Na semana passada, por ocasião do lançamento do livro «A austeridade mata? A austeridade cura?» (coordenado por Eduardo Paz Ferreira e publicado pelo Instituto de Direito Económico, Financeiro e Fiscal da Faculdade de Direito de Lisboa), foram apresentadas as conclusões do inquérito sobre políticas de austeridade, encomendado pelo IDEFF à Eurosondagem. Os resultados mostram que dois anos de implementação do Memorando de Entendimento fortaleceram a noção de que a austeridade «afunda económica e socialmente o país», sendo contudo ainda significativo o peso dos inquiridos que interpretam a adopção de políticas austeritárias como «a consequência inevitável» do processo de endividamento de Portugal ao longo dos últimos anos.
E se é verdade que cerca de quatro em cada dez portugueses já encaram a austeridade como uma «escolha política» do «governo-além-da-Troika» de Passos Coelho e Paulo Portas, situa-se contudo numa proporção idêntica o peso dos que consideram que a prossecução das políticas de austeridade «depende da vontade do governo alemão e da Troika», bem como da própria evolução político-económica que se venha a registar na UE. De uma forma ou de outra, a percepção dominante é a de que «a austeridade veio para ficar», pelo menos por mais uns anos. Aliás, os dois dados mais expressivos deste inquérito apontam para a seguinte conclusão: a austeridade é destrutiva mas irá prosseguir (numa resignação que é reforçada pelas dúvidas, expressas por cerca de metade dos inquiridos, quanto à «existência de propostas credíveis que lhe ponham fim»).
Os resultados deste inquérito - e as perplexidades que o mesmo revela - ajudam a perceber o estranho jogo de espelhos que se gerou entre o PS e o PSD durante o passado fim de semana, na escolha dos respectivos cabeças de lista para as eleições europeias. Como quem puxa a manta para o lado que pressente estar mais desprotegido, o PS escolhe um candidato da ala direita do partido, procurando o PSD maquilhar a imagem de radicalismo neoliberal que (com o devido proveito) os dois últimos anos de governação lhe colaram à pele, escolhendo para cabeça de lista um militante posicionado mais à esquerda. Ou seja, em busca do centro perdido, o PS desiste de explorar uma resposta alternativa consistente à crise, enquanto o PSD procura disfarçar o vergonhoso perfil de subserviência e de vanguarda convicta na defesa e aplicação das políticas de austeridade.
E, contudo, existem à esquerda bases consistentes e credíveis para traçar caminhos alternativos de saída da crise. A Declaração do Congresso Democrático das Alternativas, por exemplo, estabelece um quadro de pressupostos e objectivos claros para uma política alternativa à austeridade, situando-se na mesma linha o notável trabalho da Iniciativa para uma Auditoria Cidadã à Dívida no âmbito da renegociação da dívida (tendo sido entregue, no início do ano, uma petição sobre esta matéria na Assembleia da República). E, mais recentemente, o Manifesto 3D apresentou os compromissos políticos mínimos para a formação de um amplo movimento político de contraposição à força centrípeta do buraco negro da austeridade. Não é pois por falta de trabalho programático e proposta política que o empobrecimento ameaça converter-se no nosso trágico destino colectivo. Assim haja vontades e disponibilidades alargadas, à esquerda, para o evitar.
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4 comentários:
Pois claro que há essas propostas do CDA e tal. Mas também há outras: mais consistentes, mais robustas e revolucionárias, o que as torna potencialmente efectivas nos seus resultados. É pena que não tenha ainda dado por elas. É que é precisamente a partir das válvulas de escape que alguns vão criando, que outras perpetuam os seu desígnios de exploração e empobrecimento de largas camadas da população.
Centro? Rangel ainda pode andar em vaga busca do centro, mas Assis é direita.
«um quadro de pressupostos e objectivos claros para uma política alternativa à austeridade»
Claros?
Qual a utilidade da virtuosa claridade?
Que tal se fossem: credíveis? viáveis? prováveis? possíveis?
Será timidez ou falta de convicção?
Onde está a esquerda antieuropeista?
Uma esquerda europeista, que queira permanecer no € é um oximoro!
Um país sem soberania monetaria, não tem possibilidade de respeitar a CONSTITUIÇÂO!
Um governo que para respeitar vinculos orçamentais externos tem que destruir o estado social, o direito ao trabalho, à saude, à educação, à reforma, é um governo que não respeita os direitos fundamentais.
Qual é programa da esquerda europeista? Esperar que os outros atirem umas esmolas e no entanto assistir e contribuir a destruição de tudo que é PÚBLICO?
O PS, até o BE, ao governo não teria sido diferente do PSD.
Olhem para as ditas "esquerdas" italianas e francesas...
Sou de esquerda mas desejo nas proximas eleições a vitória de todos os partidos que vao fazer da luta a U€ o ponto principal do programa, a partir da FN da Marine le Pen, contra os liberais verdadeiros e disfarçados do Partido Unico do Euro e o mantra deles: desvalorização=inflaçâo!
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