quinta-feira, 30 de dezembro de 2021
Indignações muito seletivas
O segundo problema desta capa é ser apenas composta por homens brancos e não contar com nenhuma mulher. O primeiro e mais premente problema desta capa é o só integrar pessoas que, no essencial, defendem o mesmo e são de direita.
São dois problemas sérios. Mas antevejo que uma certa fação que se reclama do progressismo nacional se irá apressar a denunciar o segundo problema e gritar #MulherNãoEntra, mas se esquecerá convenientemente do primeiro.
Porque a classe, meus bens, a classe é sempre onde lhes dói. E aí estão alinhados. Não era por se adicionar ali a Ana Rita Bessa ou a Vera Gouveia Barros que esta capa seria menos escandalosa.
Indignemo-nos, pois, mas na sua totalidade. Com a indecorosa falta de pluralidade no comentário económico nacional e com a falta de sensibilidade para com a igualdade de género.
(Poucas horas depois de ter escrito este texto, originalmente no Facebook, Susana Peralta fez o comentário que se reproduz na imagem abaixo. Como esperado, a indignação com a falta de pluralidade está ausente. O pseudo-progressismo nacional é mais previsível do que um relógio suiço).
Não será o caso da Peralta, mas é natural que a maioria das pessoas, como eu, só reconheça os dois cromos recentes da política, e só note o evidente. Já quanto ao outro problema, bem, é mais uma edição do Jornal de Negócios, só muda a roupagem, o disparate será o mesmo.
ResponderEliminarPois é, "com papas e bolos se enganam os tolos".
ResponderEliminarTem sido assim desde há alguns anos e é tudo muito bem pensado.
(nós vamos na conversa, naturalmente)
O Negócios devia ter perguntado apenas a Paula Amorim, assim a pseudo-progressista Peralta já não se queixava...
ResponderEliminarNão se percebe a sua indignação. Se um Jornal é de Direita, pode mandar chamar as vozes de Direita que quiser. Mas se mandar chamar só homens brancos, aí há seguramente um problema porque não são apenas os homens brancos que pensam assim.
ResponderEliminarAposto que se fosse o Diogo Martins a seleccionar opiniões com as soluções para o País, também só convidava pessoas de Esquerda. Alguém se queixa que quem escreve no Le Monde Diplomatique pertença só a esse campo ideológico? Eu não me queixo certamente.
A definição de pluralismo não é essa que quer fazer crer, excepto se estivermos a falar de órgãos de informação públicos que devem cobrir todas as correntes de opinião.
Se a defesa dos interesses de uma classe é legítima, a de uma outra também o é. Dizer o contrário é moralismo de quem considera que a burguesia é naturalmente má e os trabalhadores são bonzinhos. Marx, pelo contrário, não conseguia esconder a admiração pelo leninismo (a palavra ainda não existia mas o conceito é intemporal) com que ela destruía todas as relações sociais em nome do progresso material...
O que há é, claro, a falta de projectos editoriais de Esquerda que sejam sustentáveis e que contraponham as suas soluções para o País. E não me venham dizer que não o são porque o Poder Económico não está disposto a sustentá-los. Sejam criativos e ponham as mãos à obra, porque se existir um número suficiente de leitores interessados, o dinheiro aparece...
Aliás, como a Maria João Marques bem notou quando se referiu à notória ausência de mulheres nos órgãos dirigentes do PSD, assim esse Partido está a dizer-lhes que não merece o voto delas. Diria eu pois que isso é uma boa notícia para a Esquerda, tal como a ausência de opiniões que não as de homens brancos é uma boa notícia para a concorrência, mesmo a de Direita, do Negócios.
Ó caro Jaime,
ResponderEliminar"Projectos editoriais de Esquerda que sejam sustentáveis"... há-de me dizer quais são os projectos editoriais de direota que são sustentáveis. Nem um, por certo. Trata-se de dinheiro militante a fundo perdido, em nome de uma causa.
E aí tem razão: é em nome dessa causa que se mostra toda a sua arrogância de classe e falta de princípio pluralista, mesmo que se afirmem ser independentes do poder económico. É por isso que apenas vê projectos "jornalísticos" de direita, mesmo que falidos. E por isso também é que não vê o Estado a apoiar projectos jornalistas pluralistas ou com um ponto de vista diferente que compensem esse enviesamento dos meios de comunicação social.
É, aliás, interessante consultar o estatuto editorial do "Jornal de Negócios" para pressentir o autocentramento de quem o definiu, que nem se dá conta da inclinação da sua própria coluna. (https://www.jornaldenegocios.pt/institucional/detalhe/estatuto_editorial)
"O Jornal de Negócios é independente dos poderes político, económico ou religioso".
Muito bem. Mas logo a seguir afirma-se: "O Jornal de Negócios tem como princípio geral a defesa da liberdade - na economia, na política e na sociedade. Considera que a liberdade prevalece sobre os interesses de grupos organizados, o comércio sobre qualquer forma de proteccionismo. Defende que o Estado deve ter a mínima interferência nos assuntos de mercado e na esfera empresarial, devendo garantir os direitos dos mais desprotegidos, através da regulação, fiscalização e punição dos faltosos."
Ou seja, enfileira sobre uma linha de pensamento muito bem marcada, politicamente sustentada à direita. Mas a seguir afirma:
"O Jornal de Negócios faz do rigor, da seriedade e da honestidade intelectual o seu activo principal. Rejeita o sensacionalismo e o facilitismo na procura e tratamento da informação."
Rigor? E como se coadunam as opções editoriais enviesadas com o rigor? O JNeg responde logo a seguir: "O Jornal de Negócios não abdica de ter opinião, de tomar posição e de suscitar e promover o debate. Estes serão, no entanto, sempre claramente identificados como tal e jamais podem confundir-se com a matéria informativa." Certo. Mas não há um enviesamento nas matérias escolhidas? O JNeg responde a isso afirmando: "O Jornal de Negócios define as suas prioridades informativas exclusivamente por critérios de interesse público, de relevância e de utilidade da informação e rejeita qualquer tipo de censura ou limitação à liberdade de informar."
O critério da "relevância" ou "interesse público" é o alçapão que fica defendido por quem é chefe no jornal. E por isso há sempre conflitos internos. E por isso nos projectos "jornalísticos" existentes quem está maioritariamente à frente deles é gente de direita que escolhe mais pessoas de direita para escrever. Porque há dinheiro para os pagar mesmo que não sejam "sustentáveis"...
E assim se faz Portugal parecer que é de direita, apesar de ter uma comunicação social constitucionamente definida como um pilar da democracia... na prática enviesada à direita.
No fundo até poderiam dizer "Ana Rita Bessa, Vera Gouveia Barros ou Susana Peralta" que em nada o sentido do texto se perderia.
ResponderEliminarPorque a indignação da Susana com os Manéis acaba quando ela se torna o token do painel. É ir ver desde o famigerado artigo no Público em quantos painéis se prestou a ser o tokenzinho, para se perceber isso.
E nem vou comentar a linha que ela mete no artigo dela sobre minorias, porque essas continuam ausentes de todos os painéis. A começar por aqueles em que se presta a participar.
Activismo que esconde o essencial não é progresso é fraude.
ResponderEliminarNão só a Susana Peralta não representa as mulheres deste país como acredito que não tinha em mente a senhora da limpeza para tecer comentários sobre a economia deste país, o irónico é que é exactamente o tipo de economia que Susana Peralta defende que potência a desigualdade entre homens e mulheres.
ResponderEliminarOs fanáticos dos mercados são os mesmos das práticas monopolistas.
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