O Eurostat divulgou, na passada sexta-feira, os dados do Índice de Preços da Habitação (IPH) para o primeiro trimestre de 2024. Para quem, de há uns tempos a esta parte, vislumbrava sinais de que a crise habitacional tinha atingindo o seu pico - na convicção latente de que o mercado, deixado à sua conta, acaba por funcionar - os resultados devem ter causado surpresa. Após uma quebra entre 2022 e 2023, que apenas se verificou nos valores da aquisição (tendo os preços do arrendamento continuado a subir), parece confirmar-se uma nova tendência de aumento do IPH.
Deve sublinhar-se, aliás, que nem todos os países registaram descidas dos preços no período em que o índice desceu no conjunto da UE, entre o primeiro trimestre de 2022 e o trimestre homólogo de 2023. Pelo contrário, nesse período apenas 10 Estados membros (em 26, dado que não existem valores para a Grécia) assistiram a uma redução dos seus valores. E apenas 2 países, a Alemanha e o Luxemburgo, têm quebras consecutivas desde o primeiro trimestre de 2022 até ao trimestre homólogo de 2024. Em contrapartida, são 6 os países, entre os quais Portugal, que nunca registaram nenhum movimento de descida neste período. Ou seja, mesmo antes desta nova tendência de subida era exagerado falar em fim de crise.
O problema é que, de facto, a crise habitacional que afeta a generalidade dos países europeus não resulta de uma mera «falta de casas», como errada e insistentemente se afirma, mas antes da presença de novas procuras. Isto é, de investimentos no imobiliário que encaram as habitações como meros ativos financeiros, competindo em termos de procura com as famílias e estando estas em desvantagem comparativa. O que significa, portanto, que se a apetência destes investimentos se mantiver, bem podem ser construídas muitas casas (bem para lá dos rácios entre alojamentos e famílias), que as mesmas continuarão a ser absorvidas, sem que os preços desçam. Na ausência de medidas robustas de regulação, a crise de habitação tem por isso tudo para se manter, enquanto a especulação estiver para aí virada.
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