Volto ao artigo louquista de Jalles, que inclui negacionismo climático liberal, notai: a certa altura, para se armar ao pingarelho, reverte para o lançamento de nomes para o ar (“name droping”, em inglês, ouça), em modo de exemplos a seguir – “Friedman, Hayek, Buchanan, Barro, Acemoglu, Lucas, Duflo, Deaton”.
Friedman, Hayek, Buchanan, Barro e Lucas são extremistas antikeyenesianos, pena é que a realidade tenha um viés favorável à melhor tradição de Cambridge (Keynes, Robinson, Sraffa, Kaldor, também sou capaz...), da incerteza radical à ação dos bancos centrais, passando pela necessária convergência entre política orçamental e monetária para tirar as economias de crises geradas pela liberalização sem fim.
Daron Acemoglu é a melhor expressão de que aquilo que é novo na ortodoxia económica não é válido e que o que é válido não é novo, tendo sido, no seu caso, há muito rigorosamente exposto pela tradição marxista. Só pode passar por novo, porque há muito parasitismo intelectual ali, fruto da falta de memória, como já se defendeu aquando da atribuição do mal chamado Prémio Nobel. Por exemplo, já há literatura que o compara com Paul Baran, o do capital monopolista, com Paul Sweezy, e um dos fundadores da teoria da dependência. Acemoglu e os seus coautores não ficam bem na fotografia.
Esther Duflo, entretanto, faz umas experiências ditas controladas em países subdesenvolvidos, de ética e resultados mais do que duvidosos, como Ana Cordeiro Santos e eu já argumentámos. Duflo apela à modéstia dos economistas – “canalizadores” –, recomendando redes de mosquitos para fazer face aos problemas estruturais do subdesenvolvimento e assim. É a Tiririca, neoliberalismo com rosto humano, da economia, pior que está não fica. Felizmente, há o exemplo avassalador da economia mista chinesa e das lições que dela se podem extrair num mundo multipolar, feito de “incoerências produtivas”, para usar a formulação de uma economista do desenvolvimento a sério chamada Ilene Grabel.
Angus Deaton é o nome que vale a pena reter, concessão de Jalles (Hayek, o génio maléfico irresistível, também, mas já lhe dedicámos demasiado tempo). Deaton, coautor da hipótese das “mortes por desespero”, denúncia maior da economia política dos EUA, reconheceu explicitamente que o rei da economia convencional vai nu e, implicitamente, que aqueles a quem Jalles falsamente chama “a nova ortodoxia” – de Piketty a Mazzucato – estão a percorrer pistas promissoras.
Jalles mente da primeira à última linha, em linha com a acusação de “wokismo”, típica da extrema-direita.
Com a exceção tardia de Deaton, e para lá de papaguear nomes do neoliberalismo de rosto mais ou menos humano, Jalles ignora a história da melhor ciência económica do pós-guerra, de Myrdal a Sen. Esta falta absoluta de memória e de cultura económicas é demasiado representativa. Não creio que haja outra ciência social neste estado.
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