terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

A área política do BE é pró-russa? Desconhecimento ou má-fé


Não sou membro do BE, mas é do seu posicionamento geopolítico que me sinto mais próximo no espectro partidário português. É possível ser crítico de Putin sem comprar a narrativa da NATO. A NATO não é a Internacional Democrata. Muito pelo contrário. Faz alianças com os regimes que atentam contra os direitos humanos e promove guerras com fins de hegemonia geopolítica. 

Há uma tentativa pública de tentar colar essa área política a Putin. É conveniente ao extremo-centro que precisa disso para amnistiar o seu posicionamento. "Nós ou a barbárie" é um instrumento panfletário que alimenta o medo de onde extrai dividendos políticos. Essa atitude revela o mais básico oportunismo, sustentado no desconhecimento ou na má-fé.

As partes constitutivas do BE sempre estiveram, mesmo na sua raiz organizacional, fora do espaço de influência soviético. O anti-reviosinismo da UDP declarava a  URSS como social-imperialista desde o XX congresso do PCUS , o  PSR repudiava a experiência soviética além da morte de Lenine, os reformistas do PCP que vieram a integrar a Política XXI tinham como principal ponto comum a crítica ao socialismo real . 

Quando o BE foi constituído, todos os seus fundadores concordaram repudiar experiências de socialismo real assentes no partido único. 

De caminho, essa área política tem denunciado Putin como um plutocrata, um déspota e um apoiante da extrema-direita. Nada de esquerda existe vagamente na Rússia do século XXI. 

Insinuar que essa área política está subordinada a Moscovo é, pois, do ponto de vista factual, estritamente errado. 

Só o não-alinhamento respeita os valores da paz e da solidariedade internacionais. Claro que a área polítca do Partido Socialista não gosta de ouvir isto. Afinal, o PS sempre foi o cão do dono da NATO e dos EUA em Portugal desde o 25 de Abril. Kissinger, esse democrata, sempre foi "muito lá de casa". 

 O PS, que adora lançar a cartada da social-democracia nórdica para seduzir eleitorado de esquerda, poderia aprender com a social-democracia sueca da década de 70 as virtudes do não-alinhamento. Mas não pode ser. Afinal, historicamente são eles que estão bem enfeudados. 

Podem ficar com sangue nas mãos. Mas não em nosso nome. 


12 comentários:

  1. Neste domínio, o BE está com Adolfo Mesquita Nunes, como se viu ontem pelo debate em relação ao mesmo tema.
    Talvez, a melhor pergunta seria esta: A área política do BE considera Joe Biden um homem de esquerda?

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  2. Sucede que há um pequeno problema quando, em face daquilo que é a clara provocação russa e atual agressão à integridade territorial da Ucrânia, se diz simplesmente que afinal os outros são iguais e que por isso o melhor é o não-alinhamento.

    É que lamento, aqui, tal como na agressão americana contra o Iraque, a neutralidade não é possível.

    Se a NATO tem razão, então vale a pena apoiar a posição da NATO, independentemente de ser a NATO que a defende.

    Até porque, cabe notar, nem por um momento se sugeriu que essa organização deveria intervir no conflito. Quando muito, ela pode ser acusada de escalada verbal, mas a escalada militar, aquilo que realmente conta, está do lado russo...

    Quanto à crítica do BE a todas as ditaduras, a começar pela plutocracia angolana, só posso assinar por baixo. Ainda me lembro da vergonha que foi ver todas as bancadas, salvo alguns deputados do PS, do PCP ao CDS, votar contra a resolução do BE que condenava a detenção dos ativistas pró-democracia em Angola. Se instância houve de coligação negativa, foi essa.

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  3. A ânsia de combater a NATO põe certa esquerda capaz de acomodar o imperialismo russo.

    A NATO é a exacta medida da cobardia das democracias europeias de recusarem uma política de defesa autónoma, evitarem as despesas que isso acarreta, usufruir do pacifismo parvo que isso consente, a troco do comodismo de servir o império mais democrático do planeta.

