O Público trazia ontem uma reportagem sobre “os bons exemplos que nos chegam do Douro”. E que bons exemplos são esses? Basicamente o de um capitalista agrário, com 25 hectares e “falta de mão-de-obra”, que se “sentia na mão de meia dúzia de homens capazes de fazer o trabalho necessário”, correndo se calhar o risco de ter de lhes pagar mais ou assim.
O problema foi resolvido de forma empreendedora, com a criação da “sua própria empresa de prestação de serviços, recorrendo a estrangeiros”. Tudo legal e sem máfias. E toda a gente trabalhou feliz para sempre? Não sabemos, mas o capitalista está satisfeito e “investe nos migrantes”, ou seja, paga-lhes o salário mínimo e tudo. Um novo trabalhador até chegou a perguntar se era preciso pagar para trabalhar quando foi contactado.
Para lá do estilo vai correr tudo bem, não se sabe bem é a quem, a reportagem revela-nos a realidade exemplar do capitalismo agrário no actual contexto de intensa concorrência. A exploração, de que agora se fala tanto, mais do que um defeito moral, é um feitio sistémico, cuja intensidade é também função de relações de força demasiado invisíveis.
O culto do ócio, a exaltação da penosidade do trabalho, o permanente questionar da justeza do salário, faz e fará o seu caminho para uma estado social sustentado em mão-de-obra importada de paragens onde essa cultura não está instalada.
ResponderEliminarSe houve um tempo em que eramos fornecedores dessa mão-de-obra, passamos a importadores e manteremos desemprego e subemprego crescente.
É o liberalismo sem espinhas, no seu melhor.
ResponderEliminar"vai correr tudo bem, não se sabe é a quem' é extraordinário!
ResponderEliminarEste artigo (post, como outros lhe chamarão), tem tudo para agitar certas consciências mais desvalidas. Afinal, parece que a exploração do homem pelo homem, é um conceito teórico que tem confirmação absoluta no quotidiano de milhões de seres humanos, que - pasme-se lá outra vez - ainda não foram salvos pela globalização capitalista, com todo o seu maná. Depois e ao contrário do que o nosso José erradamente suspeita, o Estado social não será salvação de coisa nenhuma, já que se trata de uma etapa entre um certo estádio de desenvolvimento do sistema capitalista e de arrumação consequente das classes sociais no seu interior, e uma etapa final que será a da sua inevitável superação. O estado social, meu caro José, não é mais do que a solução de compromisso que o capitalismo decadente, amparado pelas sociais-democracias, gerou como sua boia de salvação. O que aquilo que está aqui relatado revela, é que esta boiazinha se está a esvaziar. O que é natural e inevitável, pois que as contradições são da natureza do sistema e não dos meios de salvação e perpetuação de que ao longo do tempo se tem socorrido.
ResponderEliminarFrancisco fico reconfortado pela certeza de que semelhante superação, a acontecer, já me encontrará bem mais à frente, reintegrado na tabela de elementos.
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