de rir nesta prosa? Repare como está escrita: indica apenas uma possibilidade e nada diz sobre o colapso do sistema capitalista. Tem de se esforçar mais. Apenas fala sobre os eventuais perigos para a estabilidade da economia chinesa e da economia global de certos processos. Isto num contexto de grande incerteza. E indica um elemento que haveria de ser destacado por todos mais tarde: «Of course, the fact that its currency is only partly convertible protects China from speculation». O que aliás é coerente com as coisas que sempre escreveu. Continue a procurar.
ResponderEliminarO que me dá vontade de rir é o óbvio falhanço das previsões de Ramonet. Claro que podemos sempre minimizar a prosa do Inácio, como o João o faz, mas o que o Ignacio escreveu neste artigo é uma tentativa entre tantas outras de encontrar os sinais da queda do capitalismo (o tal que se destruirá a si próprio), a desejar que a China parasse o seu crescimento (5% em 1998? pois).
ResponderEliminarE claro, que as previsões do Inacio são todas em forma do talvez. "Talvez" venha aí uma nova espiral de desvalorizações que dará cabo do equilíbrio global de várias regiões...
Bem, não veio nada e passado um ano já ninguém se lembrava da crise asiática.
"Talvez" ainda vá espreitar o que é que o Inácio anda a escrever sobre as subprimes.
Meu caro Nuno Teles, donde é que lhe vêm essas certezas? Das sebentas do Keynes? Porque é que a premissa de Forrester é falsa? É capaz de dar alguma explicação racional para essa sua convicção? Ou é uma fézada?
ResponderEliminarEntão talvez devesse ter escrito isso e assim evitado simplificações grosseiras: o Ignatio Ramonet avançou, como muitos o fizeram da esquerda à direita, num momento de forte instabilidade, com algumas hipóteses sobre a evolução da economia global que não se verificaram. E depois talvez fosse bom perguntar porquê? Talvez porque a china tinha mecanismos robustos de controlo de capitais, porque o Fed interveio maciçamente para estancar a crise nos EUA e porque o crescimento destes dois colossos permitiu a saída da crise pelas exportações na Ásia. Mas não seria tão bombástico pois não? E o que importa é ser bombástico...
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