Aquilo que, no último post, surgia como um temor, eis que se torna mais rapidamente realidade do que se esperava.
É triste verificar que o director de um dos jornais nacionais de referência acha que a dívida pública nacional se paga com "austeridade e dor". Pelos vistos, não se aprendeu nada sobre o falso diagnóstico liberal da última crise de 2010. E, por isso, com a falsa terapia liberal para o curar.
De que valeu a pena todo o sofrimento sentido nos anos da troica se os mais capacitados, aqueles que deveriam ser os guardiões da democracia ao preservar a liberdade de informação, transmitem afinal, repetem sem pensar e sem rever, o falso senso comum, liberal e dominante, errado, estúpido e, por isso, ineficaz face aos objectivos que são anunciados? Acaso não se sabe já - o próprio FMI o defende - que a crise deve ser combatida com um adicional esforço público que, inclusivamente, terá efeitos positivos no défice orçamental e na dívida pública? Porquê este regresso ao discurso da "outra senhora", vulgo há dez anos atrás?
Repita-se - porque pelos vistos só lá vai com repetições constantes - que o programa de "austeridade e dor" em Portugal gerou um exercício de desempregados ou trabalhadores "subutilizados" de 1,5 milhões de pessoas em 2012, cerca de 25% da população activa; delapidou serviços públicos que cumprem as funções constitucionalmente previstas, provocou por isso também uma emigração histórica, uma transferência de rendimento dos trabalhadores para as empresas, explicando um aprofundamento do fosso social verificado. Algo de que ainda não nos convalescemos totalmente.
Preparamo-nos, pois.
Porque se os directores da comunicação social já acham que a solução é "austeridade e dor", a pressão será ainda mais poderosa quando o rolo compressor investir de novo, porque será cacofonicamente ampliada por todos os meios de comunicação, a começar pelas televisões com os seus comentadores cirurgicamente cooptados à direita e com as suas redacções sem autonomia. Afinal, não foi isso que aconteceu desde Março de 2010, quando a Comissão Europeu inverteu o seu discurso sobre como sair da crise económica e todos os directores de meios de comunicação social passaram a defender a necessidade da "austeridade e dor"? (procurar aqui, o Caderno nº7 do Observatório sobre Crises e Alternativas)
P.S. - Como sinal do que foi dito, publica-se um artigo do mesmo jornal de há nove anos:
A direcção do jornal, no seu editorial, nem mencionava o elevado desemprego que grassava. E o jornal insistia nos seus comentadores de direita - verdadeiros embaixadores do sistema europeu - que defendiam a austeridade de braços abertos e como uma fatalidade a cumprir pelos super endividados Estados do Sul da Europa, culpados de não serem alemães, sempre com desculpas externas e que, por isso, tinham de pagar a sua culpa. Volta, pois, tudo ao mesmo.
[Pedro Lomba nasceu em 1977, formado em Direito, doutorado sobre "uma comparação entre a protecção constitucional da liberdade de expressão comercial nos Estados Unidos e na Europa", foi ou é militante do PSD, secretário de Estado do Governo PSD/CDS ao tempo da troica... e actualmente está no escritório de advogados PLMJ desde 2016, "sócio coordenador da área de Tecnologia, Mobilidade e Comunicações"...]
«a crise deve ser combatida com um adicional esforço público»
ResponderEliminarE qual é esse esforço?
Investimento, em quê? ... que se lhe defina a rentabilidade?
Despesa, em quê?... que se lhe defina a eficiência?
Subsídios, para quem? ... que se lhe defina a origem da receita.
Só se houve falar em desbundar nota e dívida!!!
Há mesmo qualquer coisa de imensamente abjecto nestes troikistas uberalles.
ResponderEliminarMais uma vez, só não vê quem não quer ver
Um excelente texto
ResponderEliminarRentabilidade, eficiência, origem da receita ...
ResponderEliminarUma autêntica desbunda a repetir os mantras que ouvimos nos tempos de chumbo troikista, daqueles papagueados pelos neoliberais a antecipar o assalto.
Uma pena. Uma pena que a memória de jose tenha destas coisas. Ainda há dias não se lembrava de nada, "Não sei o suficiente sobre o assunto para saber se o programa de austeridade era adequado" dizia. E agora repete a mesma treta, neste assomo memorialista verdadeiramente notável?
Rentabilidade é só para os porno-ricos.
Eficiência é para os alemães, quando subornaram Portas e os seus
Despesa é para os mecanismo de repressão a usar quando necessário
Subsídios são para as empresas sediadas nos paraísos fiscais.
A crise é para ser combatida com mais austeridade, como dizia Passos Coelho, Portas...e jose, pois então