Só alguém muito carenciado de gente capaz é capaz de pensar que Pedro Passos Coelho ainda tem alguma coisa a oferecer ao país. E só um jornal enviesado faz um alarde destes na 1ªpágina, sem revolta dos seus jornalistas.
Mas a direita é assim: não tem de ter programa, não tem de explicar o que quer que seja, não tem de ter ideias para mudanças estruturais. Não tem de prometer nada: basta defender o que existe. Ou, pior, basta dizer e defender as ideias que vêm de fora, que em geral não têm em conta os interesses nacionais de Portugal. Essa é a sua função conservadora.
Foi assim nos anos 70, quando a direita se colou às reformas trazidas pelo FMI e fez delas cavalo de batalha nos governos seguintes, nomeadamente na redução de intervenção do Estado, na desarticulação do sector público nascido das nacionalizações e na legislação laboral, para que se quebrasse a espinha pública e a presença sindical. Foi assim nos anos 80, quando a direita cavaquista se tornou o carro de assalto das ideias neoliberais em Portugal, com o fim de desmantelar tudo o que cheirasse a colectivo, a esforço público, a intervenção do Estado e ainda barafustava quando o Tribunal Constitucional impedia a subversão da Constituição. Foi isso que aconteceu nos anos 90 e início do século XXI com o abraço de urso da moeda única e de toda a arquitectura institucional, que acarretou uma mutação económica silenciosa mas estrutural nas opções sectoriais do país (que passou a basear-se nos serviços) e uma transferência - sem discussão - de poderes soberanos para uma esfera comunitária, onde Portugal mal risca, tudo sem efeitos de monta no défice externo. Foi na sequência disso que se abriu as portas a um poder desmedido nas empresas - mudando-se de paradigma no Direito Laboral - com a aprovação do Código do Trabalho em 2003, a pretexto da simplificação da legislação laboral dispersa, o que levou à estagnação salarial sem efeitos de monta no défice externo. Foi isso que aconteceu em 2010/2015, quando a direita abraçou as pressões da União Europeia para que Portugal fosse ajudado pela troica e iniciasse a marcha de um rolo compressor sobre a segurança no emprego e a protecção dos desempregados, que levou a uma escalada nunca vista do desemprego e da emigração, tudo para que fosse possível baixar salários e esvair a intervenção sindical, tudo sem efeitos duradouros no défice externo.
Ao fim de quatro décadas de vagas consecutivas de política de direita, em que a política fiscal não combateu as desigualdades sociais que iam engrossando e agravou-as ao fazer pesar o fardo de quem vive do seu trabalho (no IRS, salários e pensões quase pagam a receita cobrada), estamos num belíssimo ponto para de novo apostar num cavalo arrogantemente liberal (ex-neoliberal), sem visão alguma para o país.
Veja-se o que deu quando se deu largas à sua língua, numa altura em que a direita defendia a redução rápida do défice e dívida orçamentais como política de eficiência e libertação de verbas para a sociedade e, portanto, sabia que iria cortar em tudo:
«nos anos 70, quando a direita se colou às reformas trazidas pelo FMI....»
ResponderEliminarA alternativa seriam a fome e os campos de reeducação...
«nos anos 80, quando a direita cavaquista se tornou o carro de assalto das ideias neoliberais em Portugal...»
ResponderEliminarTempos tenebrosos em que a economia e o nível de vida cresciam a bom ritmo!
Entre 1985 e 1995, a economia portuguesa, com a saída do FMI e a entrada na Comunidade Económica Europeia, verificou taxas de crescimento económico elevadas que foram em média, nesse período de 10 anos, de 3,7%. Durante esse mesmo período, verificou-se uma redução de 19,5% na inflação para os 4,2%.
«Foi isso que aconteceu em 2010/2015, quando a direita abraçou as pressões da União Europeia para que Portugal fosse ajudado pela troica»
ResponderEliminarSócrates, esse injustiçado, nunca é lembrado!!!!
...crescimento da economia portuguesa, desde que esta começou a crescer no final de 2013, durante o qual o emprego cresceu a ritmos superiores aos do produto.
Claro que é injusto, mas não é desculpa para a Esquerda defender o que defende e não conseguir explicar quais as consequências, quais as políticas mitigadoras, quais os custos, etc, etc.
ResponderEliminarNão está a dizer que o leninismo da Direita justifica o da Esquerda, pois não?
O sebastianismo é a grande motivação da direita,anquilosada e saudosa das prebendas catequistas,derramadas como leite e mel por todos os oásis da privatização de indústrias, as que sobreviveram ao desbaste,claro,banca,seguros,empresas de energia,tudo em prol do alinhamento e aplicação da norma interna da então CEE.De lá,para cá,só o directo filho,Passos Coelho,tentou ultrapassar a cartilha,à boleia dos destroços de uma crise financeira e económica que,no plano interno,foi facturada às famílias, aos trabalhadores por contra de outrem,aos pequenos e médios empresários,sob a forma de um choque antipático de desemprego,despedimentos em massa,redução de serviços públicos,quebra de financiamento da saúde,etc.