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  4. Há vários pontos de partida para a discussão deste assunto - entenda-se, de saber o que está verdadeiramente em causa, para além da eugenia panfletarizada oficial. Como admito que o Miguel Sousa Tavares seja mais ou menos insuspeito de simpatias que pudessem ofender as virgens, atrever-me-ia a partilhar convosco a opinião que ele verteu no Expresso:

    "Entretanto, fui lendo, aqui e ali, os nossos ‘especialistas’ no assunto — que são sempre os mesmo dois ou três a quem a imprensa dá palco, formatados em cursilhos nos Estados Unidos e doutrinados nos cocktails do 4 de Julho na embaixada americana.

    De tão preguiçosos e desequilibrados, os seus argumentos chegam a ser pungentes. O mais irritante é o da “invasão e anexação da Crimeia ucraniana” em 2014.

    Mais uma vez: a Crimeia nunca foi ucraniana, é russa há 250 anos, com a breve excepção do período entre a independência da Ucrânia, em 1991 e 2014. Mesmo quando o ucraniano Nikita Khrushchov, secretário-geral do PCUS, resolveu, numa noite de bebedeira, integrar a Crimeia na Ucrânia, as consequências práticas foram nulas ou puramente administrativas, pois todas — a Crimeia, a Ucrânia e a Rússia — faziam parte da URSS, governada por Moscovo.

    Quando a Ucrânia se tornou independente, o normal é que tivesse devolvido a Crimeia (habitada por 65% de russos e 15% de ucranianos) à Rússia, e não que tivesse ficado à espera que a Rússia se conformasse com a perda de um território que é para ela o que o Algarve é para nós.

    O segundo argumento, que repetem até à náusea e sem corar, é que tudo isto deriva da insustentável incapacidade de Putin conviver com Estados democráticos às suas portas. Não se trata, como dizem os russos, de uma questão de segurança: de verem crescer uma aliança militar, do Báltico até ao Bósforo, que nasceu para fazer frente a outra que já desapareceu, mas que, apesar disso, não pára de crescer, de se expandir e de aumentar os seus gastos militares, que já são dez vezes os de Moscovo. Não, juram eles, o que incomoda Putin não é esta postura ‘defensiva’ da NATO, não é o cerco militar, que qualquer criança que olhe para um mapa percebe: é o ‘cerco democrático’".

    Miguel Sousa Tavares no «Expresso»

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  5. O Jaime Santos deve ignorar que os americanos patrocinaram activamente o derrube de um governo ucraniano legítimo que se dava bem com os russos.

    »In response to the Russia-Ukraine conflict, NATO has reinforced its support for capability development and capacity-building in Ukraine. The Allies condemn and will not recognise Russia’s illegal and illegitimate annexation of Crimea, and its destabilising and aggressive activities in eastern Ukraine and the Black Sea region. NATO has increased its presence in the Black Sea and stepped up maritime cooperation with Ukraine and Georgia.» https://www.nato.int/cps/en/natohq/topics_37750.htm

    Claro que os Russos vêem a coisa ao contrário. A anexação da Crimeia foi uma reacção ao golpe contra o governo ucraniano da altura. Mas a memória curta ou a pura ignorância tem destas coisas.

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  6. Quem não apoiar a posição NATO é pró Rússia. Não interessa procurar perceber a outra parte, aqui não há contraditório ou sim ou sopas. Até o insuspeito Miguel Sousa Tavares é um perigoso filo comunista.

