Os dados da população residente em 2019, divulgados há dias pelo INE, confirmam a tendência cumulativa de esvaziamento demográfico do interior norte e sul, com perdas acima dos 6% na última década e que chegam a superar os 10% no Alto Alentejo. Aliás, em boa verdade, o dado mais relevante a reter neste período é a confirmação de que apenas a Área Metropolitana de Lisboa (AML) não perde população, registando um aumento de 1,3% e confirmando o «crescimento unipolar» de que fala José Reis no seu mais recente livro, «Cuidar de Portugal».
Esta é de resto uma das principais diferenças quando se compara o período entre 2011 e 2019 com a década anterior. Se entre 2001 e 2011 se registam aumentos da população em praticamente todo o litoral e no Algarve, numa clara lógica de litoralização, a dinâmica subsequente é a da tendência para a concentração unipolar na AML. Ou seja, depois do afluxo de população do interior para todo o litoral, a AML parece absorver, na fase seguinte, uma parcela demográfica desse mesmo litoral. Cumulativamente, o resultado é claro: nas últimas duas décadas todas as NUT do interior registam perdas acima de 10% e a faixa litoral não metropolitana, a par do Algarve, entra em declínio.
Os anos do «ajustamento» obrigam, contudo, a considerar duas fases distintas no período de 2011 a 2019. Usando a mesma escala de variação, não há nenhuma NUT que tenha registado um aumento da sua população entre 2011 e 2015, mesmo que as perdas tenham sido menores (abaixo de 3%) nas áreas metropolitanas e nas NUT mais próximas. Entre 2015 e 2019 já não é assim, regressando as áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto às variações positivas, com ganhos inferiores a 3%. O que não impede, como é óbvio, que continuemos a ter que falar no acentuar de desequilíbrios regionais, nas perdas continuadas de população no interior e em parte do litoral e Algarve, a par do reforço da metropolização (sendo que, ao longo da década, apenas a AML regista uma evolução demográfica positiva).
Apesar das dinâmicas recentes, de unipolarização (AML) e de declínio da rede de cidades médias, que importa não desvalorizar, a fratura entre litoral e interior continua a ser o traço mais saliente dos desequilíbrios regionais à escala do continente. A consciência dessa fratura foi-se aliás tornando cada vez maior, alimentando sucessivas proclamações de «combate à interioridade», a par da adoção de medidas na maior parte dos casos superficiais ou avulsas que, não há como não o reconhecer, não conseguiram até hoje inverter a situação. Bem pelo contrário, como demonstra a evolução nos quase últimos vinte anos, a mais recente década foi, deste ponto de vista, uma década perdida.
três anos à míngua de chuva no alentejo e algarve a continuar esta tendència e com o envelhecimento acentuado da população alentejana é provável que em 2020-2029 tenhamos quadros iguais e de resto como revitalizar as cidades ditas médias se nelas se foram apagando as indústrias e restando só serviços e pouco mais
ResponderEliminarAcho que isso desvaloriza um pouco aquilo que, como reconhecido pelos nossos dois responsáveis oficiais do 10 de Junho, é uma das nossas principais exportações, e por objectivo.
ResponderEliminarSendo assim, presume-se que o esvaziamento do interior também será desígnio nacional para pessoas sérias e responsáveis.
Portugal está a MORRER!
ResponderEliminarSó para alertar de um lapso no título nas figuras: A divisão territorial que os mapas apresentam são as NUTS III e não as NUTS II.
ResponderEliminarUma oportuna análise,aos dados mais recentes da evolução demográfica, em Portugal,que identifica uma concentração populacional a Zona Metropolitana de Lisboa,como segunda etapa de uma progressiva litoralização dos movimentos migratórios internos.É uma perspectiva interessante que corresponde ao movimento geral,em vários países e geografias diversas que,apenas,confirma a megalopolização que é um dos aspectos fundamentais da concentração humana que persistirá durante todo este século.Para além disso,seria interessante concluir a análise com a caracterização de origem e ponderação dos movimentos migratórios,exógenos,no mesmo período da análise que é apresentada.
ResponderEliminarCaro Ricardo Proença, agradeço-lhe a sua atenção e o alerta. Tem toda a razão, trata-se das NUT III e não NUT II, pelo que já corrigi os títulos das figuras. Muito obrigado!
ResponderEliminarO humor de Paulo Marques, a atenção de Ricardo Proença, o rigor de José Cruz.
ResponderEliminarApetece de facto mais olhares atentos sobre o nosso tecido populacional e sua distribuição no território nacional
Relembrar apenas que a política deliberada de encerrar escolas, hospitais,centros de saúde, repartições de finanças, freguesias, tribunais, estações de CTT, com os olhos postos nas ordens austeritárias e no planeamento de acordo com o modelo neoliberal, também aqui mostram os seus resultados
Passos Coelho gabava-se dois anos depois de ter assumido o cargo de ter fechado quase dois mil serviços públicos
Também mandava emigrar, repetindo as pisadas do outro
(Do "força força" e do "silva" nem vale a pena comentar. Apenas o aonio eliphis pimentel ferreira a querer passar-se por coisa séria)
ResponderEliminarCom o aquecimento global significativo provavel num horizonte de 20-30 anos e projeccoes prevendo grande aumento de temperaturas no interior da peninsula iberica, nao sera inevitavel ou ate desejavel progressivo movimento da populacao do interior para o litoral?
ResponderEliminarQuais as desvantagens do despovoamento do interior? Num mundo super-povoado, havera vantagens em concentrar populacoes humanas e promover "re-wilding" das poucas areas recem-despovoadas?
Um re-wilding cheio de certezas quanto ao futuro e cheio de anátemas contra os humanos. Aqueles que habitam as paisagens do seu próprio país
ResponderEliminarConhecemos o género. Não se sabe é se ainda falará em português ou se apenas em inglês ou holandês. Como o próprio dirá, será inevitável, até desejável
https://www.publico.pt/2019/09/16/infografia/alteracoes-climaticas-ja-mudou-chegar-341
ResponderEliminarMuito longe de ser especialista no tema, parece-me um exercicio inconsequente discutir despovoamento do interior sem ter em linha de conta impacto previsto de mudancas climaticas, incluindo acesso a agua durante verao, ondas de calor & necessidade de adaptar casas / gastar energia em arrefecimento. 30 anos e amanha
PODE nao ser sustentavel a medio prazo manter actual numero de habitantes no interior.
Sendo provocatorio: valeria a pena analisar felicidade e marcadores de bem estar no interior vs no litoral e perguntar aos respectivos habitantes onde prefeririam viver e porque… talvez quem saiu do interior esteja mais feliz e a viver melhor no litoral? e assim for, qual e o problema???
Tambem nao vejo qualquer problema em haver um crescente numero de ingleses e holandeses a viver no interior - pelo contrario.
O "Tiago" quer holandeses a viver no interior
ResponderEliminarTerá feito algum "negócio" com aquele ministro holandês de que é adepto?
Anda a fazer permuta de terrenos ou a vender o país como qualquer neoliberal em processo de reciclagem à segunda derivada?
O pior é que para estas fitas do joão pimentel ferreira a aparecer assim pela calada já se deu o suficiente.
Desqualificado por batota. Não são mais viáveis as aldrabices dos amanhãs, perdão, das manhas do JPF