Quem tenha a oportunidade de ler o Financial Times nestes tempos financeiros instáveis, constatará duas coisas.
Em primeiro lugar, as alterações climáticas são aí um dos tópicos centrais, com um acompanhamento persistente, constatando-se que os fenómenos climáticos cada vez mais extremos furam os modelos de previsão e colocam em causa todo um conjunto de formas de economia política e de política económica.
Em segundo lugar, ainda que de forma hesitante e contraditória, as soluções neoliberais centradas nos mercados de emissões, baseadas no suposto poder dos preços, em que a UE aposta, dada a sua natureza, são socialmente regressivas. Impõem um fardo relativamente maior sobre os que têm menos, em sociedades já com níveis de desigualdade brutais, e não estão à altura do desafio, para lá dos problemas de legitimação de que padecem. O mesmo se passa de resto com a taxação sobre os consumos. Combinem isto com uma reforma fiscal desenhada para favorecer os 1% mais ricos, à la Macron, e têm os coletes-amarelos. Os tempos não estão para distrações com novos casinos financeiros, nem para enviesamentos de classe.
Exige-se um tipo de planificação de economia de guerra, expressão que vai fazendo o seu caminho, que de resto foi a seu tempo relativamente igualitária. Se o capitalismo aguenta é uma questão menos importante do que a questão dos obstáculos políticos que foram, são e serão colocados aos Estados nacionais por tantas forças do capital. É que é nos Estados nacionais que manifestamente terá de estar a acção, como sempre esteve em matéria de segurança num sentido amplo.
Como argumenta Anatol Lieven, num livro realista de relações internacionais sobre alterações climáticas, não há questão de segurança mais brutalmente relevante. Se os eco-socialistas têm razão em medidas como o Green New Deal, Lieven assinala a sua relativa omissão sobre a questão nacional, a das fronteiras a defender num mundo cheio de perigos. Trata-se de reconhecer a importância do compromisso duradouro com um território delimitado, parte da cadeia do tempo que liga o passado ao futuro, constituindo uma motivação poderosa para enfrentar o medo, redistribuir fardos e fazer sacrifícios. Sem segurança social nacional não há cooperação internacional, uma das lições de Keynes ou de Polanyi. Entretanto, note-se bem nisto:
“Se os verdes e a esquerda continuarem cegos no seu compromisso com as fronteiras abertas irão alimentar o chauvinismo, aumentar a fractura social e tornar a acção climática impossível. Se os partidos da direita permitirem que a aversão a ideologias de esquerda os cegue perante os perigos existenciais da acção climática, irão trair os interesses nacionais dos seus países, levando-os eventualmente à extinção.”
Na economia política, fica claro que o neoliberalismo terá de ser superado, pela esquerda e pela direita, já que gera todas as formas de insegurança; também por isso, tantos neoliberais foram, e alguns ainda são, negacionistas do clima.
O nacionalismo internacionalista, João Rodrigues, é uma contradição nos termos porque o nacionalismo reverte sempre à sua condição reaccionária de defesa de supostos interesses nacionais a curto prazo e só não vê isto quem está agarrado a um modelo estatista de fronteiras fechadas que depende desse mesmo nacionalismo. Reaccionário, claro está.
ResponderEliminarAonde é que estava o carácter progressista do Socialismo Real e quais eram as suas credenciais de protecção do meio-ambiente? Nenhumas.
Um modelo estatista que aliás defende coisas como a reindustrialização e a manutenção do crescimento para suster taxas de endividamento elevadas.
Não há espaço para o crescimento. Ou há crescimento zero, ou decrescimento e colapso...
Veja: https://www.theguardian.com/environment/2021/jul/25/gaya-herrington-mit-study-the-limits-to-growth
Vamos mesmo ter que ficar todos mais pobres... Habituem-se...
Mais uma fraude mais um embuste, o tema alterações climáticas está a ser utilizado como justificação moral para a expropriação dos que têm menos, na verdade o que está em causa é uma política de classe onde está subjacente que o consumo dos que têm menos é evitável. A burocratização dos processos é a ditadura da actualidade. O cidadão honrado e vagamente democrático tem cada vez mais dificuldade em se disfarçar.
ResponderEliminarO que fica sempre por explicar é como o aumento da igualdade -tirar aos ricos, para simplificar - vai contribuir para a questão climática.
ResponderEliminarLogo se verá que a inevitável redistribuição aumentará consumos e emissões.
Uma coisa é certa, tirar aos ricos sempre se apresenta como política de muito acerto... já economia de guerra sem redistribuição parece dar guerra pela certa.
No que seria diminuir o que o rico tira ao pobre, para aumento da igualdade este senhor SIMPLIFICANDO vê o pobre a tirar ao rico. São os tostões que fazem milhões, visto ao contrário
Eliminar-tirar aos ricos para simplificar-
EliminarÉ simplificar demais. É como dizer que sem patrões não haveria trabalhadores.
A verdade é que o aumento da igualdade consiste em diminuir o que os ricos tiram aos pobres.
O guiao dos negacionistas:
ResponderEliminar1 - It’s not happening.
2 - If it’s happening it’s a good thing.
3 - If it’s not a good thing the science is uncertain.
4 - If the science is certain, it’s not caused by humans.
5 - If it’s caused by humans, it will fix itself.
6 - If it won’t fix itself, there’s nothing that can be done.
7 - If there are things that can be done, they are too expensive.
8 - If they’re not too expensive, we can postpone them.
9 - If we can’t postpone them, I’ll need a minute to think of another excuse.
Em exposicao clara aqui na caixa de comentarios do Ladroes encarnado no Jaime Santos e Jose. Ensaiam uma especie de salada mista algures entre os pontos 6 e 9.
Previsivel e previsto.
A cobardia dos pretensos ecologistas em dizerem que a TODOS afectará a luta contra a degradação do planeta, é a mais descarada mistificação de quem quer manter o discurso de um constante e sempre crescente nível de vida definido pelos padrões habituais.
ResponderEliminarDigam-me onde foi definida e aplicada uma estratégia de ajuda e cooperação no tratamento dos lixos de um terceiro mundo em crescendo de consumos, uma efectiva acção sobre as acções de pesca destrutiva, algo que não seja uma diatribe acerca da ilusória desgraça derivada do consumo dos ricos entre os ricos.
Venham os bárbaros, é o ato final de todos os impérios decadentes. Isto já não vai lá a discutir civilizadamente ao chá.
ResponderEliminar