sábado, 9 de janeiro de 2021

Os imigrantes, esses malandros que contribuem mais do que recebem

Como não podia deixar de ser, André Ventura trouxe para a campanha o abjeto discurso anti-imigração, tirando partido do desconhecimento de factos para agitar fantasmas, alimentar ódios e criar bodes expiatórios do mal-estar social. No encontro com Le Pen voltou à carga com a «Europa dos europeus, de quem trabalha, de quem se integra, de quem paga impostos», para rejeitar «a Europa daqueles que só vêm beneficiar do sistema económico e de segurança social sem aceitar a integração».

É pois preciso lembrar, uma vez mais, que os imigrantes que vivem em Portugal são, no seu conjunto, contribuintes líquidos do tal «sistema económico e de segurança social» que alegadamente parasitam, segundo Ventura. O mais recente Relatório Estatístico Anual do Observatório das Migrações não deixa dúvidas: «a relação entre as contribuições dos estrangeiros para a segurança social (...) e os gastos do sistema com prestações sociais de que os contribuintes estrangeiros beneficiam (...) é bastante positiva e favorável», tendo-se atingido um saldo de +884M€ em 2019, o valor mais elevado dos últimos anos.


Mais: estes dados não só contrariam o argumento de que «a imigração tem iminentemente objetivos de maximizar apoios públicos e, assim, desgastar as contas públicas das sociedades de acolhimento», como evidenciam que os estrangeiros, excetuando o período entre 2010 e 2014, registaram sempre rácios de prestações sociais por contribuições inferiores aos do universo de nacionais (sobretudo por se tratar, no caso dos estrangeiros, de uma população com maior peso relativo de ativos).

Por último, estes dados refutam ainda a ideia de que os imigrantes «nos vêm roubar empregos», bastando analisar que setores detém um maior peso de imigrantes no total para sobressairem os casos da Agricultura, pecuária, floresta, caça e pesca (18%), do Alojamento e restauração (14%), das Atividades administrativas e serviços de apoio (12%) ou da Construção (7%). Isto é, setores em alguns casos porventura menos atrativos para os ativos nacionais, à semelhança do que sucedeu em França ou na Alemanha, que acolheram milhares de portugueses no século passado, em busca de trabalho e de uma vida melhor.

12 comentários:

  1. Podemos ter toda a razão do mundo, mas ou as condições materias mudam e a CS deixa de apoiar políticas de empobrecimento, ou nada interessa. Até podem os eleitores acordar para a hipocrisia de um que virá o próximo, com o mesmo apoio dos donos disto tudo.

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  2. A tática da hipocrisia é a de "dividir para reinar".
    O "mestre" ianque dos aprendizes de feiticeiro também andou a dividir os americanos durante anos.
    Conseguiu isolar os imbecis todos, levá-los a invadir o capitólio e, lixá-los a todos, pois ficaram todos com o retrato na galeria.

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  3. É absolutamente evidente que os imigrantes acabam por rebaixar as condições laborais dos residentes e é triste ver a esquerda a esconder o óbvio.

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    1. Não são os imigrantes que aprovam alteraçőes ao código do trabalho nem são eles que gerem as empresas. Não entendo o seu argumento.

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  4. Imigração não é negócio equiparável a turismo.
    Interessa-me pouco o saldo económico desse processo.

    Um imigrante compara com um nacional em deveres e direitos.
    Os seus privilégios comparam com as necessidades dos portugueses.

    A sua presença tem um significado cultural que pode traduzir-se num tribalismo que concorre em condições económicas e sociais diferenciadas.
    As condições operacionais de lojas de chineses e banglas concorrem com as existentes para os nacionais.

    A outra face da moeda é a de num país dos direitos e dos salários crescentes, serem os imigrantes o suporte de actividades que de outro modo teriam graves dificuldades.

    Como em tudo que o corretês abrange, a imigração tem uma dupla face e a ambas as palavras encobrem.

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  5. Caro Anónimo das 11h29,
    A questão que coloca é pertinente em termos abstratos, mas importaria contudo - no caso concreto - fundamentar as «absolutas evidências» a que se refere, pois não creio que existam dados que as reiterem de forma clara e objetiva. Seja como for, não me parece que o contigente de mão-de-obra imigrante permita colocar as coisas nesses termos no caso português, até pela concentração em setores de atividade muito específicos e em que é de admitir a hipótese de não haver muita mão-de-obra nacional disponível para neles trabalhar (como sucede no caso da agricultura, por exemplo). Seja como for, não me parece também que o caminho deva ser o de recusa da imigração (por múltiplas razões, incluindo o seu contributo positivo para a sustentabilidade da Segurança Social, como os dados mostram), mas sim o de garantir a todos um salário mínimo mais elevado (com o reforço da atividade inspetiva, para impedir que essa diferenciação, e pressão, possa ter lugar.

