segunda-feira, 7 de julho de 2025

Fundação Pingo Doce, what else?


O anúncio é todo um programa, que começa logo com uma pergunta retórica: «Estará a reforma em vias de extinção?» («extinção», notem bem, não se dramatiza com menos). E sim, dá-se a resposta logo de seguida, aludindo a «caminhos alternativos» para «complementar as reformas convencionais» e «enfrentar o futuro com tranquilidade» (vamos confiar que é só uma curiosa coincidência e que o episódio não é patrocinado por uma qualquer seguradora).

Na página da fundação, os propósitos deste «podcast» (aspas) tornam-se ainda mais claros. Determina-se, ao arrepio de todo o debate sobre o tema, que a «sustentabilidade do sistema público de pensões está seriamente em risco» («seriamente», porque quando se dramatiza não se brinca) e afiança-se que, «mais do que nunca, é preciso agir cedo para garantir, mais tarde, uma vida confortável». Até porque «a reforma é um tema para se debater na juventude».

Ficamos por aqui? Não, o «especialista Diogo Mendes» vai ainda mais longe e concretiza o objetivo do alegado «podcast» (mais aspas), perguntando ao putativo ouvinte se «já ouviu falar em ‘fundos de pensões corporativos’», se conhece o «conceito de ‘juro composto’» e se sabe «quais são as vantagens, e desvantagens, de fazer um Plano Poupança Reforma». Maior clareza não se pode pedir.

Nada contra, evidentemente, que uma companhia de seguros promova os seus produtos financeiros. Apenas não é suposto, parece-me, que a FFMS - «que tem por missão promover e aprofundar o conhecimento da realidade portuguesa» - se dedique, e não sem antes deturpar os termos da discussão, a «vender» produtos de poupança reforma. É caso para dizer, parafraseando um célebre escritor português, que «sobre a nudez forte da propaganda jaz o manto diáfano do aparente debate».

1 comentário:

  1. O que serão "fundos de pensões corporativos"? Quereriam dizer "empresariais"?

    ResponderEliminar