quarta-feira, 10 de abril de 2024

Dar passos atrás, até dizer chega


«Uma vintena de beatos grisalhos fez um tratado pela família tradicional e o grande pai da austeridade, disciplinador do povo, foi apresentá-lo. Andam muito compinchas, comendo o pão bolorento da velha senhora, arrotando alto, para que se ouça bem. Querem que o mundo saiba o que os seus santinhos acham da vida dos outros. Querem que os seus votos valham em casamento alheio. Querem que a gente se deite na cama da Opus Dei para ter doze filhos cada um.
(...) Meus senhores, os inimigos da família são as políticas de austeridade, a crise da habitação, a subida das taxas de juro, a inflação, os baixos salários, a precariedade, a falta de perspetiva de futuro, a guerra na Europa, as alterações climáticas, a falta de apoios à parentalidade, a escassez de creches a preços comportáveis, a degradação da escola pública, os problemas de gestão do SNS, o preço da eletricidade e a pobreza energética, o caos das urgências obstétricas e a pobreza, exaustão e sobrecarga das mulheres
».

Capicua, A família tradicional

«Porque o que eu vejo, e todos vemos, é a direita tradicional, a direita clássica portuguesa, a integrar o discurso que o Chega tem sobre essas matérias. Não há nenhuma imposição sobre uma determinada visão da família. Antes pelo contrário, é exatamente o contrário. Eu vejo muito a direita a falar de família natural, mas eu não sei o que é isso de família natural. Eu sei que há muitas famílias.
Não há doutrinação dos jovens na escola. O que há é um ensino de respeito pelo outro, da tolerância, da liberdade de cada um fazer as suas escolhas, as suas opções de vida. E é muito importante que os jovens - e muitos deles votaram no Chega - tenham consciência, tenham consciência disto mesmo. Porque eu não acredito que a juventude portuguesa queira recuar. Nós avançámos muito na liberdade de cada um ser aquilo que entende. De viver com quem quer viver, de amar quem quiser amar. Estas vitórias que a sociedade portuguesa conquistou são vitórias que têm que ser preservadas, têm que ser defendidas todos os dias, desde logo pela juventude portuguesa.
Ninguém está a doutrinar ninguém. Se há coisa que se ensina na escola, como eu dizia, é o respeito pelo outro e isso é muito importante. É por isso também que é muito preocupante nós vermos a direita clássica, a direita tradicional, Pedro Passos Coelho, mas muita gente na AD também, a assumir bandeiras que são da extrema-direita
».

Pedro Nuno Santos (entrevista à CNN)

«É uma posição muito parecida - e repete historicamente - com aquela que os supremacistas brancos têm em relação a questões raciais. (…) Se olharmos para o que aconteceu com os Estados Unidos, por exemplo, com a emancipação das pessoas racializadas, aqueles que estavam contra a igualdade entre pessoas brancas e pessoas não brancas, diziam, por exemplo, mas porque é que as pessoas negras querem entrar nas mesmas universidades que as pessoas brancas? Há universidades próprias para eles, há escolas próprias para eles. Mas porque é que querem poder casar com pessoas brancas? Podem casar entre eles. E, portanto, o que é que os brancos queriam? Manter o seu lugar de privilégio, o seu poder. E a política é isto. As pessoas quando têm o poder só para elas, e quando têm os direitos só para elas, custa-lhes que outros que não tinham acesso a esses direitos passem a ter. E, portanto, não querem dividir o seu lugar de privilégio e de poder com os demais. Felizmente, a esmagadora maioria da sociedade portuguesa está confortável com uma Constituição que diz que somos mesmo todos e todas iguais. E a esmagadora maioria das pessoas gosta que, quando casa, que os seus amigos e as suas amigas, sejam homossexuais ou não sejam homossexuais, também possam casar, também possam ter filhos, possam adotar, possam recorrer à procriação medicamente assistida. Ficam felizes com essa diversidade».

Isabel Moreira (debate na CNN)

1 comentário:

  1. A única forma de fazer a política dos tempos da Troika sem a Troika é esta e a Direita dos Interesses já percebeu isso, por isso apadrinha este género de iniciativas. É espremer ao limite cada ideia retrógrada que ainda existir nas mentes do povo português e fazer disso escada para o Poder.

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