As reações da direita à notícia de hoje do Expresso (ver por exemplo aqui e aqui), segundo a qual «30% dos jovens nascidos em Portugal vivem fora do país», parecem não só esquecer a evolução recente, e nomeadamente a inversão do rombo demográfico dos anos de «ajustamento», mas também ignorar que as políticas que defendem, apostadas na desregulação do mercado laboral, precariedade, baixos salários, cortes nos apoios sociais e privatização dos serviços públicos, são meio caminho andado para regressar a esses anos de chumbo.
Vale por isso apenas relembrar que foi entre 2011 e 2015, com a maioria de direita no poder, que o saldo demográfico português entrou numa vertigem de perda sem precedentes em democracia, com o saldo natural e o saldo migratório a registarem, simultaneamente, valores negativos (os únicos anos desde o início do século em que tal acontece), para apenas depois se observar uma recuperação parcial, com o saldo natural (diferença entre nascimentos e óbitos) a manter-se negativo (recuperando ligeiramente, contudo, em 2022) e o saldo migratório (imigração menos emigração) a entrar em terreno positivo.
Nada disto cai do céu. As perdas registadas entre 2011 e 2015 são o resultado da crise induzida pela resposta austeritária aos impactos da crise financeira de 2007/08, apostada no «empobrecimento competitivo» do país (aqui e aqui), num aproveitar da boleia da troika para ir além dela. De facto, a mesma direita que tanto gosta de brincar aos rankings com o PIB per capita, não percebendo as limitações deste indicador, para assinalar subidas e descidas face a outros países, bem podia começar a pôr mais os olhos no «outro PIB», que as dinâmicas demográficas traduzem, e que diz bem mais dos níveis de bem-estar e atratividade dos vários países. E que suscita também, deste ponto de vista, uma reflexão sobre o processo de integração europeia.
Pode bater na PAF e no Passos à vontade que não o vou contradizer. Só que não chega: passaram oito a nove anos, quase uma década. O problema é muito mais fundo, um país sem futuro.
ResponderEliminarComo se vai conseguir sair daqui, se é que é possível, não sei.
É a velha história da educação e dos mercados que explicaria o nosso atraso. Dizem uns que não desenvolvemos porque éramos analfabetos. Falam outros nos mercados locais, pequenos. Hoje estão escolarizados e dão à sola. Porquê? Porque cá não há emprego qualificado. E porque é que não há emprego qualificado? Porque as empresas não precisam. E porque é que não precisam? Porque para negócios de mercearia e café ninguém precisa de cursos de química. E porque é que não são precisos doutores em química? Porque cá não há indústria química.
Assim vamos há séculos.