quarta-feira, 12 de outubro de 2022
O Neoliberalismo só funciona com o papá Estado a ajudar - o caso dos fundos de pensões britânicos
Desde há algumas semanas, o banco central inglês, o Banco de Inglaterra, tem em curso uma operação para conceder uma linha extraordinária de liquidez destinada a combater a instabilidade nas cotações dos fundos privados de pensões britânicos, que revelaram sinais de elevada fragilidade.
Durante a tarde de ontem, o Governador do Banco de Inglaterra, Andrew Bailey, anunciou que os fundos de pensões privados tinham até sexta-feira para reequilibrar a sua posição financeira, porque iria retirar o apoio extraordinário em vigor.
Resultado? A cotação da libra registou uma queda abrupta e instantânea. Motivo? Os agentes financeiros estão pouco convencidos de que os fundos de pensões privados se aguentem sem a ajuda do banco central.
Não é claro se este efeito na cotação da libra se prolongará ao longo do dia de hoje, já que a cotação de uma moeda depende de múltiplos determinantes. Mas esta queda instantânea em virtude das declarações do Governador do Banco Central não deixa dúvidas sobre o ceticismo dos mercados quanto à saúde financeira dos referidos fundos.
Sem surpresa, e pela enésima vez, temos um vislumbre do que o regime de capitalização privado de pensões com que os nossos neoliberais mais radicais sonham verdadeiramente representa: uma perpétua ameaça à estabilidade financeira internacional e ao direito a um sistema de pensões sólido, só mantido à tona por ação de um banco central público.
É a eterna ironia do liberalismo. Quando os tempos se acinzentam, corre a chamar o fantasma Estado para o salvar.
Os que afirmam que aprofundar o neoliberalismo em Portugal "funciona e faz falta" ou estão capturados pela ingenuidade ou pela falta de atenção aos últimos trinta anos de financeirização do capitalismo.
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