segunda-feira, 15 de maio de 2023

Breaking News: Economistas apanhados em fora de jogo, outra vez

Decorre, neste momento, no twitter, um evento especialmente interessante para quem quiser perceber os problemas com a Economia dominante. Um dos líderes mundiais do campo da macroeconomia descobre, com enorme candura, que talvez o multiplicador monetário seja irrelevante.

Escreve Blanchard:
Ao rever o meu manual de macro, estou ansioso para obter informações sobre o seguinte: num ambiente de grandes reservas bancárias remuneradas e generosa provisão de liquidez pelos bancos centrais, como se deve pensar sobre o multiplicador monetário? Que se tornou irrelevante, ou não é bem assim?
Para quem não sabe, o multiplicador monetário é um conceito associado à criação de moeda, que assume que o Banco Central cria reservas - a chamada base monetária - que depois são multiplicadas pela banca comercial, completando a oferta total de massa monetária. Neste modelo, os Bancos Centrais seriam capazes de controlar a quantidade de moeda em circulação gerindo a quantidade de reservas já que o multiplicador corresponde a uma relação estável entre base monetária e moeda em circulação. 

O problema é que a criação de moeda não funciona assim. Pelo contrário, os bancos comerciais é que iniciam o processo de criação de moeda no ato de conceção de crédito à economia. As reservas são procuradas pelos bancos junto do Banco Central apenas posteriormente, para fazer face às suas necessidades, por exemplo, de pagamento junto de outros bancos. O que o Banco Central controla é a taxa de juro, para desta forma influenciar a estrutura de custos da banca e indiretamente, influenciar o investimento e o consumo no geral. Está tudo muito bem explicado no Boletim do Banco de Inglaterra dedicado ao tema da criação de moeda.

Isto está longe de ser um mero aspeto técnico, já que tem implicações fundamentais em questões como a inflação ou a despesa pública, mas, no entanto, o modelo do multiplicador monetário continua a povoar, virtualmente todos os manuais de introdução à economia e a influenciar os modelos mais complexos que informam as decisões de política económica com que somos confrontados.

Volta e meia surge lá um exemplo destes. Um leading economist descobre algo que os autores heterodoxos já dizem (sem exagero) há décadas. Autores como Paul Davidson, Charles Goodhart, Basil Moore, Thomas Palley, Randall Wray, Steve Keen e muitos muitos mais rejeitam o modelo do multiplicador monetário, nalguns casos, desde, pelo menos, os anos 70.

O já referido artigo do Banco de Inglaterra até cita três autores pós-keynesianos para mostrar a existência de uma vasta literatura que recusa o modelo do multiplicador monetário e defende a endogeneidade da oferta de moeda.

A Economia dominante lá avança, correndo e rindo, sem precisar de aderir à realidade e sem precisar de dialogar sequer com a heterodoxia que é mantida, à força, nas suas franjas. Basta ver o que aconteceu, por exemplo, a Paul Davidson.

É mais um caso para usar da imagem:


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