segunda-feira, 5 de julho de 2021

Política económica e antifascismo


A antipatia pelos gastos do governo, seja com investimento ou consumo público, é superada pela concentração de gastos públicos em armamentos. Finalmente, “disciplina nas fábricas” e “estabilidade política” em regime de pleno emprego são mantidas pela “nova ordem”, que vai desde a supressão dos sindicatos até aos campos de concentração. A pressão política substitui a pressão económica do desemprego (...) O fascismo surgiu na Alemanha contra um fundo de enorme desemprego, manteve-se no poder pela garantia de pleno emprego, enquanto a democracia capitalista não conseguiu fazê-lo. A luta das forças progressistas pelo emprego é, ao mesmo tempo, um meio de impedir o retorno do fascismo.

No seguimento da ideia, defendida por Zachery Carter, de que a economia keynesiana deve ser historicamente concebida como uma defesa contra o fascismo, lembrei-me destas passagens do meu artigo favorito de história da economia política, aspectos políticos do pleno emprego, escrito por Michal Kalecki em 1943; um economista polaco que fez a ponte entre Marx e Keynes em Cambridge. 

A história económica quantitativa mais recente sublinha a relação entre austeridade, necessariamente recessiva e destruidora de emprego, e ascensão do nazismo, por exemplo.

Nesse mesmo ano de 1943, não há coincidências, Abba Lerner, um economista de origem russa radicado nos EUA, apresentou a ideia das finanças funcionais, articulando a necessidade de ganhar a guerra com o objectivo de combater a insegurança económica por via do pleno emprego: os défices orçamentais são aí o que devem ser, uma variável puramente endógena. 

A Economia, uma área propositadamente desmemoriada, ganharia em recuperar estas tradições,  com os seus cultores resistentes ainda nas margens. O centro não se sustenta...
    

3 comentários:

  1. A tal variável endógena que deveria equilibrar-se naturalmente ao longo dos ciclos económicos mas que, por qualquer razão que ninguém à Esquerda quer explicar, nunca se equilibra e gera dívida crescente e obriga, pois claro, a um crescimento económico perpétuo para manter o rácio dívida/PIB constante, um absurdo na era da emergência climática.

    E que depois gera engulhos a economias fracas como a nossa quando a maré económica baixa, como se tem visto. Portugal passou o sec. XX a sofrer (incluindo uma ditadura tacanha) por causa do endividamento contraído no sec. XIX. Um bocadinho de prudência orçamental (contra o fascismo) aconselha-se...

    Aquilo que Hitler praticou e mais tarde as super-potências também, tem um nome e chama-se keynesianismo militar.

    De Keynes fica a muito mais agradável ideia de que por esta altura já não deveríamos ter que trabalhar o que trabalhamos. Mas os Esquerdistas, tal como os seus congéneres à Direita, acham que o trabalho purifica a alma do homem, a austeridade e o ascetismo vêm-lhes de dentro...

    Não era o João Rodrigues que falava da libertinagem das elites? Olhe que Keynes era justamente um membro dessas mesmas elites com um comportamento nada consentâneo com a imagem dos santos socialistas...

    Os marxistas fariam era bem em ler um opúsculo delicioso, 'O Direito à Preguiça', escrito pelo genro de Marx, em lugar de nos andarem a chatear com a conversa do pleno emprego...

    E sim, há imensas coincidências, o mundo todo é contingência e não caminha para coisa nenhuma, muito menos uma sociedade socialista, já se viu o que é preciso para chegar lá, a empresa faliu com estrondo em 1991 e não se recomenda...

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  2. O Jaime está baralhado, como é da sua tradição. Dá um tiro aqui e outro ali, sempre na esperança de apanhar o mesmo melro, mas o animalzito, teimosamente, vai piando e batendo as asas. E é curioso verificar, que quanto mais fraca á a pontaria, mais ele vai vociferando: ele é o armeiro que o enganou com uma arma tão desajeitada, ele são as munições absolutamente imprestáveis (resquícios certamente de algum industrialismo sem "design"), ele é enfim a própria instabilidade do planeta que, por mais que o Jaime queira assentar os pés para finalmente fazer o seu disparo mortal, continua a tremer e a agitar-se, movido, sabe Deus, por que espectro tenebroso.
    Entretanto, manda também uns bitaites como se falasse de economia e outras elevações intelectuais, na esperança de que assim ninguém repare na sua pontaria zarolha. É um ponto este Jaime. É um ponto.

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  3. Jaime Santos, também conhecido por gostar muito de grilhetas, volta mais uma vez com os seus tiques de baixa elite, de pequenito burguês, com os pés de baixo da mesa, rindo dos fenómenos da digestão, a discorrer sobre a chatice do pleno emprego, talvez dos deploráveis, isso não interessa para nada, cada um financia a sua existência como pode, e se não consegue, conseguisse.

    É este tipo de paleio que cria as condições para, primeiro haver estas democracias ultraliberais carregadas de desigualdade, com pobreza e miséria em barda, e depois, outros hiperliberais, pseudo ultranacionais agarrarem o apoio dos tais deploráveis e do lumpem para instalarem o fascismo. O paleio do grilhetas é fedorentemente perigoso.

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