Vivia-se o final de Março de 2012 e tudo parecia ainda ser possível.
“Está-nos a sair do lombo, está-nos a sair da pele. O que tem custado a Portugal cumprir estes objectivos”, disse, notando que “é preciso lutar todos os dias para chegar onde é preciso”. E essa luta significará medidas além do que está inscrito no memorando de entendimento com a troika. “Temos de ser mais ambiciosos e essas mudanças são indispensáveis”, alertou, elencando de forma concisa as reformas estruturais que o Governo quer realizar. “Estamos a fazer uma revolução tranquila”, sustentou. Depois dos avisos e das palavras de apelo à “resistência” dos portugueses, Passos passou aos recados para os “adversários” do PSD. Começando por notar que “não está na inscrição genética do PSD adiar o que é difícil, falsear a história e fazer propaganda”, lembrou: “Aqueles que nos acusam de estarmos empenhados em cumprir o programa de austeridade esquecem-se por que é que esse programa é necessário”. E aproveitou para avisar o PS que o Governo, apesar de não atacar insistentemente o Executivo anterior, “tem memória e os portugueses também têm”.
Mas nada foi como o previsto. A austeridade agravou a recessão e muito. O Governo perdeu o pé. Em Setembro de 2012, Vítor Gaspar lembrara-se naquela maravilhosa medida de tirar 7% aos salários dos trabalhadores para dar, na quase totalidade, às empresas, lucrando a Segurança Social ainda com uns 0,25% desses salários. Era a crise da TSU. O país encheu as ruas em protesto. E o PSD nunca mais se endireitou nas sondagens. O TC questionou as medidas de corte no funcionalismo. E Vitor Gaspar armou-se em justiceiro e fez aprovar o enorme aumento de impostos. Até o CDS abanou dessa vez... E voltaria a abanar quando, logo no início de 2013, o Paulo Portas tinha aquela tarefa mínima de elaborar a reforma do Estado e só conseguiu escrever uma página A4 e mal. De tal forma mal, que o reforma estrutural essencial para todos os governos de direita, aquele com que se faz campanhas eleitorais, morreria mesmo ali. Já Durão Barroso borregara nela também em 2001. Mas ninguém aprende com a História, porque, de tempos em tempos, dá sempre ânimo a um povo de direita questionar a dimensão do Estado. E depois foi aquela 7ª avaliação que matou todo o ânimo
23/3/2013 Depois do chumbo do TC e da 7ª avaliação Foi um ânimo renovado que o primeiro-ministro e a bancada “laranja” deixaram transparecer ontem, logo de manhã, na Assembleia da República, perante a moção de censura do PS anunciada na véspera. Mas se ninguém tem dúvidas de que o Governo sobreviverá à censura de Seguro, o mesmo já não se pode dizer de um chumbo do Tribunal Constitucional (TC) sobre as principais medidas do Orçamento, depois de um certo desencanto com os resultados da sétima avaliação da troika constituída pela Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional. Parece haver uma conjugação de astros negativa para o Governo, embora haja no mapa político uma estrela favorável: o CDS fará uma diferenciação face ao PSD, mas não está disposto neste momento a abrir brechas na coligação.
[Em Julho, Paulo Portas iria fazer a sua demissão irrevogável...]
