quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Sobre o orçamento

 «As previsões do Governo de um crescimento de 5,4% são de uma rápida recuperação. Ora, o aumento progressivo de despedimentos cuja dimensão ainda é difícil de prever devido ao layoff, aliado à incerteza nacional e internacional que a própria pandemia traz, é razão para ser cético. Por outro lado, este orçamento traz um esforço insuficiente e incerto do Estado no que toca ao investimento público (que cresce, mas vem de mínimos históricos). Este não é o orçamento contra-cíclico que se impõe face à gravidade da crise», refere. 

 Quanto à taxa de desemprego, o economista admite que as previsões «refletem o otimismo do Executivo não só de uma rápida recuperação, mas também do real impacto da atual crise, cujos efeitos estão ainda longe de serem claros, devido às medidas de emergência. Acresce que, dada a dependência do emprego recente de setores como o turismo, não é fácil ser tão otimista como o Governo». 

Também o aumento do endividamento é visto pelo economista como natural tendo em conta o atual contexto económico. Mas deixa um alerta: «Devido ao trauma do que foi a crise do Euro em 2011-12 há uma clara inibição do Governo em recorrer a endividamento para relançar a atividade económica. Pode parecer um bom princípio de cautela, mas não o é. Ao contrário do que aconteceu em 2011, o BCE está no mercado a comprar títulos de dívida pública dos diferentes Estados da zona euro, mantendo assim taxas de juro muito próximas do zero para países como Portugal». 

Mais difícil de compreender é, para Nuno Teles, a alternativa de um empréstimo do sistema financeiro nacional ao Fundo de Resolução. «Se cumpre o objetivo da não transferência orçamental, estamos a falar de empréstimos a uma entidade que está no perímetro do Estado, logo que contará para efeitos de défice. Na prática, o mais provável é que o financiamento do FdR será mais caro do que o financiamento que seria conseguido através de endividamento através de emissão de dívida. Por mera manipulação contabilística, arriscamo-nos a onerar mais uma entidade pública», conclui.

Excertos das declarações de Nuno Teles ao Sol. Se o Professor da Universidade Federal da Bahia não vem ao blogue, o blogue vai até ele, tentando resgatá-lo de tais companhias...

2 comentários:

  1. Só haverá retoma se o investimento público estimular o investimento privado.
    Seja de que forma for feito o investimento público, a UE obrigará a meter a finança como intermediário entre o público e o privado (banco deve a banco e, no fim da linha, estará sempre um banco alemão ou francês).
    Portanto, o empresário terá que se endividar.
    Mas, como se endivida quem já está endividado até ao pescoço?
    Se for da elite, não há problema.
    Pode "CALOTAR" à vontade.
    O nome será protegido e os mesmos bancos que ficaram com os calotes, emprestam-lhes o que eles quiserem mais, a descoberto e com o recurso aos tribunais barrado por escritura.
    Se for dos 99%, terá que dar garantias colaterais.
    Arrisca-se a ficar a dormir na rua.

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  2. Em toda esta saga do investimento como motor da economia, fala-se de transportes de favorecer pelo consumo uma miríade de atividades, mas a agricultura e a floresta sempre são ignoradas e as reformas que reclamam esquecidas.

    Só a parolice da industrialização porque sim pode levar ao desprezo pelas áreas que mais garantem um retorno sobre um capital duradouro e seguramente residente.
    Subjaz o preconceito sobre o 'meter as mãos à terra'.

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