terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Diário grego

Escrevia-se no Público de 9 de fevereiro de 2012: 

A Grécia prepara-se para reduzir o salário mínimo e as pensões, cortar despesas de Saúde e militares e despedir 15 mil funcionários públicos para obter um novo empréstimo de 130 mil milhões de euros da zona euro e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Estas e outras medidas continuavam ontem à noite em negociação entre o primeiro-ministro grego, Lucas Papademos, e os líderes dos três partidos (socialista, conservador e de extrema-direita) que apoiam o seu Governo de “união nacional”, para acertar as contrapartidas nacionais para a nova ajuda. Da conclusão do acordo entre os três líderes e o chefe do Governo, e entre estes e a troika da Comissão Europeia, Banco Central Europeu (BCE) e FMI depende o futuro do país, mas igualmente de Portugal e do resto da zona euro: um eventual fracasso provocaria a insolvência do país, que está há dois anos sem acesso aos mercados financeiros, o que forçaria quase certamente a sua saída do euro, com o risco de contagiar os outros países mais frágeis. 

Eis a aplicação da velha receita de "salvação nacional". Eis os avisos chantagistas passados para a comunicação social. Eis a omissão de políticas alternativas que mais tarde vieram a ser aplicadas sem necessidade de resgates desenhados para salvar bancos e afins, que tinham apostado em títulos de elevada remuneração, como eram os de dívida pública cavalgados por mercados financeiros desgovernados e deixados à solta. 

Uma receita prescrita igualmente para Portugal e que teve tão brilhantes resultados que a própria troika a teve de esconjurar, atenuar, reduzir, adiar até...  - anos mais tarde - concluir que fora errada! 

E no entanto, ainda há quem a venha hoje defender como necessária essa tão estafada "união nacional" de "salvação nacional" cujo programa é por demais conhecido. Haja paciência. E que os anjos nos guardem dessa gente.  

6 comentários:

  1. O João quer que os anjos o projetam desta gente?
    Eu quero que a Justiça me proteja desta gente, não sou propriamente religioso...

    O que o Troikistas fizeram a este país (e a outros) é criminoso.
    Os pafistas destruíram parte da economia e degradaram a parte social do Estado para esmagar quem vive do trabalho e para reforçar o poder de quem vive acima das possibilidades de quem trabalha.
    O BCE não tinha que ter deixado Portugal e outros países sem financiamento e assim criar uma falsa crise.
    Isto foi feito de propósito, eles sabiam muito bem o que estavam a fazer.
    Há quem esteja na cadeia por muiiiiiito menos…

    E os “europeístas” tudo isto fizeram para nem sequer conseguirem o que queriam, os Estados Unidos Neoliberais da Europa.
    Agora os países vão ter que voltar a ter os seus respectivos Bancos Centrais e as suas moedas nacionais...

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  2. Pelo menos o João Ramos de Almeida reconhece que o Governo do PS não é igual a um Governo de Salvação Nacional como idealizado por Sousa Tavares, Santana Lopes, etc, etc... Salva-se António Barreto que perguntou a estes senhores se não acham que, no meio da pandemia, não temos mais que fazer do que andar a mudar agora de Governo.

    Mas é preciso que se seja consequente e se dê a este Governo o apoio parlamentar que necessita. Condicionado, como é óbvio, mas lembrando que o PS governa com o seu programa e não com o da Esquerda e que teve mais de duas vezes os votos do BE e PCP somados em 2019, o que não é despiciendo.

    Quanto à ideia peregrina de meter na cadeia quem apoiou o programa da troika (não foi o meu caso, que sonhava à época com um programa político sério que permitisse a saída do Euro, até hoje), cabe lembrar que o Governo de Passos e Portas tinha maioria na AR, após a queda do Governo Sócrates que não a tinha. Em democracia, os Governos sufragados pelo povo têm ampla margem de manobra e não há cá retroactividade das Leis que valha aos leninistas de sofá.

    Não queriam o programa da troika? A solução que existia na altura era votarem o PEC IV. Não votaram, logo não se queixem...

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  3. "Os estados unidos neoliberais da europa" é uma boutade. Um slogan propagandistico a fazer de Sancho Pança para ver se passa.

    Mas deixemos para lá afirmações primárias do tipo "Agora os países vão ter que voltar a ter os seus respectivos Bancos Centrais e as suas moedas nacionais..." com que se tenta dinamitar, fazendo-se passar por rebolucionário, o texto lúcido e extremamente oportuno de João Ramos de Almeida.

