Tirando a segunda-feira, ler a última página do Público tornou-se um exercício politicamente penoso, dada a oscilação entre o extremo-centro e a extrema-direita paroquiais: o internacional praticamente não é abordado hoje em dia. Sim, não se escreve sobre o genocídio na Palestina ou a destruição do Líbano, naturalmente. O colonialismo sionista e o imperialismo norte-americano, sem esquecer a previsível vassalagem da UE, são uma maçada.
No domingo, Adão e Silva falou do risco de “governos crescentemente impotentes a sucederem-se uns aos outros” em Portugal, mas nem por um segundo pensou na óbvia, mas inconveniente, fonte material dessa impotência: a perda de instrumentos de política económica, dada a integração europeia realmente existente.
Para quem gosta tanto de falar de instituições, estranha-se o silêncio atual sobre um quadro institucional em que, por exemplo, a banca em Portugal recebeu milhares de milhões de euros de uma instituição sem controlo democrático chamada BCE, ao mesmo tempo que muitas famílias foram brutalmente oneradas. Sim, o principal preço no capitalismo, a taxa de juro, é diretamente político, mas não é democraticamente definido, como todos temos a obrigação de saber.
Diria que isto, só um exemplo entre tantos, não faz bem à qualidade da democracia, mas que sei eu? E o pior é que sei que Adão e Silva até intui isto. Li o suficiente dos seus escritos da altura da crise da zona euro. O bloco central, que agigantaria a extrema-direita, vale bem esta desmemória? Parece que sim, já que ontem, em modo terceira via zumbi, declarou querer mais discricionariedade capitalista, vulgo mecenato, na cultura e em modo consensual.
Este foi o ministro que procurou naturalizar a precariedade na cultura, pelo que é natural que defenda os chamados incentivos aos privados, modo aparentemente neutral de ofuscar ideologicamente o que está em jogo nesta opção de política pública: subsidiar as preferências dos ricos, a ainda maior mercadorização de uma cultura orçamentalmente menorizada.
Diz que isto é a social-democracia, só que não.
Diz que isto é a social-democracia, só que não.
Desde que houve a labreguização cavaquista da televisão, só existe uma de duas: preferências dos ricos para os ricos, baseadas na qualidade, que ficam entre eles, e preferências dos ricos para nós, baseadas apenas no que combine gastos baixos com atração de audiência pela audiência, sem preocupações sociais e culturais, e imposição disto ao povo como "a vontade do povo" (que não é). É a ideia dos pimbas e afins.
ResponderEliminarO PAS, cooptado pela oligarquia, já acredita no trickle-down. Até na cultura. Temos aristocrata!
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