Enquanto um dos heróis neoliberais dos europeístas nacionais chega à chefia do governo italiano com o apoio de parte da extrema-direita, o Ministro do Interior do macronista governo francês, essa outra referência, acusa uma surpreendida Marine Le Pen de ser branda em relação ao islamismo. Lembremo-nos da equivalência: Macron 2017 = Le Pen 2022, na ausência de uma posição soberanista democrática forte.
Por cá, nas nossas sempre especificas circunstâncias políticas, Fátima Bonifácio encarna com clareza bruta, como temos denunciado, a atracção de parte da elite dita liberal clássica pela extrema-direita, pelo Chega. É um partido de origem passista, neoliberal com esteróides, naturalmente favorável, lembremo-lo, ao mercado único e à moeda única e portanto perfeitamente integrável, bafejado de resto pela impotência democrática que a UE vem gerando.
A direita nacional precisa hoje de mais suplementos de alma reacionários, de bodes expiatórios em maior número, mas sempre circunscritos numericamente: ciganos, beneficiários de pobres apoios sociais, um clássico, e eventualmente imigrantes, sem esquecer a inventona do marxismo cultural, num país onde a cultura marxista é absolutamente minoritária. E jogarão com mais violência as cartadas securitárias, dado o caminho que têm feito por tantas instituições de um Estado enfraquecido. Um certo capital agradece, financiando. Há recursos públicos para abocanhar. Não é certamente a versão progressista, pretensamente inclusiva, do neoliberalismo que a vai travar.
Neste contexto, há quem prefira convocar genéricas analogias com a Alemanha dos anos 20, de duvidosas utilidade analítica e eficácia política, até porque se ignora quem dos de cima apoiou Hitler nos anos decisivos e que condições depressivas e austeritárias favoreceram um partido que tinha pouco mais de 2% dos votos em 1928, sem esquecer quem estava do outro lado.
Já o historiador Fernando Rosas é muito mais concreto e definido no seu combate político pela memória com futuro, em linha com toda uma obra que nos ajuda, como poucas, a compreender o nosso século XX, incluindo na dimensão comparativa. Os protagonistas anti-democráticos vestem hoje fatos ou roupa mais casual e a sua componente terrorista anda a esconder as tatuagens e a deixar crescer o cabelo, evitando camisas com tons inconvenientes.
Não é a versão inclusiva? Onde é que a Esquerda ganhou à Direita? No Brasil, perdeu. No RU perdeu. Foram os centristas Macron e Biden que ganharam à Extrema-Direita...
ResponderEliminarE quanto à propaganda Macron 2017 = Le Pen 2022, cabe recordar que Macron ganhou a primeira volta e Le Pen ficou em segundo, Fillon em terceiro e Mélenchon em quarto lugar. Por isso, Macron era a ferramenta contra Le Pen que estava disponível. É essa a regra democrática...
A não ser que, como Jacques Sapir, o João Rodrigues defendesse que mais valia ter logo uma Le Pen 2017, para rebentar logo com a UE.
Cuidado com o que deseja...
Jaime Santos fala em números, mas não fala em povo.
ResponderEliminarPara Jaime Santos, a previsão política para o 24 de Abril de 1974, seria a seguinte: Pinto Balsemão e Sá Carneiro eram a ferramenta contra Marcelo Caetano.
Para gente bruta e arrogante, como Jaime Santos, o povo não conta; nem aqueles que estejam presos ou em algemas e que dentro das suas celas clamam pela libertação de um povo e de um país.
«a inventona do marxismo cultural, num país onde a cultura marxista é absolutamente minoritária»
ResponderEliminarSe atendermos que a cultura deve ser medida pelas suas mais óbvias e visíveis manifestações, aguardam-se detalhes sobre tão importante descoberta.
O liberalismo sempre me traz à memória a 'factura da sorte' e a obrigatoriedade de obter facturas dos fornecedores de bens e serviços.
ResponderEliminarÀ indignação que tais medidas muito justamente provocaram a uma esquerda em sobressalto liberal, não só não se seguiu a inevitável reversão como li hoje que o sorteio automóvel regressa agora em versão eléctrica!
Mais uma vez um excelente texto de João Rodrigues que toca em assuntos muito sérios.
ResponderEliminarTão sérios que incomodam sobremaneira os que se identificam em maior ou menor grau com Macron ou com F. Bonifácio .
Jaime Santos continua a tentar justificar a sua existência de pobre vira-casacas a vestir a sua camisinha de "vencedor". Vencedor à moda do banqueiro Macron e de Biden.
