A recessão na Alemanha faz regressar a política de austeridade: as divergências no seio do governo alemão são apenas sobre 'onde cortar'. É consensual que, numa recessão, o governo se comporte como se fosse uma família. Portanto, quando a economia entra em crise... aplica-se uma política orçamental que retira dinheiro da economia! Não aprenderam nada desde 2009. Vamos ver o que sobra para os países que a Alemanha tutela na ZE.
Não é de estranhar que a extrema-direita tenha vindo a crescer eleitoralmente na Europa, pelo menos desde a Grande Crise Financeira, maliciosamente designada na UE por "crise das dívidas soberanas".
Tendo imposto políticas de austeridade - retirando dinheiro da economia - numa conjuntura em que os bancos apertavam o crédito, as famílias perdiam empregos e/ou retraiam o consumo, e as empresas adiavam investimentos, a UE só agravou a crise. Depois de muito sofrimento infligido às populações que vivem do seu trabalho, acabou por admitir a suspensão dessas políticas de redução da despesa. Mas deixou um lastro de desigualdade e precariedade para o longo prazo.
Ainda assim, a política orçamental dos Estados-membros continua sujeita a um colete de forças que impede o bom uso da despesa pública para lançar uma estratégia de desenvolvimento. Como foi demonstrado num estudo de 2017, para além da estabilização da economia no curto prazo, no médio e longo prazo a despesa pública tem efeitos positivos sobre o emprego, o investimento e a produtividade (ver aqui).
Ainda por cima, como concluiu este estudo, o efeito da política orçamental expansionista sobre a inflação é baixo e de curta duração. Quanto ao efeito sobre o Défice e a Dívida (em % do PIB), ele é favorável dado que a despesa bem orientada tem um efeito multiplicador sobre o PIB.
O gasto público estimula a produção que, por sua vez, distribui mais rendimento às famílias e, num segundo ciclo, estas estimulam mais produção com nova procura. Estas transações pagam impostos, o que melhora a receita fiscal. Em suma, o défice e a dívida aumentam alguma coisa mas o PIB (após alguns ciclos de procura-oferta-procura induzidos pela despesa pública inicial) sobe bastante mais (efeito multiplicador keynesiano).
Ainda assim, a política orçamental dos Estados-membros continua sujeita a um colete de forças que impede o bom uso da despesa pública para lançar uma estratégia de desenvolvimento. Como foi demonstrado num estudo de 2017, para além da estabilização da economia no curto prazo, no médio e longo prazo a despesa pública tem efeitos positivos sobre o emprego, o investimento e a produtividade (ver aqui).
Ainda por cima, como concluiu este estudo, o efeito da política orçamental expansionista sobre a inflação é baixo e de curta duração. Quanto ao efeito sobre o Défice e a Dívida (em % do PIB), ele é favorável dado que a despesa bem orientada tem um efeito multiplicador sobre o PIB.
O gasto público estimula a produção que, por sua vez, distribui mais rendimento às famílias e, num segundo ciclo, estas estimulam mais produção com nova procura. Estas transações pagam impostos, o que melhora a receita fiscal. Em suma, o défice e a dívida aumentam alguma coisa mas o PIB (após alguns ciclos de procura-oferta-procura induzidos pela despesa pública inicial) sobe bastante mais (efeito multiplicador keynesiano).
Temos assim uma fracção em que o numerador (Dívida) cresce bem menos do que o denominador (Produto); assim, a Dívida diminui em % do PIB. O mesmo vale para o Défice que todos os anos se junta à Dívida pré-existente.
Por conseguinte, o discurso das "contas certas", além de tecnicamente errado (sim, até Vítor Constâncio já o reconheceu, ver aqui), conduz o país a uma estagnação de longo prazo que nem o turismo permitirá camuflar. A erosão do Estado social nos últimos 20 anos, agravada pela perda sistemática do poder de compra dos salários e pensões, é um facto que o povo sente no quotidiano e que, reforçado pelos escândalos de nepotismo e corrupção, dá origem a uma indignação facilmente canalizada para o voto na extrema-direita.
Talvez o leitor entenda agora melhor que se trata de uma ilusão combater a extrema-direita com retórica mantendo as políticas que geram a desesperança e a raiva.
Por conseguinte, o discurso das "contas certas", além de tecnicamente errado (sim, até Vítor Constâncio já o reconheceu, ver aqui), conduz o país a uma estagnação de longo prazo que nem o turismo permitirá camuflar. A erosão do Estado social nos últimos 20 anos, agravada pela perda sistemática do poder de compra dos salários e pensões, é um facto que o povo sente no quotidiano e que, reforçado pelos escândalos de nepotismo e corrupção, dá origem a uma indignação facilmente canalizada para o voto na extrema-direita.
Talvez o leitor entenda agora melhor que se trata de uma ilusão combater a extrema-direita com retórica mantendo as políticas que geram a desesperança e a raiva.
O que se passa na Europa não é um problema técnico ou de falta de entendimento económico, o problema da Europa é a falta de democracia e de valores condizentes com sociedades avançadas.
ResponderEliminarA esquerda não pode nem deve ter medo de exigir o pleno emprego ou a transparência de um banco central que deve actuar em função de quem está em pior situação e não o contrário.
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