sábado, 27 de novembro de 2021

Consultas

Vihls no Hospital de São João

Esteve em consulta pública, até ao passado dia 16, o projecto de decreto-lei que em boa parte do seu articulado visa contrariar o que a Lei de Bases da Saúde consagra (...) Não optando pelo regime de dedicação exclusiva, mesmo opcional, como já existiu, o Governo mantém em funcionamento a porta giratória entre o sector público e o sector privado (...) Com a previsão de se estender a outros profissionais da saúde, este é um dos aspectos chave dos defensores do Sistema Nacional de Saúde: existir permanentemente uma fonte pública de recrutamento para manter em bom funcionamento o sector privado (...) O disposto neste artigo [64º.] representa a possibilidade de alienação das instituições hospitalares (...) Se no primeiro exemplo, o Governo está a ceder mão-de-obra altamente qualificada ao sector privado, no segundo caso, está a autorizar o sector privado a tomar conta da área hospitalar do SNS (...) A governação do período 2015-2019 produziu a boa Lei de Bases da Saúde; a governação 2019-2021 tem intenção de produzir dois estatutos que, a entrarem em vigor, iriam contribuir para a destruição do SNS. Francamente, até parece que o PS enveredou, na parte final do seu Governo, pelos caminhos do New Labour.
 

Excertos de um informativo artigo que saiu esta semana no Público. O seu autor é Cipriano Justo, um médico e professor de saúde pública que conhece a fundo um serviço que o capitalismo da doença, a cujas necessidades o extremo-centro é particularmente sensível, quer transformar em sector. As portas girariam cada vez mais. 

É para isso que o bloco central está a ser preparado por tantos nas circulaturas de uma comunicação social que, com honrosas excepções, até parece controlada pelas CUF desta vida. Quanto mais capitalismo da doença, mais publicidade, afinal de contas. 

Os investimentos ideológicos, incluindo a fabricação de tantas crises nos serviços, destinam-se a permitir um acesso mais fácil a lucros politicamente garantidos, quer pelo acesso a recursos públicos, quer pelo aproveitamento das assimetrias de poder face aos cidadãos vulneráveis que são inerentes a esta área, sobretudo na ausência de uma ética de serviço público e das robustas instituições públicas, protegidas da busca de lucros, onde aquela pode florescer. 

E, ao ler este artigo, lembrei-me de quem foi colocada em número um na mais recente lista única de António Costa à comissão política do PS. Há quem queira destruir a herança de António Arnaut e de tantos outros. Não seria a primeira herança de uma maioria de esquerda, a que aprovou contra a direita a criação do SNS, a ser destruída pelo PS. Cabe aos cidadãos deixar claro ao PS de Costa e de Belém que tal não pode acontecer.

2 comentários:

  1. Em 2021 o Partido - euro-liberal - "Socialista" votaria contra a criação do SNS e o argumento seria "não podemos pôr em causa as contas certas!"...

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  2. Francisco Assis"ficaria feliz"se fosse presidente do Parlamento.

    "jornal Público"

    ++

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