quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Terrorismo, extrema-direita e normalização democrática: lembrar o atentado a Lopes Cardoso


A curiosidade em torno de um facto recente da história política local levou-me a mergulhar nos arquivos da imprensa regional, neste caso do jornal "Vida Ribatejana".

Perante os tempos que vivemos, não pude deixar de partilhar este artigo com que me confrontei, onde é noticiado um atentado bombista na residência de António Lopes Cardoso, em 1976.

Lopes Cardoso, recorde-se, foi o primeiro Ministro da Agricultura do I Governo Constitucional, do Partido Socialista. À data deste atentado, Lopes Cardoso já se havia demitido do governo socialista, em desacordo com Mário Soares, que tinha um plano de pouco disfarçado desmantelamento da Reforma Agrária, de que viria a encarregar António Barreto, que sucederia a Lopes Cardoso.

Apesar de já afastado, a extrema-direita ligada ao poder latifundiário não perdoou a Lopes Cardoso, que viu a sua casa atacada à bomba.

Apesar do vil ataque, repare-se na presença de espírito do anterior ministro ao declarar, numa indireta a António Barreto, que "se isto de alguma maneira for mais um alerta e leve a fazer o que até agora não foi feito... bendita bomba".

Serve esta pequena nota para duas coisas. A primeira para, uma vez mais, pôr em evidência a falsidade histórica de colocar o 25 de Novembro como o início da normalidade democrática, por oposição ao PREC, em que a ameaça à democracia seria constante e proviria da esquerda. Como múltiplos episódios atestam, deste aqui relatado ao mais mediático assassinato do padre Max, houve ameaças à normalidade democrática muito depois do 25 de Novembro que partiram dos setores radicalizados da direita.

Num segundo plano, não menos importante, para lembrar o nome de Lopes Cardoso. Como muitos homens de esquerda que não se inserem no discurso oficial de nenhum dos grandes partidos, o seu papel na democracia tende a ser esquecido. Tratando-se de uma figura incómoda na história do PS, hoje pouco se fala do seu nome, apesar de ter sido o mais relevante pensador desse partido sobre questões agrárias dessa área política durante os anos finais do fascismo e nos dois anos que se seguiram à revolução.

(Nota: reparem como abaixo se vê o cabeçalho da notícia do afastamento de Salgueiro Maia da EP de Cavalaria de Santarém, ele que foi mais uma vítima da atitude persecutório da direita militar no pós-25 de Novembro, com a complacência do governo socialista.)

6 comentários:

  1. O verão quente, financiado pela CIA.

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  2. A extrema-direita é sempre abjecta. Abjectamente criminosa. E sempre, mas sempre revanchista

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  3. «a extrema-direita ligada ao poder latifundiário»
    A recusa da esquerda de ligar o pensamento de direita a qualquer outro factor que não a subserviência ao poder económico, sendo uma infantilidade, é objectivamente antidemocrática.
    O financiamento da CIA compara com o desinteresse do KGB após a independência de Angola.

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  4. Boa tarde
    No que refere sobre Salgueiro Maia, porventura um dos meus concidadãos mais mal tratados, talvez se deva lembrar que, para lá do que escreve sobre a direita militar, o Conselho da Revolução durou mais 6 anos. Será que fechou os olhos a esse tratamento proporcionado a Salgueiro Maia? Não estavam lá vários, não de direita, e ainda hoje ligados aos poderes actuais?
    António Cabral

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  5. Jose,

    E, no entanto, sabemos bem quem paga o teu ordenado e quem financia o teu partido, bem como para fazer o quê.
    Bem como quem andou a financiar a CIA e quanto sangue isso custou, incluindo nas torres gémeas e mais que provavelmente ao querido Sá Carneiro. Faz muito bem em equivaler ao KGB.

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  6. A subserviência ao poder económico por parte duma direita caceteira e revanchista ficou bem expressa nos idos tempos de chumbo de passos coelho. Aquele que era forte com os fracos e fraco com os fortes.

    Aqui começa a primeira boutade de jose. Ele, logo ele, que andou aos berros por mais subserviência.

    E até andou por aqui a defender um trafulha dum governante que governava o dinheiro do poder económico para os offshores por via directa

    A outra boutade vem naquilo que ele considera "objectivamente anti-democrático"

    Jose utilizar a palavra "anti-democrático"? Ele,logo ele,um convicto anti-democrata,versão ditador das botas cardadas?

    Tcthtchtch

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