sábado, 18 de junho de 2022

Deem uma oportunidade à paz

Um estudo recente realizado pelo Conselho Europeu das Relações Internacionais (ECFR), sobre a Guerra na Ucrânia, tem dados muito interessantes. Um deles, talvez o mais surpreendente, revela que, quando questionados sobre a prioridade ao diálogo e à paz ou a prossecuçao da punição da Rússia pela invasão, os inquiridos de dez países europeus preferem, de forma clara, a primeira abordagem ao conflito (a busca da «paz», em vez da «justiça»).


Nao tendo esta sondagem sido aplicada em todos os Estados membros, a população dos países inquiridos representa, contudo, 79% do total da UE28. Pelo que, ponderando os resultados pela população de cada país, se verifica que cerca de 38% concordam que o mais importante para resolver o conflito seria «parar a guerra o mais rapidamente possível, mesmo que isso implique a cedência de território da Ucrânia à Rússia», situando-se em 21% os que subscrevem que o importante é continuar a «punir a Rússia pela agressão à Ucrânia, mesmo que isso implique que mais ucranianos morram e sejam deslocados».

Por sua vez, os inquiridos que não se reveem em nenhuma das duas proposições (indecisos) representam apenas 19% do total, sendo 23% os que revelam não saber responder (ver nota metodológica no final do estudo). A Itália, Alemanha, Roménia e França destacam-se pelos valores mais elevados de preferência pela «paz» (acima de 40%) e a Polónia pelo facto de ser o único país, nos dez considerados, em que a preferência pela punição e pela «justiça» supera a opção pelo diálogo e a «paz». Verifica-se também, por último, uma tendência para que o peso relativo dos indecisos seja superior nos países onde a opção pela «justiça» é mais relevante.

Ao dar nota deste estudo, o Expresso assinala que o mesmo evidencia «divisões na Europa», com Portugal a integrar o «grupo de países que prefere a paz à justiça na Ucrânia». Mas para lá desta divisão no seio das opiniões públicas, deve assinalar-se uma outra, bem mais relevante: a dissonância entre o que pensam as pessoas, inclinadas a optar pelo caminho do diálogo e da paz, e o que decide a larga maioria dos governos europeus, que optaram pela via da punição e da justiça, sobretudo depois da afirmação de que a Rússia não podia vencer a guerra, pondo assim fim a uma fase em que havia pelo menos alguns sinais de se estar a apostar no diálogo e nas negociações.

12 comentários:

  1. Não espanta a separação entre a tomada de posição dos governos dos países da Europa e dos cidadãos, os interesses não são os mesmos, e isto é grave, quando os governantes não representam os governados representam-se a eles próprios e a ilegitimidade disto é total, os cidadãos têm de pôr verdadeiramente em causa as elites que os subjugam.

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  2. Não sei se percebi bem: perguntaram a cidadãos não-ucranianos se a Ucrânia devia ceder parte do seu território à Rússia para terminar mais rapidamente a guerra?

    Parece-me estranho ...

    E não havia uma sub-pergunta associada quanto à parte da Ucrânia que esses cidadãos não-ucranianos estariam dispostos a ceder? 25%? 50%? 99%?

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    1. Concorda então com a Sérvia que não reconhece a independência do Kosovo e o quer de volta?

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  3. É curioso como quem se diz a favor da Paz parece querer insistir em cedências por parte do agredido para a alcançar (como se pudéssemos ditar à Ucrânia o que deve fazer, numa clara violação do princípio da soberania dos Estados, que noutras circunstâncias é invocado neste espaço com frequência como sendo o nec plus ultra das relações internacionais). Ou seja, beneficia-se o infrator...

    E a Rússia? Vocês não têm uma palavra contra o agressor, Nuno Serra?

    Punir o agressor, de facto, implicaria não apenas expulsar as tropas russas da Ucrânia ou obrigar a Rússia a pagar reparações de guerra, ou ainda a julgar os seus responsáveis políticos que tomaram a decisão de invadir (e os militares que cometeram crimes de guerra), como também obrigá-la a desmilitarizar uma parte do seu território, reduzir o seu nível de tropas, ou mesmo ceder território aos vizinhos (como aconteceu com a Alemanha após a I e a II Guerra).

    Ninguém, que eu saiba, defende isso... Defende-se, tão só e apenas que a Rússia cumpra as suas obrigações à luz do Direito Internacional (e para o inferno com o whataboutism de que os EUA invadiram o Iraque)...

    Mas ainda bem que os responsáveis políticos não seguem o caminho mais fácil e mais popular (como queria Jerónimo de Sousa, para quem o preço dos combustiveis é mais importante do que as violações dos direitos dos ucranianos, pelos vistos), porque seria um caminho injusto...

    Racional, porventura, mas injusto...

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  4. Só as vítimas têm o direito de decidir se aceitam a paz sem justiça. Decidir pelas vítimas ou forçá-las a aceitar é indigno.

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  5. Eu, nesta sondagem manipuladora, estaria nos "indecisos", porque a minha posição é que agora que a ditadura da Ucrânia com ajuda dos genocidas da NATO armou NAZIS para violar a PAZ de Minsk e continuar a matar no Donbass, a minha prioridade já não é a PAZ (isso foi durante os últimos 8 anos), mas sim a Rússia acabar com aquele regime, com aqueles tatuados, e dar uma lição à NATO. No entanto, nesta sondagem manipuladora (como tudo no Ocidente desde as "armas de destruição massiva no Iraque") eu seria catalogado como "indeciso". Não, não sou indeciso, sou mais informado que a média e tenho total convicção na minha posição!
    Note-se também a manipulação de chamar "justiça" à posição de quem quer insistir na asneira de dar armas a nazis e continuar a agressão da NATO. O Ocidente está podre!

