Numa entrevista, que já fez correr muita tinta, ao jornal i, defende um imposto especial sobre “quem não perdeu rendimentos com a pandemia”. Diria que precisamos de aumentar a progressividade em sede de IRS, de englobar os rendimentos em pé de igualdade, pelo menos, mas também de lançar um imposto especial sobre os altos rendimentos, sobre a riqueza, das contas chorudas, dos que não estão a consumir ou a investir, aos activos mobiliários e imobiliários valorizados à boleia da política monetária sem direcção orçamental suficiente.
Num país sem soberania monetária, os instrumentos de política são muito mais limitados, quase inexistentes, não o esqueçamos. Não nos podemos conformar com um enquadramento europeu que nos garante grupos inteiros perdidos, uma periferização persistente, como sublinha Jorge Bateira. Seja como for, a falta de visibilidade de propostas fiscais progressivas, neste contexto, diz muito sobre os direitos dos de cima, e sobre as correlativas obrigações dos de baixo, num país brutalmente injusto.
O que acontecerá a uma intelectual pública quando descobre as classes e as suas lutas no presente contexto? Não sei, depende, mas sei que, se vai por aí, convém fazer distinções de forma cuidadosa. De facto, há burgueses que não estão em teletrabalho e há trabalhadores em teletrabalho que não são burgueses de nenhum ponto de vista, sendo aliás a maioria, como não pode deixar de se reconhecer. É claro que há classes altas profissionais em teletrabalho, comparativamente numa situação confortável, estando nos últimos percentis de rendimento laboral, tendo rendimentos de capital relevantes e julgando fazer parte de uma nebulosa classe média.
Estes segmentos burgueses estão amplamente representados no que passa por debate público, tendendo, com excepções, a universalizar a sua situação: sei lá, professores catedráticos, advogados de negócios, gestores, jornalistas de elite e outros profissionais que operam no topo de contextos laborais cada vez mais desiguais, incluindo à boleia da proletarização das profissões intelectuais e da escassa acção colectiva. Esses seriam parte do alvo, incluindo fiscal, de facto. Mas não esqueçamos a correlação de forças e de fraquezas, a violência da reacção, que já se pressentiu, e daí a necessidade de fazer distinções socioeconómicas rigorosas e politicamente produtivas.
Entretanto, já subscrevi a petição para dar prioridade à escola, apesar de não compreender a questão das máscaras em crianças.
Isto só pode ser uma anedota e uma anedota sem piada nenhuma, numa sociedade cada vez mais desigual onde o rendimento do trabalho é cada vez menos representativo relativamente ao rendimento do capital vem uma suposta economista ortodoxa juntar na mesma frase burguesia e trabalho, devia ter vergonha isso sim de dizer certo tipo coisas, e a taxa sobre os mais abastados é o contraponto à progressividade fiscal que devia ser a banalidade num país que se quer civilizado e mesmo a desigualdade no que diz respeito ao trabalho é o outro lado da mesma coisa ou será que é assim tão difícil de perceber que a perde de direitos se traduz na incapacidade dos trabalhadores de fazerem valer a sua posição, enfim...
ResponderEliminarTudo o que seja complicar ainda mais um já complicado sistema fiscal -com ou sem laivos de luta de classe- terá resultados adversos. Seria interesante um livro branco que clarifique o sistema fiscal em Portugal. Por cada colecta fiscal 1.000 €uros líquidos qual é a despesa da máquina fiscal?. Isto bem analizado num período significativo de exercício tributário.
ResponderEliminarVentilada na campanha Presidencial a "flat taxes" -um sistema fiscal com alto grau de "produtividade"- foi patente a ignorância de alguns actores polticos. Controlar é preciso e precioso.
Entretanto lembremo-nos de Olof Palme em diálogo com M. Soares... "nos não queremos tirar aos ricos para dar aos pobres, "só" queremos aumentar os rendimentos dos pobres para que estes se tornarem ricos".
A classe dominante foi desencantar uma “trabalhadora” burguesa chamada Susana Peralta para entreter povo!
ResponderEliminarEntão Camilo Lourenço, Manuel Carvalho, José Gomes Ferreira, Helena Garrido e outros “trabalhadores” burgueses aduladores do pafista Coelho já não servem aos “Donos Disto Tudo”? Estão gastos?
Pensam os “Donos Disto Tudo” que Susana Peralta dá um rosto humano à besta Neoliberal?
Susana Peralta não põe em causa a integração “europeísta”, não questiona a aberrante zona euro e seus perversos efeitos na maioria da população portuguesa.
Susana Peralta insiste que o dinheiro é uma coisa muito difícil de encontrar, tal como ouro, é muito raro! Mas não é…
Esta dos mais ricos terem que sustentar o SNS, Escola Pública e tudo de social que o Estado tem é só real para Estados sem soberania monetária, como o Estado Português.
Que o Estado Português faça o favor à Peralta e seus amigos “trabalhadores” burgueses, aumente-lhes os impostos! Mas que o Estado Português recupere a sua soberania que perdeu e comece a servir a população portuguesa, eu não quero estar dependente dos impostos que o Estado cobra aos “trabalhadores” burgueses para ter um país que valha a pena viver e contribuir para o seu progresso!