O jornal Público, 14/4/2012 |
Ainda há dias, o director do jornal Público, Manuel Carvalho repetia uma coisa que não é verdade.
Digo "repetia" porque é um argumento que, de ora em quando, surge pela boca de responsáveis ou deputados do PSD ou do CDS (quando havia). Ou seja, que nenhum desses partidos quis aplicar a "austeridade", mas aplicou porque: 1) foi esse o Memorando de Entendimento (ME) assinado pelo PS de Sócrates e os acordos são para cumprir; 2) porque era necessário dada a situação catastrófica deixada pelo PS de Sócrates e não havia outra alternativa.
Ora, quanto ao 1), não é verdade, porque são facilmente recuperáveis as declarações entusiasmadas e eufóricas de Passos Coelho de que o ME era uma boa base de trabalho e que era preciso ir "além da troica". Disse-o nomeadamente em concertação social, para justificar a sua agenda "reformista", nomeadamente em legislação laboral. Está nas actas. Era a "austeridade" virtuosa. O recorte do jornal Público (acima) já o provava ... há dez anos! 2) também não é verdade, porque havia alternativa. Aliás, a "austeridade" era uma política ineficaz face aos objectivos traçados - e a prova disso foi o desastre criado em 2013 com 25% da população activa no desemprego. O economista António Borges desmultiplicava-se em espadeiradas aos empresários que, no terreno, gritavam estar sem procura! Pois, a receita deu maus resultados e foi preciso mudar o "disco": passou a criticar-se o Memorando assinado por José Sócrates...
Sobre os falsos pilares teóricos da "austeridade" e, como escreve o Paulo Coimbra, sobre o seu sinal de classe, podemos voltar, um dia, a eles. E discutir se este OE para 2022 é de "austeridade". Mas para já, voltemos ao jornal Público.
Ora, há dias, Manuel Carvalho lá caiu nesta esparrela:
Lá está o "erro" mil vezes repetido. E foi apenas há uns dez anos e já estamos a rever a História...
Na realidade, o que está subjacente a esse erro é que Manuel Carvalho quer passar a austeridade apenas para o "colo" do PS: o ME de 2011 era "austeridade", o OE para 2022 é "austeridade". Mas no fundo não sabe o que defender.
Manuel Carvalho acha "perigoso" um cenário em que haja uma "perda de rendimentos" quando os aumentos salariais não compensam a inflação esperada ou verificada. E tem razão. Os seus efeitos económicos arriscam-se a aproximar-se dos de 2010/2013 (retracção da procura e maior probabilidade de recessão). Gosto particularmente da escolha de palavras: "liberta os danos da austeridade"! Mas ao mesmo tempo, não vê alternativa: se o Governo sobe os salários, "rega a fogueira com gasolina" (supõe-se porque gera uma "espiral inflacionista"). E nesta hesitação, não está só.
No último programa O outro lado, na RTP, foi um pouco embaraçoso ver o deputado do PSD, António Leitão Amaro a criticar a "austeridade implícita" - porque é vantajoso mostrar o PS em contrapé já que prometeu voltar a página da "austeridade" - mas ao mesmo tempo a esquivar-se a responder à pergunta directa "apoia ou não uma subida salarial". Em seu lugar, esgrimiu o velho e esgotado mantra de que não se deve aumentar salários antes de criar riqueza e que o que importa é produzir riqueza, apoiando as empresas... Uma tristeza, porque escamoteia que durante muitos anos esse mantra serviu para que a produtividade tivesse subido mais do que os salários, fazendo cair o peso dos salários no conjunto do PIB.
Do ponto de vista teórico, a direita continua um deserto. Mas veremos se o PS não se arrisca a cair no mesmo diapasão. Para já, os sinais não são nada encorajadores.
Sempre achei Manuel Carvalho um dos perfeitos “bozos” que vagueiam na imprensa portuguesa! Haja paciência!
ResponderEliminarAté parece que saiu do Porto prá capital pq lá era mto fraquinho. Não consigo ler os editoriais dele. Qd fala em comentários televisivos, entedia com tt lugares comuns. É mm daquelas pessoas que não tem qq chama nem chaminha. Talvez um led daqueles mto fraquinhos que se carregam numa porta USB!
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