    O autor do post relembra os anos de chumbo de 2012. O fidelíssimo jornal Público como voz do dono. João César das Neves, aquele sinistro personagem da troika e mais além , que compartilhava com o ministro holandês a sua segunda derivada sobre o viver acima das nossas possibilidades

    Mas JRA chama a atenção para outra coisa fundamental e que deixa com comichão a tralha neoliberal: Relembra a "aplicação da velha receita de "salvação nacional", os avisos chantagistas passados para a comunicação social., a omissão de políticas alternativas que mais tarde vieram a ser aplicadas sem necessidade de resgates desenhados para salvar bancos e afins
    A tal "receita prescrita igualmente para Portugal e que teve tão brilhantes resultados que a própria troika a teve de esconjurar, atenuar, reduzir, adiar até... - anos mais tarde - concluir que fora errada!"

    E JRA toca no ponto actual: "no entanto, ainda há quem a venha hoje defender como necessária essa tão estafada "união nacional" de "salvação nacional" cujo programa é por demais conhecido."

    Este é o busílis do texto. Uma bofetada naquela cambada que anda por aí a pedir a "salvação nacional" Como noutros tempos. E como noutros tempos com carpideiras ao lado, para ver se com o choro, não se nota que o rei vai nú

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  4. O PS aliou-se à direita para aprovar o PEC 1 , o PEC 2 e o PEC 3. Instrumentos de direita, que serviram os objectivos da direita e do PS.

    A esquerda votou sistematicamente contra tais pacotes iníquos.

    Chegamos ao inenarrável PEC IV, ainda mais miserável que os anteriores, entre outras com as seguintes medidas austeritárias:
    Aumento IRS e IRS;
    Pensionistas a pagar mais IRS
    Aumento do IVA em alguns produtos;
    Aumento dos impostos especiais sobre o consumo;
    Aumento do preço dos transportes.
    Redução do prazo do subsídio de desemprego;
    Cortes nas pensões acima de 1500€ e congelamento das pensões;
    Congelamento dos salários da função pública;
    Redução da comparticipação dos medicamentos;
    Redução dos gastos com saúde e educação;
    Cortes nas verbas para as autarquias, regiões autónomas e empresas do Estado.

    A direita roeu a corda. Sócrates e o PS preferiram apresentar este lixo, a negociar à esquerda. A esquerda foi coerente em recusar mais esta guinada á direita, com a face voltada para o neoliberalismo austeritário e para os grandes interesses económicos

    E agora JS vem choramingar a pensar que por aqui perdemos a memória ou somos definitivamente tontos?

    Mas JS vai mais longe. Pergunta de forma acintosa se "não queriamos o programa da troika"

    Quem queria o programa da troika sabemos nós quem era. Ainda nos lembramos de Maria de Belém, líder parlamentar do PS ter encerrado a intervenção socialista no debate do programa de Governo de Passos Coelho reiterando o "apoio do PS" ao Governo em tudo o que seja aplicação do programa da troika.

    O PS preferiu aliar-se à direita e lamber as botas a Passos e à troika.

    Agora JS não só se queixa, como aldraba na sua condição de pseudo-queixoso

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  5. JE:
    Não estou a perceber.
    Afinal, todas essas medidas constantes do PEC VI, dando de barato que não está a exagerar, não foram aumentadas e aplicadas de uma forma mais drástica, com consequências muito mais devastadoras?
    Não está implícito no texto que os governos fracos são pressionados, até pelos mérdia, através da opinião publicada (falsa pública)?
    O Sciryza e o Varoufakis foram coerentes na luta contra as imposições. Onde é que eles estão agora?
    Na minha modesta opinião, o Bloco, ao invés de aceitar medidas mitigadas para aliviar a pressão externa, preferiu
    estender o tapete à PREVISÍVEL avalanche de devastação troikista, no intuito de se banquetear com os ossos do moribundo PS.
    Claro que tenho muitas críticas a fazer aos socialistas e gostaria que conseguissem divergir mais das agendas impostas pela UE, mas disfarçar o calculismo político do Bloco com o véu da "coerência" não pega.
    O que eu sei é que ainda estamos a sofrer as sequelas desse radicalismo inconsequente, quando está à vista de todos que poderiam ter tentado uma espécie de proto "geringonça" e criado uma frente de esquerda para fortalecer a resistência à entrada da troika com uma "maioria"
    Acha mesmo que o PEC VI iria a implicar, sequer, metade do retrocesso que viemos a sofrer com a ação da dupla Passos/Portas?
    Eu não.


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  6. Sorry, estou disléxico e digitei PEC VI (na volta, esse sim é que iria ser o "inenarrável")
    Creio que se percebeu que me refiria ao PEC IV.

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