segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Inglória


No tempo do fascismo, parece que os comunistas portugueses eram máquinas de matar ao serviço de russas fatais do KGB: a linha político-ideológica dominante da primeira temporada da série Glória, que vi recentemente, numa frase. É lamentável, sobretudo se pensarmos, e eu estou a fazê-lo, em homens imprescindíveis, como Jaime Serra, e logo nos métodos da Acção Revolucionária Armada (ARA) do PCP, desenhados para que não houvesse vítimas mortais.

Pode ser desconhecimento meu, mas para lá de exclamações – “Que orgulho! É a primeira série portuguesa da Netflix! É tão profissional e tem tido tanto sucesso!” –, ainda não li um tratamento crítico adequado deste entretenimento tão competente – bons atores, boa reconstituição formal da época – quanto desmemoriado. E não sou eu que vou fazer a desmontagem detalhada do medíocre argumento, perigosamente revisionista, e de tudo o que vem por arrasto, naturalmente. 

Fez-me apenas lembrar uma passagem de Walter Benjamim (Sobre o Conceito da História): “Só terá o dom de atiçar no passado a centelha de esperança aquele historiador que tiver apreendido isto: nem os mortos estarão seguros se o inimigo vencer. E este inimigo nunca deixou de vencer.” 

Haja centelhas, então.

1 comentário:

  1. Bem me parecia que não era o único a achar essa série propaganda anti-comunista. Gostava de saber se quem fez o guião da série tem conhecimento de UM único caso de um assassinato cometido por comunistas em Portugal durante o Estado Novo (sem ser algum muito raro caso de auto-defesa). Mataram foi pouco pois os fascistas continuam à solta, como se pode ver na eleição do mês passado.

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