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  7. Não se trata de apoiar Putin. Em 2014 houve um golpe de estado na Ucrânia que custou dezenas de vidas e depôs um presidente democraticamente eleito. Daí partiu-se para uma repressão principalmente contra as populações russófonas( nomeadamente o fecho de televisões e jornais que transmitiam em russo e até se forçou uma cisão religiosa). O principal partido da oposição( em maioria nas sondagens há uns meses) vê os seus principais dirigentes presos. A revolta destas repúblicas é o directo resultado dessa repressão contra as populações russófonas. Não sei porque embandeira em arco com a história do Bloco de Esquerda até porque a maior facção do Bloco veio de UDP que rejeitava os soviéticos mas era uma fervorosa apoiante de Mao Tse Tung. Custa-me ver, por exemplo que aquando da mentira( que o próprio parlamento inglês depois confirmou como invenção) da ameaça do Khadafi sobre os civis de Benghazi, o Bloco lavou as mãos no parlamento europeu e absteve-se a propósito de uma intervenção externa para combater a tal ameaça inventada. Tavares foi mais longe e votou a favor. Hoje a Líbia é uma desgraça, um país destruído, com mercados de escravos à venda( as meninas são mais caras porque podem dar para escravas sexuais) e onde milhares morrem nas águas do Mediterrãneo. O Bloco agora tem muita pena, mas quando era necessário opôr-se não o fez. Lavou as mãos. Não consigo perdoar isso.

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  8. Não há dúvida que Jaime Santos caiu como um patinho nas malhas da propaganda americana, seja ela divulgada pela CNN ou pelas páginas do «Público».
    Este Jaime Santos atento à guerra no Donbass, entre 2015 e 2022? Recordo ao mesmo Jaime Santos que os ucranianos criaram o batalhão «Azov» que usa insígnias nazis (das «SS») nos seus uniformes, para lutar contra os soldados que o ocidente chama de separatistas. Em Donbass, criaram-se milícias armadas até de gente europeia (vinda de Itália) para lutar contra os uniformes nazis do batalhão «Azov». O chamado exército ucraniano perdeu todas as batalhas na frente leste.
    O pentágono, juntamente com o seu senil líder presidente, deu ordem para o envio de armas sofisticadas ao exército ucraniano para uma nova tentativa armada nesta região. Por isso, a provocação veio do Pentágono e de Washington. Também veio da NATO que desde o final do ano passado andou a fazer manobras militares ao largo da fronteira com a Rússia.
    É claro que os ignorantes, como Jaime Santos, que acreditam no Pai Natal do Joe Biden, da CNN e do «Público» nunca acreditam que os provocadores são os americanos, porque estes nunca aparecem nas constantes e interruptas narrativas de má propaganda dada aos incautos.
    Esta classe de gente até já se esqueceu da ocupação do Iraque, dos bombardeamentos criminosos na Líbia e até julgam que Guantánamo nada tem a ver com tortura.
    A propaganda americana dá a pílula do sono que esta gente toma todos os dias antes de se deitar.

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  9. https://en.wikipedia.org/wiki/Nuclear_weapons_and_Ukraine

    Destruam as vossas armas nucleares e prometemos nunca vos invadir.

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  10. A área política do BE nada tem a ver com Putin, nem com Bashar Al-Assad, nem com o jovem de 14 anos, palestiniano, assassinado pelo soldado do IDF, esta manhã; nem com mais dois líderes sociais mortos na Colômbia, ontem; nem com o bloqueio económico contra Cuba, nem com a Venezuela de Maduro, nem tão pouco com a memória de Che Guevara.
    A área política do BE é apenas dizer que se é de «esquerda», como se a «esquerda» fosse um pequeno «pin» para levar ao peito.
    A área política do BE aprova todas as decisões vindas da sala oval, de Washington, escritas pelo Pentágono e transmitidas pelo autómato ou senil Joe Biden.
    A área política do BE está com Justin Trudeau, no Canadá, contra os protestos do povo canadiano e aprova a decisão de pôr «snipers» no topo dos edifícios, enquanto a polícia bate no povo.
    A área política do BE tem duas senhoras, com ar muito fofinho, em cada cartaz da cidade, apelando ao voto na «esquerda».
    Sim, porque o BE é de esquerda, tal como ouvimos da voz de Francisco Louçã: «esquerda»!

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  11. Tudo tretas para uma conclusão: a história, certa ou errada, pode ser resolvida pela força sem negociação ou reconhecimento das organizações internacionais.


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  12. Lá tinha de vir o Jose, uma espécie de chatinho armado em engraçado para dizer boa tarde a quem trabalha (e com as suas piadas cretinas do costume).

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