Macron, aquele que ultrapassa pela direita marine le pen? Estes amigos de JS fascinam sempre.
JS bem tenta fazer de detergente deste género de coisas. De Macron então é um adepto nauseante. Esconde um pulha atrás de outro, esquecendo o que são ambos.
As políticas de Macron são o aprofundamento das políticas que foram e são causa da atual crise económica e social em França e da manutenção dos fatores que alimentam o crescimento da extrema-direita. São a intensificação do programa de exploração e de retrocesso social em França e de aprofundamento do rumo neoliberal. Aquele pelo qual JS se bate tão galhardamente.
Lembremo-nos pois da equivalência: Macron 2017 = Le Pen 2022.
Deixemos as ameaças rotineiras de JS com o seu "cuidado com o que se deseja", numa contínua chantagem de apresentar como alternativa o que de facto não o é.
ResponderEliminarPorque uma das coisas que este texto de JR tem de fundamental é precisamente mostrar os elementos que ligam a direita liberal dita clássica a essa extrema-direita que lhe serve como álibi mas também como alimento (mútuo)
"A atracção de parte da elite dita liberal clássica pela extrema-direita, pelo Chega. É um partido de origem passista, neoliberal com esteróides, naturalmente favorável, lembremo-lo, ao mercado único e à moeda única e portanto perfeitamente integrável, bafejado de resto pela impotência democrática que a UE vem gerando"
E sobre as palavras de Bonifácio nem se ouve um pio nem de JS nem de jose. De tão claras, elas são perigosas, porque por demais identificadoras de um estilo, de processos e de intenções
A escolha do alvo das críticas nunca é inocente. Uns preferem o autor da posta, outros preferem voltar a Balsemão e a Sá Carneiro, outros preferem as calinadas pura e simples de jose
A admiração de jose( entretanto escondida, como se sabe) por Trump e por Bolsonaro, passou pela repetição cacofónica do "marxismo cultural". Aguardemos os detalhes sobre a métrica da cultura nas suas mais óbvias e visíveis manifestações, Relembre-se que este era o tipo que queria um ensino baseado no "senso comum".Tal como os terraplanistas ou os geocentristas?
Um outro ponto que deve ser realçado neste texto de JR é a chamada de atenção para o admirável trecho de Fernando Rosas.
ResponderEliminar"Ainda que a autora ( F. Bonifácio ) fuja a explicar-se sobre o que realmente propõe como solução política, o seu argumentário é o da fundamentação de uma estratégia subversora da atual ordem constitucional e democrática. Tal como o do Chega"
O que fazer quando se apresentam argumentos sérios e concretos?
Falar na "vitória" de Macron. Tentar sublinhar as idiotices vomitadas pelos companheiros de caminhada como bolsonaro. Ou tentar outras asnices concomitantes como a "factura da sorte".
Parece que isto é o que o "liberalismo " traz à memória do ciclicamente desmemoriado jose. Das odes ao "anti-liberal" Salazar", passamos para os sorteios em versão eléctrica...
O que dizer disto? Preocuparmo-nos com o estado mental de jose, com a sua impotência argumentativa ou isto é apenas e mesmo o que jose também é?
Ainda bem, que existe liberdade de expressão neste local (coisa que muitos canalhas não querem), assim ficamos a saber os interesses da "realeza", e sendo assim, já tem coisas para se preocupar!!!
ResponderEliminarExcelente o texto e estou de acordo com o comentário de Esteves Ayres.
ResponderEliminarTambém gostei do comentário escrito em 18 de fevereiro de 2021 às 12:45. Muito bom.
Porque será que a tralha neoliberal não se pronuncia sobre o pelotão da frente do Chega a abrir caminho para a elite neoliberal? E prefere antes falar nas facturas electónicas, no marxismo cultural, no povo, na realeza e outras miudezas para disfarçar?
ResponderEliminarGostei do vocábulo "pelotão", ma sei onde ela viu nascer a direita liberal.
ResponderEliminarDevia viajar um pouco, ou ler a imprensa estrageira. Nunca a presença do Estado foi tão requisitada mesmo na Inglaterra> Enfim, ela lá sabe o que vê, mas às vezes trocar de óculos funciona.
Fátima Bonifácio passa o tempo a viajar e a ler a imprensa nacional e estrangeira. Com estes resultados A questão não são os óculos. A questão é ideológica
ResponderEliminar