Alguém deveria informar Milhazes, e seus congéneres, que esta forma de combater o Partido Comunista Português não resulta. Estão a radicalizar quem tiver uma mera simpatia, a chamar para as trincheiras quem só estava a apanhar sol. Sá Carneiro disse algumas boas frases e não tenho nada o costume de as citar, mas aqui não resisto: “A melhor maneira de combater o comunismo é melhorar as condições dos trabalhadores.” Sá Carneiro ao menos sabia qual era — e é — a empreitada do PCP.
Carmo Afonso é particularmente certeira na sua crónica da passada sexta-feira no Público, dando pretexto para duas ou três notas.
Em primeiro lugar, o espectáculo deplorável, e sem contraditório, de Milhazes e companhia é a demonstração do declínio editorial profundo de uma comunicação social dominante que dá infinitamente mais palco a fascistas de mercado do que aos que são fiéis ao melhor da Constituição da República Portuguesa. A impotência da regulação no neoliberalismo, neste caso da ERC, fica demonstrada em mais uma campanha contra a Festa do Avante na SIC. O declínio abismal da qualidade televisiva é um efeito da sua submissão ao nexo-dinheiro, uma grande obra iniciada pelo cavaquismo.
Em segundo lugar, Sá Carneiro viveu num tempo em que o chamado reformismo do medo, dada a correlação de forças nacional e internacional, até chegava à cultura da direita, sobretudo depois de derrotado o fascismo. Os principais beneficiários foram os trabalhadores. Do marxista Eric Hobsbwam ao social-democrata Thomas Piketty, passando por Pierre Rosanvallon, discípulo do historiador anti-comunista François Furet, o breve século XX tem vindo a ser reinterpretado à luz do efeito externo do socialismo realmente existente: sem o medo da revolução a reforma social-democrata não teria cogitado tantos apoios entre uma certa elite mais conservadora pelo menos até aos anos setenta. Depois de 1989, outra foi a História, realmente.
Em terceiro lugar, num contexto de “policrises” geradas pelo neoliberalismo, a sabedoria convencional no fundo, bem lá no fundo, sabe que o marxismo mais escorreito e despretensioso tem cada vez mais poder explicativo e prescritivo, até porque não lhes passa pela cabeça melhorar as condições dos trabalhadores, antes pelo contrário. Daí que insistam nestas campanhas perversas, onde vale tudo.
Bastava Milhazes ter visto o seu visto ser renovado e nada disto teria acontecido, seguramente estaria de bandeira em punho e a defender outra coisa totalmente diferente. As TVs fazem tudo por audiências, até dar tempo de antena a alguém que é claramente ressabiado e traumatizado e que por isso diz o que diz e defende o que (agora) defende.
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