terça-feira, 23 de novembro de 2021
Perguntas que o «jornalismo pé-de-microfone» não faz
Nuno Crato não é um entrevistado qualquer. Muito menos se as questões em análise se relacionam com a área da Educação, que tutelou no governo da maioria de direita PSD/CDS-PP (2011-2015), como a própria jornalista refere no início da entrevista, que se aconselha a ver na íntegra. Aliás, não se tratando de um contraditório, a devida preparação da mesma (e sobre o entrevistado) torna-se ainda mais necessária. Sobretudo quando Crato é uma voz da oposição que já exerceu funções governativas, convidada a comentar a questão da «falta de professores».
Sendo certo que não se espera que um ex-ministro, responsável por reduzir o número de docentes em -22% (quase 40 mil) em apenas quatro anos, tenha o desplante de dizer hoje que esse era «um drama anunciado» (visto ter já em 2006 alertado para o problema), ao jornalismo não cabe fazer o papel de «pé-de-microfone» (na certeira expressão de José Vítor Malheiros). De facto, importaria naquele momento colocar a pergunta óbvia que a adequada preparação da entrevista permitiria fazer (e a que a jornalista aludiu de forma vazia): se sabia em 2006 que a médio prazo o país ia necessitar de docentes, como explica a redução drástica do seu número quando foi ministro, degradando os rácios professor/aluno, ao integrar um governo que aconselhou os professores a emigrar?
Não é por acaso que a jornalista se esquece de fazer a pergunta óbvia ao ex-ministro da educação de Passos Coelho. Na mesma noite dessa entrevista o programa Polígrafo da SIC foi investigar se Crato tinha dito em tempos que era inevitável que viesse a registar-se uma grande falta de professores no futuro. Obviamente a pergunta obvia não seria essa mas sim se a política seguida pelo seu ministério durante o governo de Passos Coelho não tinha sido precisamente a contrária da do seu exercício de predestinação. Mas como sabemos o objectivo da SIC não é propriamente o jornalismo sério e rigoroso.
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