Estes dados ganham relevância face às últimas declarações da presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, que disse que os salários são o "fator-chave que impulsiona a inflação" na Zona Euro, justificando, com isso, a manutenção das taxas de juro elevadas. O discurso não condiz com a realidade da economia portuguesa - nem sobre a evolução dos salários, nem sobre a da taxa de inflação, que tem diminuído de forma consistente. Uma vez mais, a política monetária do BCE não nos serve.
Cuidado com o crescimento salarial... das nao-pessoas como e obvio. As nao-pessoas quando nao estao a trabalhar, sao verdadeiros empecilhos a sustentabilidade... so causam inflacao e em geral ocupam espaco a mais...
ResponderEliminarJa o crescimento do rendimento das pessoas de bem - onde obviamente a prestimosa Cristine indispensavelmente se auto-inclui - seja por via de salarial, seja pela inflacao do valor de bens ou seja pelo aumento das taxas de lucro, seja pela reducao da carga fiscal no rendimento destas pessoas de bem, esse crescimento, para alem de a-flacionario e essencial para garantir uma economia sustentavel.
A ver se nos entendemos!
Errado. Até concordo com a conclusão, de que a afirmação, tonta mas nada inocente, da Lagarde é falsa (e de que a política monetária do BCE não nos serve). Embora fosse preciso corrigir o pressuposto e a lógica do raciocínio do texto.
ResponderEliminarContra a vontade do governo, que tentou, de facto, pelo estabelecimento dos aumentos dos funcionários públicos, pelos acordos concertados com os grandes empresários, por chantagens diversas, baixar os salários reais, a vigorosa luta dos trabalhadores no último ano conseguiu aumentar, em média, em geral (com exceções), as remunerações e recuperar das perdas do ano passado.
Não consigo ter acesso à notícia do Negócios, reservada a assinantes, mas não me custa imaginar as confusões típicas dos jornalistas e de numerosos economistas. Desde logo, a incompreensão de que a publicação do INE em causa (o destaque com as estatísticas do emprego, de 20/11/2023), baseando-se na declaração mensal de remunerações da Segurança Social e na relação contributiva da Caixa Geral de Aposentações, não se refere à remuneração por pessoa, mas por posto de trabalho, o que, no presente contexto, enviesa para baixo os ganhos remuneratórios por trabalhador. Depois, menos importante, a incompreensão de que, pelo atraso dos empresários na comunicação dos dados, os valores apresentados são revistos em alta na publicação seguinte.
Recorrendo, com maior acerto, aos quadros das Contas Nacionais do INE (qs. A.1.3.1.2 e A.4.13), que se referem a indivíduos e não a postos de trabalho, já com valores disponíveis pelo menos para a primeira metade deste ano, constatam-se, em termos médios, os grandes ganhos nominais dos trabalhadores assalariados em 2023.
Confrontando com a inflação, registada pelo índice de preços no consumidor do INE (mais adequado à estrutura de despesas dos residentes no país que o IHPC, que contudo pouco alteraria), são ainda assim evidentes, novamente em média, os ganhos reais substanciais deste ano.
A propósito, embora as estatísticas da comissão europeia (AMECO) só o venham a reconhecer com o atraso habitual, lá para maio de 2024, os ganhos reais são tais que permitirão aos trabalhadores recuperar, este ano de 2023, uma fatia do que perderam na parte que lhes tem cabido no rendimento nacional.
Mas voltemos à demonstração de que, ao contrário do afirmado, o salário médio real já ultrapassou significativamente o de 2021.
Os cálculos não são complicados. Em 2022, a remuneração média por trabalhador aumentou 5,7%, mas a inflação média anual (sempre dada pela variação do IPC) foi de 7,8%. Não obstante, em 2023, a remuneração média por trabalhador – mesmo sem tomar a variação sugerida pela primeira metade do ano nas Contas Nacionais e admitindo, por baixo, as recentes previsões do Conselho das Finanças Públicas (de 8,5%), do Ministério das finanças (de 8,3%), da Comissão Europeia (de 7,0%) ou da OCDE (de 7,4%) – ultrapassa bastante os cerca de 4,5% da inflação este ano (a inflação média até novembro deste ano foi de 4,98%, mas no conjunto do ano, incluindo uma inflação homóloga em dezembro certamente muito abaixo disso, não fugirá demasiado àquele valor).
Então façamos as contas. Inflação acumulada no biénio 2022-2023: cerca de 12,7% [= (1.078 * 1.045 - 1) * 100, em %]. Ganho remuneratório nominal médio em 2022-2023: entre 13,1% e 14,7%, dependendo do alvitrado por cada instituição. Em qualquer caso, superior à inflação.
Recordo que os valores médios, por trabalhador (e não por posto de trabalho), apurado realmente para os dois primeiros trimestres, nas Contas Nacionais, apontam para ganhos superiores. Mas aqui tomámos apenas as previsões das instituições.
A variação remuneratória no conjunto destes dois anos, 2022 e 2023, é superior à inflação registada. Os ganhos são reais. O salário médio de 2021 foi ultrapassado, em termos reais, pelo de 2023. Neste ano, mais do que se recuperaram as perdas de 2022.
(continua)
(continuação)
ResponderEliminarTudo se deveu à luta dos trabalhadores. Que tiveram que enfrentar a resistência insolente dos capitalistas e a arrogância do governo socialista que se pôs ao seu serviço. Que a esquerda distraída não o reconheça ou não o valorize, e que os economistas desatentos não tenham reparado, não retira nem um grama a esta grande vitória dos trabalhadores portugueses.
No ano passado, 2022, nunca se tinha produzido tanta riqueza neste país. Mais do que isso, há muitas décadas – talvez mesmo desde o 25 de Abril, dependendo do valor definitivo do crescimento do PIB a apurar –, que não se aumentava tanto a produção de riqueza neste país. Pois foi exatamente nesse ano, de 2022, que o governo, atualmente demissionário, para grande vergonha dos socialistas que ainda conservem um pingo de honra, conseguiu que a pobreza, em termos relativos e absolutos, aumentasse no nosso país (2,1 milhões de pessoas em risco de pobreza ou exclusão social).
Honra aos trabalhadores que lhe fizeram frente e que, neste último ano, lhe souberam dar a resposta.