Foram recentemente publicados dados interessantes sobre as opções das famílias relativamente ao regime de ocupação da habitação. Ao contrário do que muitas vezes se pensa - sugerindo-se que as pessoas foram «empurradas» para a compra de casa, dada a escassa oferta no arrendamento - a casa própria é mesmo a opção preferida das famílias.
De facto, e de acordo com os dados do INE, cerca de 45% das famílias proprietárias preferiram mesmo ter casa própria (para lá das razões financeiras), representando apenas 2%, neste universo, os agregados que preferiam ter arrendado. Isto quando, entre as famílias arrendatárias, 64% preferia ter comprado casa, situando-se em apenas 10% os casos de preferência pelo arrendamento. E se 38% das famílias proprietárias consideraram que a compra foi o melhor investimento, apenas 3% das famílias arrendatárias depreciam a aquisição, desse ponto de vista.
Estes dados são importantes, ajudando a desconstruir a ideia, que persiste, de que a crise do arrendamento é uma «crise de confiança» dos proprietários (alegadamente suscitada pela intervenção do Estado e, em particular, pelo congelamento das rendas) e não o reflexo da preferência das famílias pela aquisição de casa própria, sobretudo a partir dos anos noventa, impulsionada pela redução das taxas de juro e pelos apoios e benefícios fiscais no acesso ao crédito.
De resto, e como já assinalámos repetidamente neste blogue (ver por exemplo aqui, aqui ou aqui), o peso relativo das «rendas antigas» foi-se tornando manifestamente marginal, perdendo capacidade explicativa da alegada crise de confiança dos arrendatários, nomeadamente na sequência da liberalização para os novos contratos, em 1990, e da aprovação da «Lei Cristas», em 2012, responsável por um aumento exponencial dos despejos.
Uma conclusão bastante forçada a sua caro Nuno Serra, por razões óbvias. A opção pela compra de casa foi uma opção sensata no contexto da redução das taxas de juro e da relação entre a oferta de fogos disponiveis para arrendar e o seu preço.
ResponderEliminarAs famílias perceberam muito bem que o Estado tinha liquidado o inquilinato cooperativo e a construção de habitação para arrendar.
Recordo:
ResponderEliminar- programas públicos de arrendamento que terminavam com a apropriação do imóvel pelo arrendatário ao fim de um longo período.
- a emigração motivada pela ambição de poder vir a ter casa própria.
...tudo para concluir ser essa uma bem natural, tradicional e promovida ambição.
Toda a questão se resume a saber se é realista ignorar que a opção pela aquisição no mercado de casa própria está sustentada por expectativas de rendimentos estáveis numa economia estável ou de crescimento sustentável.
Na ausência desses pressupostos, sendo o emprego instável, o mercado de arrendamento, se a preços razoáveis, são a opção conveniente.
Se esses são os dados publicados, não são realmente interessantes, pelas seguintes razões:
ResponderEliminar1| confunde-se "casa própria" com propriedade.
2| confunde-se crédito com compra.
3| confunde-se "compra de casa" e "casa própria" com investimento.
4| confunde-se "casa própria", "compra de casa" e mesmo "investimento" com uma mercadoria qualquer.
5| "casa" está lançada completamente ao abstrato, mas apenas como produto de mercado.
6| confunde-se "famílias arrendatárias" e "famílias proprietárias" (uma comparação socialmente fantástica) apenas como famílias consumidoras de mercado. Logo, "preferências" (termo sutilmente utilizado) são "preferências de mercado". Aliás, o fato das "famílias arrendatárias" estarem quase completamente absorvidas pelo mercado de habitação (ou melhor, pela habitação de mercado) é capaz de retorquir qualquer tentativa de afirmação do autor sobre as "preferências". (o que nos leva ao ponto seguinte).
7| parece contraditório dizer, no primeiro parágrafo, "ao contrário do que muitas vezes se pensa - sugerindo-se que as pessoas foram 'empurradas' para a compra de casa", e depois, no penúltimo, "o reflexo da preferência das famílias pela aquisição de casa própria, (...) impulsionada pela redução das taxas de juro e pelos apoios e benefícios fiscais no acesso a crédito". Em que ficamos?
É completamente inaceitável que a casa "património" seja abordada nos mesmos termos que a casa própria ou primeira casa e claro que todos os cidadãos devem ter o direito a adquirir uma casa.
ResponderEliminarO que é que António Costa ou o PS fizeram para reverter a "Lei Cristas"?
ResponderEliminar"António Costa, é dos governantes que têm mais casas, sendo que duas delas foram herdadas (uma em Goa e outra no Algarve), estando em curso a compra de uma sexta."
ResponderEliminarhttps://eco.sapo.pt/2022/08/24/ministro-da-economia-e-o-mais-rico-e-antonio-costa-e-dos-que-tem-mais-casas/
António Costa, Primeiro Ministro "socialista" de um país com grave crise habitacional.
Crise? Crise para quem?
Ana Gomes é outro exemplo de "socialismo" que gosta muito de colecionar imobiliário...
Aqueles que se dizem da esquerda consequente acham que podem contar com o Partido "Socialista" para alterar a realidade pantanosa em que Portugal se encontra há tanto tempo?
Caro Nuno,
ResponderEliminarObviamente que osportugueses preferem comprar casa porque é um negócio muito mais vantajoso, e não porque prefiram. E pode bem ser que seja mais vantajoso porque para compensar os riscos de arrendar (como senhorio), os preços sobem para compensar esse risco. Este problema é bastante complexo e uma análise de um curto artigo é insuficiente para perceber o problema. Eu tenho casa própria e preferia mil vezes alugar, pela flexibilidade. Mas é tão por negócio que me obrigaram a "preferir" comprar. Pior, para quem tem poupanças e não domina os grandes negócios da bolsa cada vez mais casino, a única opção é o imobiliário. Investir no imobiliário é certamente a 1a opção da classe média e até uma parte da média alta precisamente por causa disso.
Abraço,
PG