Esta pancarta ilustra bem o ponto central de Clara Mattei, historiadora da economia política, num livro importante - The Capital Order: How Economists Invented Austerity and Paved the Way to Fascism -, saído no final do ano passado.
Recorrendo a ampla evidência textual, fruto de trabalho de arquivo e do engajamento com obras de economistas relevantes, Mattei indica como a austeridade foi uma reação de classe antidemocrática, movida pelo medo do empoderamento da classe trabalhadora, que requereu todo um trabalho de argumentação económica, articulado com várias formas de violência política estatal.
Ao desenvolver o seu argumento historicamente informado, Mattei fornece uma útil elaboração conceptual das três formas articuladas de que a austeridade se revestiu e reveste: (1) austeridade orçamental, ou seja, cortes na despesa pública associada ao bem-estar e consolidação de um Estado fiscal regressivo; (2) austeridade monetária, ou seja, políticas deflacionárias, assentes na elevação da taxa de juro; (3) austeridade nas relações laborais, ou seja, todo o esforço regulatório e de política económica para garantir a disciplina e a hierarquia nas relações laborais, ou seja, para garantir direitos dos patrões e correlativas obrigações dos trabalhadores.
Num contexto marcado por iniciativas liberais, dentro e fora do governo, até dizer chega, trata-se de um livro de história que merece ser traduzido; bem traduzido, claro.
Recupero esta breve nota de leitura aqui publicada por duas razões. Em primeiro lugar, por causa da perigosa economia política liberal até dizer chega que é sempre necessário derrotar. Em segundo lugar, porque Clara Mattei será uma das oradoras convidadas do 7º Encontro Anual da Associação Portuguesa de Economia Política, que se realiza no ISEG entre 25 e 27 de janeiro de 2024.
"artigos foram aí sistematicamente elogiosos da política económica fascista de austeridade."
ResponderEliminarNão temos que ir a 1920 para identificar sistemáticos elogios à política fascista de austeridade.
Neste território a que chamam "Portugal" houve quem desesperasse pela vinda da Troika.
A classe dominante e seus cúmplices não estão satisfeitos com o desgraça que criaram, podem disfarçar mas eles querem mais do mesmo, é preciso concluir o processo contra-revolucionário neoliberal em curso, das mentes da classe trabalhadora tem que ser erradicado qualquer memória do estado-social, trabalho não precário, serviços públicos de qualidade...