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  6. A única pergunta séria é:
    «Deve apoiar-se a Ucrânia na defesa do seu território?»
    Aos ucranianos cabe decidirem se arriscam as vidas pelo seu território.
    Aos outros o decidirem se tomam sobre si sacrifícios para os ajudar.

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  7. Os cidadãos dos países uropeus inquiridos e que expressaram o seu apreço pela Paz,não fazem mais do que mostrar o repúdio e a rejeição de qualquer disputa ou conflito pelos meios bélicos.Este resultado nem surpreende,nem exclui a condenação da atitude de beligerância adoptada como solução por uma as partes,que em nenhuma ocasião se manifestou a favor de um cessar fogo.

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  8. Onde esta a democracia na EUROPA? Estas preguntas foram feitas aos cidadoes EUROPEUS e a maioria dizem-se a favor da PAZ Mas o unico governante que fala de paz e o Macron.Quando e que os politicos houvem os seus cidadoes? DEMOCRACIA!!!!

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  9. As opções parecem-me manipuladoras; porque nao "o importante é a paz, mesmo que isso implique que a Russia abandone as populações russofilas da Ucrânia"?

    E a pergunta do "punir" também nao faz muito sentido, porque estou convencido que a maior parte dos defensores da ajuda militar à Ucrânia o fazem nao com um raciocionio "punitivista" ("a Rússia merece ser castigada"), mas com um raciocinio puramente pragmático (" para a Ucrânia conseguir repelir a invasão, precisa de apoio")

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  10. A via nunca poderá ser apoiar um imperialismo para combater o outro!

    Numa posição de completa subordinação, submissão e obediência servil, todos os órgãos do poder e seus representantes cumpriram o ritual pré-estabelecido e foram ao beija-mão virtual de Zelensky, o alter-ego de Biden, prestando, desse modo, vassalagem e todo o apoio ao imperialismo americano, à NATO, ao imperialismo europeu, concordando e assinando a vinculação nacional à terceira guerra mundial. A História por mais que a branqueiem não vai esquecer a sua responsabilidade neste acto criminoso.

    Zelensky, obviamente, desempenhou o papel que lhe cabe, no périplo que lhe destinaram. Em nome da PAZ, Zelensky, tentando emocionar de forma primária o auditório, repetiu-se e pediu armamento e mais armamento, sobretudo armamento pesado para “defender” a Europa, quiçá o planeta, ao mesmo tempo que faz do povo ucraniano um povo mártir numa guerra inter-imperialista expansionista e de pilhagem de recursos e matérias-primas que não é sua. Uma coisa é certo que liga Putin, Biden e Zelensky – o seu anti-comunismo.

    Passados “apenas” dois meses desde o início da “operação militar especial”, a quantidade de armamento de toda a espécie, que tem passado pela fronteira da Ucrânia, atingiu números astronómicos. Os milhares de milhões de dólares e euros investidos nesta guerra não só agora, mas já anteriormente aquando do seu verdadeiro início, (como já não escondem), são verbas obscenas que deixaram de poder ser investidas no desenvolvimento da sociedade humana.

    São os próprios Estados Unidos que hipocritamente afirmam não saber em que mãos está esse armamento! Amanhã, virão dizer que não sabiam que estavam a armar milícias nazis em todo o mundo! Eles só enviam as armas! A responsabilidade da distribuição é dos ucranianos, dizem! Mas, tudo em nome da paz, Claro! Tudo para combater o seu inimigo russo, num combate que lhe vai permitindo, paralelamente, dominar a União Europeia, obrigando-a a maiores investimentos nas forças armadas, dotando-as de capacidade ofensiva substancial preparando-se, assim, para um conflito mundial frontal e aberto, nem que para isso tenha de destruir os povos da Ucrânia. Isto sim, é um autentico genocídio.

    É o próprio Zelensky que, sem medos, afirma: “Há quem no ocidente não se importe com uma longa guerra, porque isso significaria esgotar a Rússia, mesmo que isso represente o desaparecimento da Ucrânia e o sofrimento do seu povo.” E ele, como já provou e está a provar, também não se importa.
    É nesse contexto que não podemos deixar de afirmar e acusar claramente: todos os que subsidiam esta guerra, com armas, com equipamentos, com dinheiro, com sansões, com participações em legiões estrangeiras, à semelhança de Napoleão, sabem o que estão a fazer – estão a intervir e a participar, porque escolheram e provocaram esta guerra como o único meio de vencerem a crise que está em pleno movimento e em que se afundam. É essa condição inerente ao capitalismo que pretendem superar.

    Afinal, o povo ucraniano morre de fome e de sede, mas o espaço da Ucrânia está atafulhado de armas sofisticadas, o financiamento não falta, e mercenários também não!

    Quando chegar a altura da repartição, Zelensky vai exigir o seu quinhão. Mas pagará Roma, desta vez, a traidores?

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  11. A escolha da opção paz, mais não é que a defesa de interesses próprios. Eu como portuguesa, considero que a defesa dos meus interesses passa pela obtenção da paz o mais rapidamente possível. É o melhor para todos nós portugueses.

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