segunda-feira, 7 de julho de 2025

Por que raio a Inglaterra tem e nós não?

 

Ouvimos há dias o novo Ministro da Economia e Coesão Territorial, António Castro Almeida, a dizer numa entrevista o mesmo que o Primeiro-Ministro e o anterior titular da pasta da Economia disseram várias vezes no passado recente: que o papel do Estado não é decidir em que sectores ou tecnologias apostar, pois “quem vai desenvolver a economia não é o governo, mas os empresários” e que o papel do governo é “não estorvar”. 

Dias antes, o Reino Unido tornou-se o n-ésimo país a contradizer o que Castro Almeida e Montenegro defendem. O governo britânico apresentou a sua nova Estratégia Industrial, um documento de 160 páginas que estabelece uma visão de longo prazo para a transformação produtiva do Reino Unido (nota: em inglês “industry” significa sector de actividade, que inclui tanto indústrias transformadoras, como agricultura ou serviços). O documento define sectores prioritários, identifica os principais bloqueios ao investimento, propõe reformas regulatórias e fiscais, e mobiliza recursos públicos para promover a inovação, o emprego qualificado e a coesão territorial. 

Tudo isto foi feito por um governo que chegou ao poder com um discurso pró-mercado e que, não obstante, não hesita em afirmar que a acção do Estado é indispensável para que o investimento se concentre nas áreas que mais podem beneficiar a economia e a sociedade. Um governo que, como tantos outros, reconhece o que devia ser óbvio: estratégia industrial e ambiente favorável aos negócios não são opostos, são complementares. 

Ao contrário do que se defende nos círculos políticos de quem governa Portugal, ter uma estratégia industrial não significa pôr políticos ou burocratas a decidir onde investir. Significa, ao invés, que o Estado reconhece o seu papel na coordenação de esforços entre empresas, centros tecnológicos, instituições científicas e agências públicas. Significa que se fazem escolhas informadas, partilhadas e monitorizadas, em vez de confiar cegamente nas decisões descentralizadas de milhares de actores dispersos. 

O resto do meu texto pode ser lido no Público de hoje.

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