segunda-feira, 24 de maio de 2021
A filantropia de Cristiano Ronaldo em perspetiva
Foi hoje inaugurada uma ala no Hospital Santa Maria financiada por Cristiano Ronaldo em 3,4 milhões de euros. Todos os órgãos de comunicação irão desfazer-se em elogios ao jogador.
Mas convém colocar o episódio em perspetiva. Cristiano Ronaldo foi acusado e condenado de evasão fiscal no estado espanhol avaliada em cerca de 14 milhões de euros, envolvendo um esquema de criação de empresas falsas em paraísos fiscais como a Irlanda ou as ilhas Virgens Britânicas.
A ironia torna-se óbvia: o jogador foge conscientemente aos impostos num país, que depende desses impostos para financiar a saúde e a educação, e devolve depois uma fração desse valor ao Estado (neste caso, a outro Estado, mas isso pouco importa) sob a forma de filantropia, ainda capitalizando o marketing favorável que a iniciativa lhe proporciona.
Não se equivoquem. Este post nada tem de pessoal. O que me interessa é a dimensão sistémica do problema. Um sistema que permite um emaranhado legal à escala internacional cujo objeivo é que os super ricos possam não ter o seu dinheiro taxado e ainda devolverem uma parte desse roubo mascarado de filantropia.
É ultrajante e degradante. Estados que se debatem a financiar os seus Estados sociais são "presenteados" pela ação benemérita daqueles cuja ação criminosa torna os fundos públicos escassos para as suas funções sociais.
É aqui que reside o problema dos tempos que vivemos. Mas sobre isto os atores ao serviço das elites nada têm a dizer. Para eles, o problema são os miseráveis que recebem o RSI com uma prestação média de 140 euros/mensais.
Saibamos sempre colocar em perspetiva.
Isso mesmo! Nem mais!
ResponderEliminarInfelizmente, o mundo onde está Cristiano Ronaldo, é um mundo sujo, de corrupção, prostituição e estupidez.
ResponderEliminarÉ também infeliz saber e compreender como o próprio futebolista se sente bem dentro deste Mundo horrível.
Assim vai este mundo...
ResponderEliminarNEM MAIS.
ResponderEliminarEu pessoalmente tenho uma visão diferente. Se é para os impostos irem para TAPs e Novo Banco, vou fazer de tudo para os não pagar
ResponderEliminarCerto, mas se calhar devemos focalizar-nos naqueles que ao invés de ceder algum, assaltam os próprios bancos em prol deles e dos amigalhaços, deixando a dividas para o gado do costume pagar.
ResponderEliminarColoquemos as coisas em perspetiva. O problema não é a filantropia, seja a de Ronaldo, seja a de Bill Gates. A filantropia tem longas tradições no financiamento das instituições de ensino superior e da cultura, sobretudo nos EUA, e chega onde os Estados por vezes demoram ou nunca conseguem chegar.
ResponderEliminarO problema é a fraude fiscal, ou o abuso de poder nas empresas, ou a interferência dos empresários na política utilizando mecanismos pouco claros (porque a tentativa de influenciar políticas é uma característica de todos os intervenientes no processo de decisão em democracia).
E é também um problema o endeusamento dessas personalidades por fazerem aquilo que é simplesmente a sua obrigação. Mas isso infelizmente também parte do nosso fascínio pela riqueza ou pelo poder.
Convinha perceber que o carácter da aristocracia não se recomenda. Como também não se recomenda o do povo, já agora. A moral não é de classe, é mesmo de classe média...
Jaime Santos “ ...a filantropia tem longas tradições no financiamento das instituições de ensino superior e da cultura, sobretudo nos EUA, e chega onde os Estados por vezes demoram ou nunca conseguem chegar “... olhe que não é bem assim!
ResponderEliminarOs filantropos nos EUA fazem as suas doações, quase exclusivamente , a instituições de ensino superiores PRIVADAS, as suas alma maters , as quais operam com fins lucrativos, obviamente.
Trabalhei até há pouco tempo mais de 30 anos numa universidade pública no Estado de New York e, ao longo desse período vi muito poucas doações provindas de beneméritos . Por outro lado Columbia, Fordham, LIU etc receberam e continuam a receber anualmente, quantias enormissimas.O problema é que estas recebem também subsídios do Estado de NY e mesmo do governo Federal...que a meu ver deveriam ser canalizados para instituições públicas como State University of NY, Community Colleges, por exemplo
Avelino Pais
De facto, quase que dá para uma pessoa se meter na pele de Cristiano Ronaldo. Se vê os outros fazerem, seria uma injustiça não o fazer também... Infelizmente problemas sistémicos são difíceis de combater.
ResponderEliminar