No seu último livro – The Road to Freedom: Economics and the Good Society –, Joseph Stiglitz, economista social-democrata de matriz neoclássica (“Prémio Nobel” de Economia), refere o grande Antonio Gramsci, mas omite a sua estatura marxista gigantesca.
Esta omissão conveniente não é o pior que tem acontecido intelectualmente a este criativo discípulo de Lénine (a quem não podemos dizer adeus, afinal), fundador, com o tantos vezes esquecido Palmiro Togliatti e outros, do Partido Comunista Italiano.
Morreu nas prisões do fascismo, não sem antes nos deixar vários cadernos aí escritos, disponíveis na íntegra em língua portuguesa, graças à sua popularidade no Brasil, onde estão grandes estudiosos do seu pensamento. Estes não evitaram, pelo menos desde os terríveis anos 1980, que Gramsci fosse alvo das piores sevicias intelectuais às mãos de certa “teoria crítica”, incluindo nas suas cada vez mais frequentes declinações euro-liberais.
Insisto, porque muitos insistem em ignorar uma das principais mensagens de Gramsci: é preciso encontrar os sinais deixados pelos subalternos nas peculiares e contraditórias tradições nacionais.
Trata-se de uma condição político-cultural necessária para criar o que designava por vontade geral nacional-popular hegemónica, capaz de saltar das sempre parciais lutas económicas para o plano mais abrangente da liderança ético-política, criadora de uma nova ordem, de uma sociedade regulada de cariz socialista.
Hegemonia é em Gramsci a articulação entre coerção minimizada e consenso maximizado, uma congruência consciente, obra de um bloco histórico, entre as sempre interligadas relações sociais de produção e superestruturas político-ideológicas, digamos.
E é para a mudança progressiva, mas radical, que serve o “novo príncipe”, o intelectual coletivo, o Partido, segundo o particularmente atento leitor de Maquiavel. Tudo tem de ser pensado e organizado no fluxo da história: leninismo para guerra de posição, em suma.
Acompanho os vossos escritos, repletos de "ciência" e de lucidez de classe, pese embora a lucidez varie com a perspectiva do observador e a ciência contradiz-se com frequência. Indo à bíblia oitocentista, "não é a consciência que determina o ser social, mas o ser social que determina a consciência", curiosamente, quem ressuscita sempre, é o capital(ismo). O que estes postulados todos (incluindo os vossos), descuram e descuraram, é o inconsciente. E é aqui, sobretudo e sobremaneira, que o capitalismo actua e age, morrendo mas anunciando sempre a sua ressurreição. É pois o capital(ismo) do inconsciente que determina o ser social, que por sua vez determina a consciência. Veja-se a título de exemplo, o peculiar percurso de Edward Bernays, sobrinho de Freud, nas terras do Tio Sam, nos tempos de Wilson e da sua cruzada “make the world safe for democracy". Em termos de Spin Doctors, os serviços nacionais de saúde funcionam extremamente bem!
ResponderEliminar