No rescaldo das eleições europeias de 2019 estimou-se aqui a soma da votação na extrema-direita nos diferentes Estados membros, a rondar os 19%. Pretendia-se, sobretudo, evidenciar que a subida da extrema-direita nas eleições europeias de 2014, face a 2009 (de 7% para 11%), não representava uma «onda de choque temporária, gerada pelos efeitos das políticas de austeridade impostas pela Comissão Europeia, na sequência do impacto da crise financeira de 2008», esperando-se nesses termos um recuo com a suavização dessas políticas, depois de 2013.
Num segundo exercício, no início de 2020, procurou estimar-se a votação em partidos da extrema-direita, à escala da UE28, em eleições legislativas nacionais. A ideia era sobretudo de contrariar a noção de que votações relevantes na extrema-direita são coisa de eleições europeias, «cuja importância os cidadãos tendem a desvalorizar, aproveitando para expressar, nesse contexto, a sua revolta e descontentamento». E se é verdade que o resultado em eleições legislativas é inferior ao de europeias, a tendência de aumento é a mesma: de 8% para 14%, entre 2014 e 2019.
Mais recentemente procedeu-se a uma atualização dos resultados da extrema-direita em legislativas dos 27 Estados membros, ajustando a série à saída do Reino Unido (em janeiro de 2020). E o resultado não deixa margem para dúvidas, confirmando a perceção generalizada de que a extrema-direita continua a crescer eleitoralmente na UE, atingindo hoje, segundo os cálculos, um peso relativo de 21% (que compara com os 18% registados em 2018 e os 14% em 2014).
O mal-estar europeu não está, por isso, ultrapassado. Pelo contrário, acentua-se. São anos a fio de europeísmo neoliberal austeritário, com estagnação dos salários, transferência de rendimentos do trabalho para o capital, restrição do papel dos Estados na provisão de serviços públicos e na regulação das atividades económicas, em nome dos mercados, da concorrência sem freios e de uma economia-do-pingo que não pinga. Como assinalava aqui recentemente o João Rodrigues, «tal como o liberalismo económico, indissociável da economia convencional, abriu caminho ao fascismo, o neoliberalismo abre caminho às novas formas de fascismo que andam por aí um século depois».
A Comissão Europeia, o BCE e os governos que colaboram com o não progresso e com a não democracia têm de ser responsabilizados e cerceados, não há qualquer possibilidade de decência enquanto o rendimento do capital não for transferido de forma relevante para o trabalho.
ResponderEliminarAs exigências de princípio são salário mínimo que permita a vida saudável e pleno emprego, como podem constatar isto não tem nada de radical.
ResponderEliminarExceto que quem vota na extrema-direita não é quem passa por mais privações (essas pessoas geralmente votam à esquerda) mas sim pessoas privilegiadas e reacionárias que têm receio de perder os seus privilégios.
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