terça-feira, 2 de novembro de 2021

Grande Prémio da Fuga à Pergunta do Jornalista Envolta num Manto Cândido da Ilusão da in-Verdade...


Vai para... Marcelo Rebelo de Sousa:

- Reconhece que as suas palavras, ao longo das semanas anteriores à votação do OE, podem ter sido uma precipitação?
- Não. Acho que não. Foram, quando muito, uma antecipação. E é o que se espera de um responsável político. Eu antecipei que poderia haver problemas na votação, por isso é que intervim. Eu antecipei que os problemas estavam a subir e por isso é que fui intervindo mais vezes. Eu antecipei que poderia haver - embora não fosse claro - uma decisão negativa da AR e por isso eu falei nas alternativas... Fiz isso tudo para que, por um lado, para que os portugueses acompanhassem serenamente o que se estava a passar. E percebessem minimamente o que se estava a passar. Por outro lado, para que aqueles que iam decidir soubessem exactamente qual era o meu pensamento sobre a matéria. Por que é que estava preocupado, por que é a preocupação ia subindo, por que é eu entendia que o OE podia ser aprovado e quais eram as soluções alternativas no caso de não ser eventualmente aprovado.
- Faria hoje os mesmos avisos?
- Sim, exactamente!

(transmitido pelas televisões hoje às 16h)

Dúvidas metafísicas que ninguém lhe faz: Mas se antecipou, não valia mais não ter dito nada, para evitar que se autoconcretizasse? Se antecipou e ameaçou, por que razão acha que não amedrontou? Como foi que o PR não antecipou que a ameaça não amedrontasse e o chumbo se verificasse? E se antecipou que isso pudesse acontecer, por que razão o fez? Não acha que, no fundo, reduziu as possibilidades para a saída de uma crise que apenas o PR viu?  


5 comentários:

  1. Disse também Marcelo, há poucos dias: "Uma parte dos partidos são favoráveis à dissolução, outros preferem outras soluções mas aceitam a dissolução, e depois há graus de aceitação e de reserva. Mas isso permitiu-me avançar para o Conselho de Estado para o ouvir sobre a dissolução e só a dissolução". E lembra ter havido já em democracia "sete dissoluções, com todos os presidentes", frisando considerar muito grave "o chumbo de um orçamento pela primeira vez na democracia portuguesa, num momento de crise, à saída de uma pandemia e no início de um processo de recuperação económica e social". Presumivelmmente a contragosto, o presidente da maioria dos portugueses (até há poucos dias) lá admitiu existirem outras alternativas além da dissolução, mas comentou que não são tão "positivas".

    É de notar que o nosso presidente-comentador asneia imperdoavelmente quando diz que se trata do "chumbo de um orçamento pela primeira vez na democracia portuguesa": até à passada 4ª feira, o único chumbo de um OE no Portugal democrático tinha ocorrido em 1978, quando Portugal - em plena crise, sob resgate do FMI - estava a cumprir um programa de austeridade. Mas, nessa altura - era Eanes o "Presidente de todos os portugueses" -, não houve dissolução do Parlamento: o Governo foi mesmo obrigado a apresentar uma nova proposta de orçamento, a qual foi aprovada por uma maioria de deputados. Espera-se que, na qualidade de Conselheiro de Estado, Eanes lhe refresque a memória quanto a esta matéria, com a devida ajuda, entre outros membros do Conselho de Estado, do que hoje exerce o cargo de Presidente do Tribunal Constitucional. De facto, não há agora uma boa razão para o Parlamento ser dissolvido; além disso, nenhuma das sete dissoluções anteriores se deveu ao chumbo de uma proposta de OE.

    Haverá agora alguma boa razão para, ao contrário do que sucedeu em 1978, o Governo não se ver obrigado - para não ter de se demitir - a apresentar uma nova proposta de OE, para votação no actual Parlamento? Vejamos o que dizem dois comentadores encartados, um do PSD e outro do PS:

    - Para Marques Mendes, "Não é possível um segundo OE porque o Governo não se disponibilizou para tal";

    - Para Vital Moreira, "Dados os termos bélicos da rejeição do orçamento na AR, não haveria a mínima hipótese de obter a aprovação de um segundo orçamento".

    E é isto. Se o combinado pela geringonça Costa-Marcelo for avante (!), teremos em breve uma boa razão para o Governo PS não ter de submeter uma nova proposta de OE2022 à votação dos actuais deputados: é que o actual Parlamento já estará dissolvido ou a caminho disso...

    A. Correia

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  2. João Ramos de Almeida, MRS deve andado a ver muitas entrevistas de Álvaro Cunhal para ensaiar esta resposta e outras.

    Todos os políticos fogem a questões desagradáveis e respondem o que querem. E convenhamos, a resposta é brilhante. Não vale a pena ficar chateado com isso. MRS é um homem não apenas inteligente mas também esperto...

    Isso não quer dizer, bem entendido, que eu não concorde com consigo e pense que MRS mais não fez do que somar entropia a um processo já de si difícil. Mas pelo menos os Partidos de Esquerda sabiam o risco que corriam ao votarem contra o OE.

    Caso não tenham reparado, este PR é de Direita e não anda a fazer fretes à Esquerda.

    E nem se lembrem de ir para a campanha fazer queixinhas dele. MRS é popular e suspeito que deve ter havido muitos eleitores do BE e do PCP-PEV que votaram no atual PR em Janeiro...

    Chumbo do OE = Eleições e era claro como água... Agora queixem-se...

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  3. ‘Quanto muito’ n existe em port.
    Aprendamos.
    Ele n sisse isso, se disse, disse mal…

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  4. Caro Albino,
    Obrigado pela correcção. Foi um lapso. Vou corrigir.

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  5. Caro Jaime,
    Claro que é "claro como água".

    1. Um presidente de direita afunila a lei e martela-a a seu belo prazer, isto é, a belo prazer - como disse - da direita, porque MRS, como disse, é afinal de direita. Pior: acaba por inventar uma crise que se torna performativa.

    2. Depois, tendo que cumprir a lei, faz de conta que ouve os partidos. E dessa audição conclui que uns - que têm maioria no Parlamento - não querem eleições, mas não as afastam; outros - que estão em minoria no Parlamento - querem eleições. Já se sabia!

    3. Com base - e nesta minoria e para camuflar a sua atitude abusiva, o presidente convoca um conselho de Estado com apenas um ponto: decidir... sobre a convocação de eleições!

    4. Amanhã o Presidente anunciará aquilo em que já nem as "televisões" acreditam: "O PR diz que a convocação do Conselho de Estado não é um pro-forma, mas vai ser" (Sic Notícias,16h20).

    Claro que a actuação do PR deveria ter sido entendida, pelos partidos à esquerda do PS, como um dado enquinado do problema. Mas torna-se excessivo neste caso - até para nunca teve ilusões sobre MRS - porque parece estar contaminado pelo vírus Francisco Rodrigues dos Santos. É que nem numa associação de estudantes!

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