ResponderEliminarA estratégia e o Plano da Direita estão pendentes,não de qualquer governo-sombra que nem sequer têm a ousadia de referir,nem do regresso ou ressureição de qualquer ungido,mas do simples copy-paste dos ficheiros Excel das escolas com que o liberalismo económico,degradou todo o presente.
Caro José,
ResponderEliminarParece-me ridículo o argumento de que a alternativa às políticas do FMI seriam "a fome e os campos de reeducação". Acho que está mal disposto com o Ladrões de Bicicletas, mas conviria arranjar argumentos bem mais altivos do que a revista da Legião Portuguesa.
De igual modo, está o argumento dos tempos do anos 80 "em que a economia e o nível de vida cresciam a bom ritmo". De facto, o PIb cresceu numa conjuntura altamente favorável, quando ainda havia moeda própria. Só que mesmo assim o crescimento do PIB é um fraco argumento, sobretudo frágil, quando a conjuntura externa favorável abranda - como foi o caso a partir 1990/91 - e o dito PIB cai. Mas em Portugal "não caiu" - ou antes o Governo de Cavaco Silva tudo fez para que os portugueses não o vissem cair, mesmo aqueles que foram apanhados e faliram acreditando na gestão de expectativas feita pelo governo. Afinal, não vivíamos num óasis?
Quanto a Sócrates, não percebo porque o ataca sem atacar quem teve as mesmíssimas políticas de austeridade e até mais gravosas. Atribuo bem mais responsabilidades à UE - que pensavam mais no sistema financeiro alemão e francês do que nos cidadãos europeus - do que a Sócrates, apesar de não partilhar quase nada com ele. E mesmo assim sou capaz de concordar com ele quando resistiu à vinda do FMI e à troica. Mas era mais um político enrolado nesta esquizofrenia em que se tenta brincar à política sem desanatar os nós górdios.
E quanto a 2013, assim é: a economia recuperou nessa altura. Mas aconselho-o a ver: 1) um gráfico em que se coloque o PIB português e a procura externa internacional e verá o que acontece por essa altura; 2) os cortes orçamentais previstos inicialmente no Memorando e os realizados efectivamente; 3) os impactos dos chumbos do TC nos planos inicialmente previstos. E depois falamos.
Caro Jaime,
Vou dar de barato que, para si, "leninismo" seja sinónimo de algo como "cegueira política" ou algo parecido, ainda que me pareça abusivo.
Acho que tem razão no ponto - e já temos batido várias vezes nele - em que acha que a esquerda devia ser mais propositiva e menos negativa nas críticas à direita. Concordo que essa proposta faz falta. Mas se a esquerda lhe parece mais reactiva, isso deve-se muito ao facto de ser a direita quem esteve com a iniciativa política há décadas. E a esquerda numa posição de defesa das suas barricadas.
É justo mostrar que os ataques feitos pela direita não tiveram outro fim que não transferir rendimento dos mais pobres para as empresas - é esse o ideário neoliberal ou liberal. Afinal, os objectivo anunciados ficaram pelo caminho. E restaram os que nunca foram propalados.
E concordo consigo: a esquerda para ser mais eficaz tem de passar à contra-ofensiva. E apresentar os seus planos para melhorar o país. E deveria fazê-lo quanto antes. Sob pena de deixar o caminho a planos neoliberais violentos da extrema-direita que falsamente se apresenta anti-sistema.
Caro João,
ResponderEliminarNão tenho a pretensão de identificar rumos alternativos à macroeconomia que observo em realização, mas isso não me inibe de exigir que se respeitem os factos tal como ocorrem.
Ter a pretensão que em meados dos anos 70 havia alguma alternativa democrática (não 'avançada') a socorrermo-nos dos recursos e condicionalismos do FMI é puro delírio. E se ilustrei a alternativa democrática 'avançada' como «fome e campos de reeducação» foi para lhe recordar os seus métodos mais eficientes, que na realidade a alternativa seria uma guerra civil.
Pode discorrer como bem entenda sobre o que lhe parece que poderia ter ocorrido, mas respeite os factos ocorridos.
...quanto à revista da Legião Portuguesa: pelo conforto que seguramente lhe deu essa tirada, nihil obstat.
ResponderEliminarO «Diário de Notícias», mais um jornal da direita. Só ver a fotografia de Leonor Beleza, deixou-me em sobressalto.
ResponderEliminarBasta ver quem é o seu diretor editorial: Domingos Andrade.
Direita retrógrada, com muitas saudades de Pedro Passos Coelho no poder.
Caro José,
ResponderEliminarAquilo que designa como factos são igualmente interpretações do que se passou. Poderíamos continuar nisto dias a fio, mas recordo-lhe que os anos 70 vão para lá de 1975, 76 ou mesmo 77. Muito depois disso, as orientações políticas seguidas já nada tinham a ver com "guerra civil" ou perigos semelhantes, mas com opções políticas adoptadas, no sentido de agradar ou de se sintonizar com as políticas económicas da CEE, onde os partidos vencedores de 1975 quiseram enfiar Portugal, como forma de consolidar politicamente essas opções. Esse é um facto.
Não me estranha nada que até seja António Costa que o afirme, como o fez no Parlamento: todas as alterações legais à legislação laboral desde 1976 vieram prejudicar os trabalhadores. E isso tem - deve ter! - uma leitura política.