No dia seguinte, escrevia-se no Editorial do Público, sob o título Os perigos do fim de um ciclo
Em pouco mais de uma semana, o país acumulou uma série de más notícias que estreitaram ainda mais o apertado caminho da crise. Os resultados da sétima avaliação da troika e a revisão das previsões sobre o crescimento ou o desemprego para 2013, a nova ameaça à estabilidade do euro proveniente de Chipre e a formalização do fim do consenso político com a moção de censura do PS ensombraram um cenário já de si muito difícil. O eventual chumbo do Tribunal Constitucional a normas do Orçamento do Estado pode tornar este cenário ainda mais negro. Um país acossado pelas dificuldades, um Governo imobilizado pela dimensão dos problemas com que se confronta, uma oposição que para fazer prova de vida não pode sequer tolerar um esboço de consenso, uma Europa incapaz de responder às suas responsabilidades são ingredientes mais do que suficientes para se recear a catástrofe. Hoje, mais do que nunca desde o início do programa de ajustamento, há razões para temer uma tempestade perfeita. Não é difícil constatar que o epicentro dos problemas está no Governo. A paralisia afecta todos os ministérios e deixa o corpo da administração em estado de anomia. A agravar a situação está o reconhecimento por parte do Governo que passou todos estes meses a adorar um erro. Até há bem pouco tempo, Passos Coelho e os seus pares tinham um programa e executavam-no com convicção. Agora, quer Passos quer Gaspar desertaram das suas posições. Já não querem ir “além da troika”. Criticam o “desenho” do programa e lutaram pela sua renegociação parcial. O Governo capitulou nas suas crenças, abriu espaço para fracturas internas, e acabou por agravar as perdas de legitimidade política que já o afectavam. Foi precisamente o pressentimento da fragilidade do Governo e a expectativa de que o acórdão do Constitucional pode abrir um tempo novo que levou António José Seguro a acentuar a pressão. Se, em si mesma, a moção de censura está condenada a extinguir-se com a sessão que a vai votar, o seu capital simbólico é mais durável. Aconteça o que acontecer, o PS está agora obrigado a assumir, cada vez com maior contundência, um discurso de alternativa política que implica eleições antecipadas.
Se era assim, Passos Coelho, com aquela teimosia de quem tem um relógio parado, deu mostras que tudo estava no mesmo caminho. E disse:
“Não é agora que o Governo vai vacilar”. Ainda antes de o líder do PS intervir, Passos Coelho deixou um aviso. (...) “Aqueles que pensam que este Governo desiste à primeira dificuldade, ou que fica acabrunhado por ver os resultados difíceis das medidas que implementou, podem-se desenganar, porque este Governo tem carácter”, afirmou. António José Seguro, secretário-geral do PS, contrapôs: “O seu tempo chegou ao fim”. E justificou a afirmação com os dados do défice, da dívida e sobretudo com os do desemprego. O salário mínimo nacional foi mais uma acha para a fogueira. “Todos os partidos da oposição, e até o CDS, defendem o aumento do salário mínimo. Só há uma pessoa que considera um erro — o primeiro-ministro de Portugal que chegou ao fim do prazo do seu mandato e merece censura”, apontou. Passos Coelho afirmou que o Governo “não vai associar-se” neste momento ao aumento do salário mínimo. Mas repetiu que “as empresas que tiverem margem para fazerem aumentos salariais, que os façam”. (...)
No frente-a-frente com o líder do PCP, Passos Coelho corrigiu o ministro das Finanças. Vítor Gaspar disse esta semana que um dos problemas do memorando assinado em 2011 estava no seu desenho. “Não é um problema de desenho, mas de calibração nas metas e de não incluir o sector empresarial do Estado”, disse o primeiro-ministro. Passos Coelho contestou ainda a acusação de Jerónimo de Sousa de que o Governo está a atacar as funções sociais do Estado. O secretário-geral do PCP confrontou-o com a “contradição” de estar preocupado com o desemprego ao mesmo tempo que “vai despedir milhares de trabalhadores na função pública”. O programa de rescisões foi também o tema trazido por Catarina Martins, coordenadora do BE, que usou da ironia para pedir a Passos Coelho que aderisse ao programa. “Não sou funcionário público e, portanto, não posso entrar no programa de rescisões”, respondeu o primeiro-ministro. A bloquista, que anunciou o voto a favor da moção de censura do PS, acusou Passos de estar “completamente isolado”. “O CDS, o seu parceiro de coligação, hoje esteve tão animado como num velório e o seu parceiro de coligação Paulo Portas anda escondido a inaugurar ginásios e a baptizar eventos desportivos. Não há ninguém que possa já suportar este Governo”, disse.
”...porque este Governo tem carácter”
ResponderEliminarDisse Passos Coelho. Esqueceu-se que o caráter desse seu governo era negativo e contribuiu com muito desespero, miséria e suicídio na sociedade portuguesa.
Confrontado com a interpelação do PCP na Assembleia da República se o seu programa não iria contribuir com mais suicídios para a sociedade, Passos Coelho respondeu da seguinte forma. «Sr. Deputado, estou chocado com a sua pergunta.»
Não houve modo mais incompetente e mais danoso de liderar um país.