Em vez do não aproveitamento integral do próximo quadro comunitário de apoio, desconfio que outro problema (mais pernicioso?) se avizinha. Devido às restrições orçamentais e à necessidade de aproveitamento deste quadro comunitário de apoio, o Estado ver-se-á obrigado a recorrer às parcerias com o sector privado no financiamento dos seus projectos de investimento. Contudo, tais parcerias só serão possíveis se a rentabilidade destes estiver assegurada. O critério de aprovação dos grandes investimentos passará então a ser este, em detrimento desse outro critério que é o interesse público. O caso do aeroporto da Ota parece já introduzir este paradigma. Através da privatização da ANA (empresa que gere os aeroportos nacionais), o capital privado envolvido na construção do aeroporto captura as lucrativas rendas de um sector em crescimento, onde não existe competição.
Ao contrário das ideias feitas de empreendedorismo, risco e inovação que hoje se difundem como apanágio do capital privado, o capitalismo português mostra a sua natureza emergente: a de um capitalismo rentista, alimentado pela privatização de serviços públicos onde a concorrência é difícil ou impossível.
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7 comentários:
Portanto a ausência de competição sob a propriedade do Estado é boa, a ausência de competição sob a parceria público-privado é má, é isso - mesmo que isso leve, eventualmente (estas coisas medem-se empiricamente) a uma melhoria da eficácia dos serviços (que sabemos, sob a acção do Estado, é verdadeiramente notável! :)).
E' o "bom" exemplo das autoestradas repetido.
Eu nao percebo nada de economia, gestao ou politica economica. Na minha percepcao de leigo, a gestao publica tem como prioridades fornecer um servico publico ao utente e manter a sustentabilidade do funcionamento do servico. A gestao privada ssem regulacao no sentido contrario tem como prioridade o lucro a qualquer custo segundo a legalidade, essa e' a Meta bem explicada no livro "The Goal" de Eliyahu M. Goldratt.
Penso eu de que...
Penso eu de que...
Transformar o estado em um serviço quase privado é das coisas mais estúpidas que se podem fazer.
-Cria mau ambiente entre funcionários,
-O estado arrisca (sem ter necessidade),
-Esquece-se o interesse público
e no final de tudo, não existe concorrência, como existe entre empresas.
Ou seja, um estado privatizado fica com o pior das empresas (os aspectos que mencionei acima) e com o pior do estado (a auxência de concorrência).
No final, ninguém fica a ganhar: Os funcionários públicos ficam piores; Os consumidores continuam a não ter mercado de concorrência perfeita.
Para quê?
a.cabral:
esse das scuts ainda foi melhor...
O estado constrói, o estado paga.
Mas quem é que gere e fica com os lucros? Uma empresa. Tudo em nome de um serviço melhor. MAS QUAL SERVIÇO MELHOR? Até parece que o estado não conseguia fornecer um bom serviço em portagens (parece-me fácil) e obras (o estado faz muitas...)!
Cambada de estúpidos!
Tem razão Alexandre.
Onde é que estão os estudos que provam isso do aumento da eficácia? Estamos no domínio da convicção.
Claro que sim: o fim da concorrência é o objectivo do sector privado. Só assim os lucros estão garantidos. O Estado contribui para acentuar certos traços do sector privado ajudando à reconstituição de grupos de natureza monopolista que capturam estes e outros sectores (ver saúde...) e até os seus agentes políticos...
O Estado deveria separar claramente domínios de actividade governados por lógicas diferenciadas. O monopólio público (ao contrário do privado) pode ser virtuoso. Tenha este funcionários qualificados, com carreiras prestigiadas e enquadrados por uma ética de serviço público. Coisas cada vez menos valorizadas em Portugal.
Convicções...:)
Tem razão baldassare: "Transformar o estado em um serviço quase privado". É isso o «mimetismo mercantil». Ver David Marquand, Decline of the Public, para uma análise critica da experiência inglesa que nós procuramos imitar.
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