Nos primeiros três meses deste ano, a economia da Zona Euro teve um desempenho mais favorável do que o que estava previsto. Se, em novembro do ano passado, a Comissão Europeia apontava para uma contração do Produto Interno Bruto (PIB) da Zona Euro no último trimestre de 2022 e no primeiro trimestre de 2023, o que se registou foi uma variação nula seguida de um crescimento de 0,1% nestes períodos. Apesar de parecer positivo, o Expresso diz-nos que este desempenho "complica a vida ao BCE", visto que "há um reverso da medalha: a resiliência da economia europeia também pode significar pressões inflacionistas mais persistentes, levando o Banco Central Europeu a subir (ainda) mais os juros".
No entanto, há bons motivos para crer que a questão se coloca ao contrário: ao insistir na subida dos juros com base na ideia errada de que a melhor política monetária consiste em fixar a inflação à volta de 2%, é o BCE que complica a vida às economias da Zona Euro, prejudicando o seu crescimento no presente e as perspetivas de desenvolvimento a mais longo prazo.
O pressuposto da política monetária do BCE é o de que as economias têm melhor desempenho quando o banco central controla de forma estrita a evolução do nível geral dos preços. Só que não há evidência empírica que o suporte. A história mostra que níveis de inflação relativamente mais altos estão associados a períodos de crescimento real mais robusto, como se pode ver no gráfico ao lado. A investigação de Robert Pollin e Hannae Bouazza, investigadores na Universidade de Amherst (EUA) que analisaram uma amostra de 130 países ao longo de seis décadas, aponta para que o crescimento das economias seja superior quando a inflação se encontra entre 4% e 5%.
Mesmo olhando apenas para os 37 países classificados pelo Banco Mundial como sendo de “rendimento elevado”, com PIB per capita superior, o resultado é semelhante: as economias tendem a crescer mais quando a inflação é relativamente superior a 2%. O que isto sugere é que não faz sentido fixar limites tão baixos para a inflação. E, sobretudo, não faz sentido seguir a política de subida dos juros do BCE, que pretende controlar a inflação através da compressão da atividade económica e do aumento do desemprego como forma de reduzir a procura agregada.
Num contexto em que não há sinais de um excesso de procura agregada, os dados dão mais força à ideia de que a inflação foi originada pela subida acentuada de preços específicos (em especial na energia e noutras matérias-primas, face a disrupções na oferta), que depois se alastrou ao resto da economia. Além de não resolver estes problemas, a atual política do BCE compromete não apenas as perspetivas de crescimento económico, mas também as perspetivas de que esse crescimento seja sustentável, já que a subida das taxas de juro dificulta os investimentos necessários para a transição energética.
A subida dos preços tem sido acompanhada de um aumento acentuado dos lucros (sobretudo entre as grandes empresas) e de uma quebra abrupta dos salários reais da maioria dos trabalhadores. O problema não é a inflação em si. É a crise do custo de vida que resulta da restrição dos salários neste contexto. Em vez de subir juros, uma resposta progressista à inflação passa por tributar lucros recorde, controlar margens/preços estratégicos e promover o crescimento salarial, enquanto se mobiliza o investimento público necessário para responder aos problemas na oferta de bens energéticos e promover a transição para fontes de energia ambientalmente sustentáveis.
Muito bem!
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