O problema das porta-giratórias entre cargos em governos, empresas e instituições multilaterais não é apenas o da promiscuidade opaca, antecâmara da proto-corrupção.
É igualmente o da miscenização contaminatória das mensagens políticas que se travestem de opiniões ou pareceres técnicos, quando afinal são apenas propaganda e fabricação artificiais de consensos enviesados, em nome dos poderosos interesses de alguns à custa da vida de quase todos, chamada exploração.
Será que, quando os jornalistas fazem notícias sobre o que a OCDE (Paris) advoga para Portugal - e ouvem Álvaro Santos Pereira dizer que o BCE "faz o que tem de fazer" para conter a inflação e provocar uma quebra histórica dos salários reais (ver aqui) -, se esquecem que foi o mesmo Álvaro Santos Pereira que, há dez anos, enquanto ministro da Economia de Passos Coelho, defendeu e aplicou, entre 2011 e 2013, uma política que reduziu a segurança no emprego (embaratecendo o despedimento, ao cortar em dois terços as compensações por despedimento); que cortou a metade a duração do subsídio de desemprego, acabou com o seu montante mínimo e reduziu o seu montante máximo e ainda o cortou em 10% ao fim de 6 meses para forçar os trabalhadores desempregados a aceitar empregos a baixos salários); que manteve a caducidade das convenções coletivas ao mesmo tempo que estigmatizava o trabalho sindical, como representante de "interesses instalados" responsáveis pela "rigidez da legislação laboral"; que transformou dias de lazer em dias de produção - acabando com 4 feriados e o descanso por trabalho suplementar; que cortou a metade a remuneração nos feridos e no trabalho suplementar; que desestabilizou ainda mais os horários de trabalho; que desequilibrou ainda mais a relação entre entidade patronal e trabalhador... ?
Vítor Gaspar, ex-ministro das Finanças de Passos Coelho, depois de ver a sua política de "austeridade expansionista" redundar num enorme fiasco - com massas de trabalhadores a fugir do país e, mesmo assim, a ver a subutilização do trabalho atingir quase 1,5 milhões de pessoas; depois de ter querido fugir do Governo sem que o deixassem; depois de ter tentado roubar, de um golpe 7% aos salários dos trabalhadores, através do aumento da TSU dos trabalhadores (de 11% para 18%) , ao mesmo tempo que descia a do patronato (de 23,75% para 18%); depois de ter visto essa medida chumbada pelo povo na rua; e depois de a ter transformado no "enorme aumento de impostos" para trabalhadores e pensionistas em 2013; finalmente, conseguiu sair do país... para ir para o FMI, ganhar tanto... sem pagar impostos.
Em 2012, o conjunto de alterações legais ao Código do Trabalho, representou uma transferência dos rendimentos dos trabalhadores para os donos das empresas estimada - por defeito - em cerca de 3 mil milhões de euros anuais. (ver aqui)
Vinte anos depois e fruto da política seguida que estigmatiza a subida salarial como fonte de uma falaciosa "espiral inflacionista"- ao mesmo tempo que elogia a fabricação de uma recessão pela subida das taxas de juro para impedir que o descontentamento redunde numa subida salarial - as medidas adotadas que abrem porta ao livre curso do aumento dos preços representam - de novo! - uma transferência de rendimento estimada num valor bem acima da verificada nos tempos do Governo Passos Coelho/Portas. (ver aqui)
Quando os dois principais partidos, aceitam aplicar uma política fabricada algures no centro da Europa, o resultado - na verdade - apenas pode ser... o mesmo.
E a resposta a essa política, também.
Sempre me fez confusão esta gente não ter qualquer problema de consciência com esta passagem, os interesses dos contratantes é na grande maioria das vezes contrário aos interesses de um estado ou de uma nação que era para quem estes senhores trabalhavam. O que faz com que com uma frequência absurda esta gente termine do outro lado da barricada? Há muita coisa que está por explicar...
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