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  6. A hipocrisia da elite é refletida no discurso dos partidos da direita.
    Dá jeito agora para atingir os partidos da esquerda.
    Mas a direita (que inclui a parte do PS a quem é permitido chegar ao poder) usa o desemprego e a concorrência entre Portugueses e imigrantes para baixar salários.
    Os Nepaleses que trabalham na agricultura no Alentejo e Algarve não atravessaram os Himalaias a salto.
    Foram trazidos por quem os está a usar.
    O discurso do aprendiz de feiticeiro usa o termo "bandidos" para se referir ao PS.
    Mas não há bandidos no PSD, CDS ou ch*ga.
    Não houveram bandidos no BPN, BES, BPP, BANIF nem CGD.
    Os caloteiros dos 25 BILIÕES de € não são bandidos.
    O Isaltino, o Valentim, o Menezes, o Torres, o Lima, o Loureiro, o Núncio foram todos militantes do PS.
    Os submarinos foram obra do Guterres, o Crash do Citius foi obra da santa inocência e a lucinda é uma beata de Figueiró dos Vinhos.
    A desastrosa privatização das águas ... muda de assunto...
    A criminosa privatização do monopólio da energia elétrica/gás natural ao mesmo grupo privado... e o jogo do Benfica, que tal?...

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  7. É bom ver que os comentadeiros seguintes me dão logo razão. Factos, dados, compensar o trabalho duro, que é que isso interessa? São o outro menor e tá conversado.
    E depois a hipocrisia de salários crescentes de quem mais apoia que estes desçam por via de aumento do desemprego estrutural.

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  8. Não lhe aparece absolutamente evidente que o preço do trabalho seja condição essencial para aceitação do mesmo? Ou que exista uma relação entre a mão de obra disponível e o valor a que este trabalho é pago? Entende isto como uma abstração?
    A instrumentalização dos trabalhadores, neste caso os estrangeiros, é um excelente tópico, por serem contribuintes líquidos são bem-vindos, isto é exatamente o que não deve ser multiculturalidade, esta noção de igualdade e de globalidade é o que tem feito a esquerda cavalgar a civilidade.

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  9. Caro Paulo Marques e Anónimo das 21h20 (9 janeiro), sublinho que este post visa desmontar - com dados objetivos - uma mentira recorrente: a ideia de que os imigrantes não trabalham e vêm para o nosso país apenas para parasitar o sistema de apoios sociais.
    A questão que colocam, relativa ao mercado de trabalho e à pressão sobre os salários decorrente do emprego de mão-de-obra estrangeira é relevante, não é linear e merece reflexão. Mas é outra questão, que - diria eu - convirá não amalgamar com a desconstrução de uma mentira, propalada pela extrema-direita, relativamente às contribuições e benefícios da Segurança Social. Em última instância, porém, repito o que disse em comentário anterior: assegurar o salário mínimo e a sua elevação, a par de mecanismos inspetivos reforçados, constitui a melhor forma de combater a pressão sobre as oportunidades de emprego e os níveis de rendimento.

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  10. É evidente que uma maior oferta causa queda de preços, mas, com o que temos hoje e não uma hipotética e disparatada porta aberta, não é maior oferta no mesmo produto, nem sequer no mesmo mercado. Senão, nunca seria aditivo à economia. Em muitos casos, a não existir, seria substituído por automação ou subcontratação no estrangeiro.
    O problema é outro, só a exploração abusiva de uns e outros, seja nas condições de trabalho, seja na financeirização do consumo, em produção de baixo valor acrescentado é que é fomentada, sem haver oportunidades materiais para quem tem ideias que não sejam pasteis de nata e lavandarias. E isso, com ou sem imigração, vai dar ao mesmo.

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  11. Vivemos no mundo da fantasia!
    Quer-se produção de alto valor acrescentado, com elevados salários, e luta-se denodadamente para evitar a acumulação de capital com alarido e impostos e distribuição, com livre importação de mão-de-obra desqualificada.

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