domingo, 7 de janeiro de 2024

Um jornal com muita política


É este contexto de visibilidade assimétrica dos projectos, e de interiorização mais ou menos consciente do pensamento neoliberal, que torna possível que as forças de direita escapem a ser confrontadas nesses palcos mediáticos, durante anos a fio, com o carácter socialmente desastroso das suas políticas. E, mais ainda, com o fracasso económico dessas mesmas políticas — algo que se pode concluir até a partir do balanço dos efeitos que as próprias afirmavam querer alcançar (ver, nesta edição, o exercício de memória e de desmontagem crítica dessas políticas feito pelo economista Vicente Ferreira, «A direita e a arte de esvaziar a democracia») (...) Se a direita partidária ou patronal se mobiliza nos media para defender os seus interesses, numa aposta que mostra o quanto a propriedade dos meios de informação interessa (ver, nesta edição, o artigo de João Rodrigues, «Ecos patronais»), também é verdade que o serviço público não é minimamente imune a esta naturalização do senso comum neoliberal dominante, nacional ou europeu (...) O que causa mais danos ao direito que Abril consagrou à informação é esta vocação que as propostas neoliberais têm para se apresentarem como algo que paira acima da política e das suas escolhas.

Sandra Monteiro, Media muito políticos, Le Monde diplomatique - edição portuguesa, Janeiro de 2024. 

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