A informação acima é encontrável na declaração de interesses de Boris Johnson no sítio do parlamento britânico.
O deputado declarou que, a 23/11 passado, recebeu da TVI a quantia de 215.275,98 libras (247,6 mil euros), para pagar os seus "compromissos parlatórios" relacionados com a celebração do 1º aniversário da CNN Portugal. Ao todo foram oito horas de trabalho. Isso sem incluir as despesas pagas pelo canal de televisão pela viagem, alimentação e acomodação do deputado e de mais dois assessores.
Nesse mês de Novembro, Boris Johnson recebeu mais cerca de 750 mil euros em três outras palestras: uma a 9/11 para o banco de investimento de capital Centerview Partners (277.723,89 libras, ou seja, cerca de 319,4 mil euros por 9 horas de trabalho); outra, a 14/11, para o Council of insurance Agents & Brokers (por 276130 libras cerca de 317,5 mil euros por 8h30 de trabalho); mais uma a 17/11 para o grupo indiano de comunicação social Hindustan Times (por 261.652,34 libras, cerca de 300 mil euros por 8h45 de trabalho). Ao todo, o deputado recebeu um milhão de libras por alguns dias de trabalho, sem contar - como se disse - com as viagens pagas, alimentação e estadias.
Poucos meses antes, o salário médio semanal no Reino Unido foi estimado pelo organismo estatístico nacional em 617 libras.
Estes valores pornográficos revelam uma sociedade que perdeu qualquer pingo de moralidade; a arrogância descarada de quem vive e lucra nesta "bolha" social que governa os países mais ricos; a ténue linha entre a óbvia promiscuidade dos representantes do povo com os agentes dos mais poderosos e a mais pura corrupção. Claro que, assim, deputados e primeiro-ministros dificilmente entenderão o que se passa entre quem recebe 617 libras por semana e que ganhará umas 32 mil libras num ano de trabalho. Na verdade, apesar de eleitos por quem recebe essas 32 mil libras, estes eleitos não estão lá para os defender.
Não é de estranhar que, como todos os (neo)iberais, o mesmo Boris Johnson tenha pugnado por uma taxa única de IRS (flat-rate) - ver aqui (quando era presidente da Câmara de Londres) ou aqui (quando era primeiro-ministro). Ao acabar com os escalões de IRS, a tributação despenaliza os mais altos rendimentos. Bem se pode argumentar que os escalões castigam o mérito de quem se esforça na vida, que penalizam - veja-se o descaramento - quem tem de ter dois e três empregos para sobreviver (argumento dos deputados da extrema-direita em Portugal). Na verdade, a taxa única de IRS alarga as desigualdades sociais, reduz a igualdade de oportunidades, beneficia quem mais ganha e não os pobres trabalhadores.
Boris não é, contudo, um OVNI: Liz Truss foi ainda mais descarada sobre isso ao afirmar que "é justo devolver mais dinheiro aos ricos". Em Portugal, os seguidores desta imoralidade inconstitucional encontram-se no PSD (Jorge Braga de Macedo e Vítor Gaspar propuseram nos anos 80 uma única taxa de IRS), no CDS (mais comesinhos nas propostas e críticas) e mais descarados nos jovens liberais da IL - tão modernos e já tão reaccionários - bem como na extrema-direita. Nada é por acaso: eles representam esses interesses. Os verdadeiros "interesses" que eles nunca mencionam. É para eles que esses deputados trabalham.
A outra pornografia é mais pacóvia, mas tem o seu racional, igualmente imoral. A televisão "independente" TVI - que ocupa um espaço público concessionado - achou por bem pagar cerca de 250 mil euros numa operação de mercatilização de um político britânico, na expectativa de obter bem mais em receitas de publicidade, numa noite de espectáculo televisivo, com uma "palhaço" conhecido. Mesmo que tenham lucrado com a operação, é escandaloso que gente como esta aceite como normal este trato pornográfico. É igualmente revelador da propensão de uma classe jornalística que se deixa facilmente seduzir para poder pertencer - por breves instantes e sem protestos públicos - a essa "bolha" dos famosos e ricos do mundo.
Não é Boris o criminoso mas sim as entidades que lhe pagam.
ResponderEliminarHá tantos crimes em Portugal, na CGD há 14 comilões, começando pelo nº 1. É fácil ir aos milhares de contas e decretar comissões que o Zé paga. Começa na CGD, outros Bancos e empresas ligadas ao Estado para os amigos como prémio de maus exercícios de cargos públicos.
Classe jornalística? Quem são eles?
ResponderEliminarNão me diga que são os escribas dos jornais e respectivos corpos de ballet, habitualmente chamados de comentadores.
Acabe-se com a televisão privada, coio do neolismo, promotora do novo-riquismo e do luxo desembriagado. A Ana Lúcia Moniz, fugitiva aos impostos, criada nos alforges da TVI, CMTV e Benfica TV é atualmente o maior exemplo de alguém ofuscado por estas monstruosidades, mimada com luxos que depois lhe foram tirados, pelo que teve de recorrer a subterfúgios para os recuperar. Parasitas inúteis!
ResponderEliminarJosé Cristóvão: a Lúcia Moniz? Não haverá aí alguma confusão?
ResponderEliminar