quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

De Delors a Schäuble


Faleceram Jacques Delors e Wolfgang Schäuble. 

Poucas figuras encarnam melhor do que Delors a abdicação da social-democracia europeia perante o neoliberalismo nas décadas de 1980 e 1990: da viragem para a austeridade, enquanto ministro das Finanças francês, em 1983, a Presidente da Comissão Europeia, entre 1985 e 1995, sendo o principal responsável político pelo infame relatório Delors, o do caminho para a UEM. 

O programa político neoliberal de reconfiguração dos Estados é aí muito claramente enunciado: “de algum modo as forças de mercado podem exercer uma força disciplinadora”, mas desde que reforçadas por “constrangimentos de política” desenhados explicitamente para o efeito – proibições de “intervenções governamentais diretas nos salários e nos preços”, de “acesso ao crédito direto do banco central e a outras formas de financiamento monetário” ou a imposição de “limites aos défices orçamentais”. 

Estes “constrangimentos de política”, onde pontifica um banco central dito independente e orientado para a “estabilidade de preços”, transformariam os salários diretos e indiretos na variável de ajustamento principal, visto que as diferenças de competitividade entre regiões se resolveriam através de “flexibilidade salarial e de mobilidade do trabalho”, numa corrida entre modelos institucionais nacionais arbitrada, em última instância, pelas frações mais extrovertidas do capital. 

Sim, Delors foi construtor do mercado único, da moeda única e logo da política anti-socialista única. O resto foram os Schäuble e as troikas. E, claro, foi esta realidade austeritária que permitiu a ascensão dos novos rostos do fascismo.

1 comentário:

  1. A propaganda chama a Delors o arquitecto da “Europa” como hoje a conhecemos como se a “Europa” não tivesse andado a dar cabo das vidas da maioria dos europeus, como se a Europa (sem “”) não estivesse em decadência e não fosse hoje um barril de pólvora… É a lavagem cerebral a que temos sido sujeitos.

    O Mário Soares francês, Jacques Delors, foi mais um “socialista” que meteu o Socialismo na gaveta e a atirou para dentro de um vulcão!
    Eu noto um padrão, são “socialistas” mas odeiam o Socialismo, por que será?
    Mas como eles adoram fazer-se passar pelos maiores socialistas com a maior consciência social de todos os tempos!
    Amam a educação, amam a saúde, amam os pobres, amam a classe média, amam os trabalhadores, amam os imigrantes, amam as minorias, amam a paz, amam a democracia, amam os capitalis...
    Campeões da performatividade é o que os “socialistas” verdadeiramente são.

    E por falar em performatividade, vejam o que o Partido do Rui diz da morte do europeísta Delors:

    “Jacques Delors foi mais do que um político socialista francês, foi um político europeu cujo trabalho e dedicação transcenderam as fronteiras que outrora foram palco de guerra. O seu contributo para uma Europa unida e cada vez mais social é um legado que ainda perdura.

    O seu trabalho primeiro como eurodeputado e depois como o Presidente da Comissão Europeia que mais tempo assumiu o cargo foi marcado pelo empenhamento na construção de uma Europa mais justa, pacífica e democrática. Mesmo após terminar o seu mandato, continuou ativo e propositivo no processo de aprofundamento da integração europeia.”

    https://partidolivre.pt/noticias/pesar-jacques-delors

    Este incansável cosmopolita-europeísta (pró-Nato) Rui Tavares, pago para não ver as coisas como elas verdadeiramente são! lololol

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