terça-feira, 27 de junho de 2023

Duas notas sobre um excedente

Primeira nota. As finanças públicas não estão sujeitas aos mesmos constrangimentos que impendem sobre as finanças privadas. Também não devem estar subordinadas à mesma lógica. Numa economia monetária de produção, no capitalismo, as receitas de uns são as despesas dos outros. Se o Estado tem mais receitas que despesas, o resto da economia (nós) terá, obrigatoriamente, mais despesas que receitas. 

Numa situação como a que vivemos, num contexto de taxas de juro, injustificadamente, a subir, é um erro clamoroso impor défices a um setor privado cujo endividamento é tão significativo que se notabiliza à escala mundial. 


Segunda nota. Se estivesse na posição de Medina, se acreditasse que o país não é autonomamente viável e se estivesse indisponível para confrontar o paradigma ordoliberal que reina na UE, estaria a fazer o mesmo que ele. Ou seja, estaria a evitar um segundo golpe do BCE e a evitar também enfiar-me no beco sem saída em que se colocou Varoufakis; estaria, por isso, tal como está a fazer Medina, a acomodar o mais diligentemente possível a plena discricionariedade de Frankfurt que sustenta a exigência de Bruxelas de um rápido ajustamento deflacionário.   


6 comentários:

  1. Se o Paulo Coimbra estaria a fazer o mesmo que Fernando Medina no que diz respeito ás despesas e ás receitas estaria a ser o bom aluno europeu, portanto, esteja a direita ou a esquerda no poder a política é sempre a mesma, viva a democracia.

    ResponderEliminar
  2. Varoufakis cometeu erros, mas foi o único a ter um plano para confrontar o poder absoluto que está instalado, a esquerda devia ter vergonha disto e uma vergonha ainda maior de apontar Varoufakis. A esquerda está uma lástima, com uma intelectualidade ligada à academia que é incapaz de ter um discurso consequente e capacitado.

    ResponderEliminar
  3. Varoufakis, como se viu, não tinha plano algum. Esse é o problema que estou a apontar. Tem de haver um plano. Consequente, conhecido e apoiado pelo povo.

    ResponderEliminar
  4. O povo pouco conhece de planos consequentes.
    Há 50 anos quase só conhece planos para ganhar eleições e treteiros a comprarem votos.

    ResponderEliminar
  5. Sim, e se houver uma crise financeira internacional, junta-se à oposição de direita para derrubar o governo e chamar a troika, como no passado fizeram. Este conservadorismo nas finanças públicas também é culpa da oposição à esquerda. A história está na memória.

    ResponderEliminar
  6. A questão não é estar indisponível para confrontar o paradigma ordoliberal da EU, é estar disposto a cumpri-lo, sacrificando o seu povo.

    ResponderEliminar