Caro Dr. Bernanke
Muito obrigado pelo envio do seu artigo sobre a Grande Depressão. Pediu-me comentários e assumo que não se trata de um mero pedido formal. Temo que não os considere bem-vindos.
Creio que forneceu uma solução engenhosa para um não-problema. A necessidade de demonstrar que as crises financeiras têm efeitos deletérios na produção surge apenas nos recintos escolásticos de Chicago.
Assim começa a carta (minha tradução) que Charles Kindleberger enviou, em 1982, a Ben Bernanke sobre o artigo que deu o “Nobel” a este último, em 2022 (via Hugo da Gama Cerqueira). Kindleberger foi um economista e historiador económico do MIT. Não obteve este reconhecimento, porque não acreditava em ficções como “expectativas racionais, taxa natural de desemprego e mercados eficientes”.
Sabia demasiada história e estava demasiado influenciado, como o seu livro já clássico sobre manias, pânicos e crises ilustra, por um economista herético chamado Hyman Minsky, o que forjou a hipótese da instabilidade financeira do capitalismo e que é hoje muito mais reconhecido do que no seu tempo. Obviamente, Minsky também não podia ganhar o “Nobel” com tais preparos realistas.
É como se a carta antecipasse o essencial da economia convencional, dominante nas últimas décadas: o que é válido não é novo, e já foi dito de forma mais clara, o que é novo é invalidado por factos tão brutos quanto teimosos.
Conheço o livro do Charles Kindleberger. Alguma recomendação de literatura mais recente evidenciando o aumento da frequência das crises financeiras com o advento do modelo neoliberal do capitalismo?
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