Rendemo-nos à financeirização, sem qualquer resistência. A ideia do Estado indutor do desenvolvimento foi finalmente ferida de morte pela religião de que o Estado mínimo nos levará a um estado de graça da economia. Puro dogma. Estamos destruindo as últimas forças motrizes do crescimento econômico e de intervenção inclusiva e igualitária no social. Essa minha indignação, por vezes misturada a um indesejável, mas inevitável estado de pessimismo poderia ser atribuída à minha velhice. Mas não acho que seja, não. Estou velha há muito tempo. Luto para não me deixar levar pelo ceticismo. Não é simples pelo que está diante de meus olhos. Lamento, mas não me dobro; sofro, mas não me entrego. Jamais fugi ao bom combate e não seria agora que iria fazê-lo. Há saídas para esse quadro de entropia nacional e estou convicta de que elas passam pelas novas gerações.
Excerto do último texto, de 2017, que consta da representativa coletânea Maria da Conceição Tavares. Vida, ideias, teorias e políticas, disponível gratuitamente em pdf.
Contém ainda informativos artigos de enquadramento sobre uma indispensável economista brasileira nascida na Anadia em 1930. Uma economista cultora do “método histórico-estrutural”, usado para ir às raízes das relações centro-periferia e das formas de desenvolver as últimas, em geral, e o Brasil, em particular.
Vendo e lendo Maria da Conceição Tavares, um fenómeno nas redes sociais, aprende-se muito, sobretudo a transformar a dor e a raiva, que se sente perante os economistas liberais periclitantemente hegemónicos, em energia desenvolvimentista esperançosa: nunca nos dobraremos.
Para quem quiser ver a origem da afirmação escrita no "quadrinho", aqui: https://www.youtube.com/watch?v=cUyJ7xExngY&ab_channel=RodaViva
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