terça-feira, 30 de julho de 2024

O turismo como problema

Alguns dos problemas decorrentes de um crescimento excessivo do turismo são evidentes e bem conhecidos de toda a população. A OCDE alerta para aspectos como as pressões sobre os preços do alojamento (que dificultam o acesso à habitação dos residentes e também dos trabalhadores sazonais), sobre as infra-estruturas e os serviços colectivos (traduzindo-se, por exemplo, na sobrelotação dos transportes públicos ou na acumulação de lixo nas zonas mais frequentadas) e sobre o ambiente (aumentando a poluição e pondo em causa a sustentabilidade dos ecossistemas e a biodiversidade). Os crescentes protestos populares em zonas de grande intensidade turística – como Barcelona ou Málaga, para dar dois exemplos recentes – são um sinal de que o excesso de turismo existe de facto e que está a tornar-se um problema político sério em diferentes partes do mundo. 

A Organização Internacional do Trabalho, por sua vez, tem alertado para as más condições laborais no sector, marcado pela prevalência do trabalho ocasional e informal, horários de trabalho variáveis e longos, salários baixos e fraca protecção social (decorrente da informalidade, da sazonalidade e dos rendimentos reduzidos dos trabalhadores). Para além dos impactos mais directos e evidentes, o turismo tem implicações estruturais para o desenvolvimento das economias a prazo. 

Há três aspectos que vale a pena ter em consideração a este respeito. 

O primeiro tem que ver com a relação entre turismo e imobiliário. A expansão rápida da actividade turística num determinado território está frequentemente associada a um aumento do investimento imobiliário em hotéis e alojamento local, mas também em estabelecimentos comerciais e de restauração. O crescimento dos preços desses activos pode dar origem a fenómenos especulativos, que põem em causa a estabilidade financeira do país. 

Segundo, o aumento dos preços do imobiliário representa um acréscimo de custos para a generalidade das actividades produtivas (não apenas as que estão directamente associadas ao turismo). Para além disso, o grande afluxo de turistas – que, em geral, têm um poder de compra superior à média dos residentes – traduz-se num aumento geral dos preços dos bens e serviços, reduzindo assim o rendimento disponível da população local e aumentando ainda mais os custos para as empresas de todos os sectores. Estes fenómenos inflacionistas, a par da disputa de recursos humanos, financeiros e materiais, originam um fenómeno conhecido por “doença holandesa”, ou seja, o crescimento do turismo provoca uma perda de competitividade em outros sectores de actividade mais expostos à concorrência internacional, em particular as indústrias transformadoras. Isto tem efeitos nefastos a nível estrutural: embora o turismo estimule a actividade económica e o emprego no curto prazo, em geral não tem o mesmo potencial de desenvolvimento tecnológico e de aumento da produtividade que o sector industrial. Ao favorecer a desindustrialização das economias locais, a sobre-especialização no turismo põe assim em causa o desenvolvimento da economia a prazo. 

Por fim, a actividade turística é particularmente vulnerável à ocorrência de fenómenos extremos – como pandemias, desastres naturais, alterações climáticas, ataques terroristas, conflitos armados, entre outros – tornando ainda mais arriscada a sobreespecialização económica neste sector.

O resto do meu texto pode ser lido no Público.

2 comentários:

  1. não percebo porque é que o mais elevado poder de compra dos turistas leva ao aumento dos preços. se o preços fossem mantidos, os turistas iriam consumir mais. não? e os locais podiam continuar a sua vida normal. não será a ganância dos vendedores - que vai-se a ver são portugueses?
    encontro cada vez mais turistas estrangeiros a queixarem-se dos preços.
    tão-se a juntar as peças todas para isto ficar muito parecido com um balde de lixo cheio.

    rui

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  2. Para muitos negócios, em especial no domínio dos serviços, é muito mais interessante e rentável captar clientes dispostos a pagar mais pelo menos porque se pode fazer isso sem ter que se investir no aumento da capacidade instalada.
    Não é uma questão de "ganância", é questão de haver oportunidade de aumentar o lucro substituindo apenas os clientes.
    Encontra cada vez mais turistas a queixarem-se dos preços, mas se também encontrar cada vez maior quantidade de turistas, então os preços até podem subir mais.

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